Oi, ainda tem alguém aí ainda??
Eu já tive dezenas de casas. Já perdi a conta de quantas vezes me mudei. Mas, até hoje, nunca tive a MINHA casa. Foi sempre a casa onde eu morava com outras pessoas – pais, namorados, amigos. E foi bom, sempre. Mas sempre existiram coisas que eu não podia fazer, por causa das regras de convívio.
E sempre existiu um predinho de tijolos
Daí a vida deu lá suas cambalhotas e lá fui eu procurar apartamento de novo. Pela internet, com toda a descrença que eu tenho nesse serviço. Achei três e liguei mal-humorada, já esperando ouvir o monótono “já foi alugado”, tão comum nos anúncios online lá
Numa manhã senegalesa de sábado, calcei meus tênis e fui lá examinar pisos, encanamentos e carpetes – coisas nas quais já estou craque, de tanto que fiz ultimamente. O primeiro deles era na rua do predinho. Fui andando, a numeração baixando e o predinho se aproximando. Passei diante do predinho e nem conferi o número, mas no prédio seguinte a numeração já era maior. Mas heim? Voltei, olhei pro outro lado da rua e pro prédio vizinho à esquerda. Mas nunca para o predinho.
Daí o corretor me encontrou. “Tá perdida?” e foi entrando no meu predinho. Eu fiquei parada na calçada, até ele chamar, esperando o Sergio Malandro sair de trás da banca de jornal e dizer “Rá” e dar um chute nos meus sonhos destruídos.
Não só ele não saiu como o predinho cabia no meu orçamento e tinha uma sacada gigantesca, cheia de sol, e armários embutidos e um chão bem fácil de limpar. Ainda assim, havia toda a burocracia pela frente, documentos para aprovar, fiador para aceitar... Uma infinidade de coisas que poderiam dar errado. Guardei meus sonhos saltitantes no fundo do peito e dei entrada no processo.
Quatro dias depois estava com tudo aprovado e o corretor me cobrando pra ir buscar as chaves do MEU PREDINHO. Isso foi ontem. Até agora estou meio em choque, sem entender direito que conjuntura astral fez isso com a minha sorte e encheu meu copo de suco de morango. Hoje vou tomar um porre e abraçar meus amigos e dizer que considero-os pra caralho e chorar de alegria pra ver se cai a ficha.
Mas acho que é normal. Eu não estou acostumada com a felicidade e ela se parece um pouco com um sapato novo que se usa pela primeira vez, parece que não cabe direito. Além disso, não é todo dia que a fada madrinha aparece assim e realiza o sonho da irmã má da Cinderela. Mas assim que o sapato lacear e eu aceitar que a carruagem não virará abóbora, darei um festão pra vocês todos verem que meu predinho é mesmo lindo. \o/