sexta-feira, novembro 05, 2010

Beber, cair, levantar



Isso é tão, tão, tão verdadeiro. O tempo é mesmo uma coisa mágica, se tivermos paciência para esperar que ele passe. Lava e desinfeta tudo melhor que lysoform.

Às vezes eu me olho no espelho e me estranho, levo um susto com aquela pessoa que desconheço (em parte porque estou gorda), que pensa e age de um modo totalmente novo. Daí fico com medo e tento me encaixar na pessoa que eu já fui, que eu conheço bem. E simplesmente não encaixo.

E então começo a pensar nas pessoas que faziam parte de mim, que eram minha órbita e meu porto seguro. Sem elas, eu achava que ficaria sem ar, sem rumo, sem lenço nem documento e sem as quais eu jamais conseguiria viver. Elas se foram e eu continuei respirando. Verdade que perdi o rumo, arrebentei a cabeça, arrebentei os dedos de tanto dar murro em ponta de faca, arrebentei principalmente o coração e fiquei bem pertinho de morrer. Mas nem morri, ó.

Dormi, acordei, dormi de novo e daí um dia tinha passado. De um jeito tão absoluto e definitivo que chega a ser cruel. Não como se nunca tivesse existido, isso é balela. Felizmente nada que fez parte de nós some como se nunca tivesse existido. Sumiu levando embora toda a dor, desespero e angústia e me deixou diferente. Com coragem suficiente para admitir que é tão melhor assim como é hoje.

Levei o maior susto do mundo quando me dei conta de que todas aquelas fotos, presentes e cartas não me diziam absolutamente mais nada. Pareciam pertencer a outra pessoa - e acho que pertenciam mesmo, aquela eu de cinco, dez anos atrás. Assustei também com o quanto foi fácil jogar tudo fora junto com as roupas que não servem mais.

No fim das contas acho que é isso mesmo, né? A vida é igualzinha um guarda-roupa. Se a gente não admite que aquelas roupas às quais temos o maior apego estão feias, puídas ou não servem mais, não consegue nunca espaço pras roupas novas, lindas e ricas.