quarta-feira, março 30, 2011

Novelão

Minha terapeuta vive constantemente me lembrando que a vida não é feita de extremos. Que entre o "amo" e o "odeio", existe o gosto, o tolero, o convivo, o ignoro... Que eu preciso deixar o termometro mais no morno se quiser viver em paz. Constantemente, porque toda semana eu chego amando ou odiando algo ou alguém. É muito, muito, muito difícil pra mim conviver com o ok. Parece que falta tanto quando algo é apenas na média, como diz o amado Eric (e eu bem sei que quando ele diz que algo foi "na média", foi porque ele detestou).

Eu não sei viver longe dos extremos, eu gosto demais dos extremos. Se é pra amar, é pra amar inteiro, se é pra ser amigo, é ser amigo até quando o outro está bebado, chorando, cuspindo e ameaçando tirar a calcinha na boate, e se é pra odiar, é pra ficar louca de ódio e não medir esforços até acabar com a sua vida e reputação. Eu amo e odeio feito louca, e isso não é bom pra quem convive comigo e muito menos pra mim.

Amor desmedido é um prato cheio pra decepção. A gente espera uma reciprocidade que nem sempre vem, fantasia, fica viciado em tanto sentimento. Não dura, expõe a alma a todos os ferimentos mais feios. Dói além da conta. Ódio demais faz a gente agir feito criança - e ser tratada como tal. A gente age achando que está fazendo a Nazaré Tedesco, mas quando a loucura passa, percebemos que pagamos de Tonho da Lua e todo o povo agora nos olha com pena. Ressaca moral nervosa.

É difícil tentar domar esse cavalo doido, porque eu gosto dele assim, livre. Mas ele vive me derrubando e não é assim que deve ser a nossa convivência. Aprecio demais sentir todas as coisas com tanta intensidade, as boas e as ruins, não quero ser diferente. Não posso.

Me falta talvez a malandragem de prever onde estou me enfiando, para que, a cada vez que a dor e a delícia de ser assim chegarem, eu não me sinta ultrajada, enganada e decepcionada comigo. Para lidar com as consequências. Mas é como ela diz, um passinho de cada vez. Uma hora, quem sabe, eu consigo migrar para o núcleo dos mocinhos centrados, equilibrados e maduros das novelas.

terça-feira, março 29, 2011

Eu tinha uma ideia para este post, mas me perdi

Esta semana eu decidi parar de fumar.

Resolvi colocar desta forma porque é muito mais impactante, mas na verdade eu decidi consultar um médico para avaliar as opções que tenho para me ajudar a parar de fumar. O que não quer dizer absolutamente nada de concreto. Não significa que eu vou mesmo parar, nem mesmo que eu vá continuar com vontade de parar de fumar. Vou só avaliar se o sofrimento vai ser muito ou pouco. Eu já tinha tomado essa decisão desde o começo do ano, na verdade, por um monte de motivos, nenhum deles relacionado a viver mais.

Esta semana teve a boa e velha semana da segurança na firma, quando sempre rolam aquelas palestras manjadas que ensinam que se você quiser viver bastante, não deve fumar, beber, trepar, comer carne ou passar perto de doces. Qualquer uma dessas coisas diminuirá sua expectativa de vida em milhares de anos, destruirá a vida de todos que você ama e provavelmente foi responsável pela extinção dos dinossauros.

A palestra não teve nada a ver com a história de parar de fumar. Na verdade, ela quase me demoveu da ideia, dizendo que não fumantes são tres vezes mais afetados pelo cigarro do que fumantes, e que o cigarro continua fazendo mal ao ex-fumante, mesmo depois de 20 anos sem ele. So, what's the point?

A palestra só me fez pensar na inocência do ser humano em se apegar com tanta força a esse mito de que temos algum controle sobre o viver e o morrer. A gente come verduras, come ração humana, dorme 8 horas religiosamente, faz exercícios, faz sexo seguro, olha para os dois lados antes de atravessar, porque nós precisamos acreditar que quem determina nosso tempo de vida somos nós. Que somos capazes de barganhar com a dona morte. Ou até enganá-la. Que se fizermos tudo certinho, ela vai nos deixar curtir a festa mais um pouco.

Eu não acredito nisso, apesar do José Alencar estar aí me desmentindo. Acho bem mais fácil simplesmente aceitar que ela vem pra todo mundo, e não está nem aí para seus erros ou acertos. Mais cedo ou mais tarde, tanto faz.

Então por que parar de fumar? Por causa dos meus perfumes. Eu tenho uma pequena fortuna em perfumes, minha memória que funciona melhor é a olfativa e o cigarro está se metendo neste delicado relacionamento. Ninguém nunca vai me chamar de linga, ou magrela, ou gostosa, ou genial. Então que pelo menos me chamem de cheirosa.