terça-feira, dezembro 06, 2016

É uma ciranda

Então eu vou ter um bebê. Ele já está quase para nascer e eu ainda não acredito que consegui. Porque eu nunca achei que fosse aceitar o papel de mãe, nunca sonhei com isso. Eu tinha pavor de engravidar. Cresci numa família em que todas as mulheres engravidaram na hora errada, sem querer, e criaram filhos intoxicados por culpas e arrependimentos. Sendo a caçula, cresci ouvindo essas histórias e associando a gravidez ao abrupto fim de tudo que é bom e certo na sua vida. “Filho é a coisa mais linda do mundo, melhor coisa. Mas acaba com a sua vida”. Portanto, pavor.

Mesmo quando a vida melhorou consideravelmente, acabei os estudos, me estabilizei profissionalmente: pavor. Porque filho acaba com tudo, tira sua liberdade, não te deixa dormir. Mesmo quando os hormônios começaram a implorar, tava passando da hora: pavor. Filho acaba com o corpo e tem muito sangue no parto. Eca.

Só que, de repente, a viagem ainda era boa, o barzinho ainda era uma delícia, não ter hora pra voltar casa, nossa, que incrível. Mas. Esse mas começou a ser frequente. Mas, o que mais? Eu estava imensamente feliz e sentia amor em excesso por tudo. Pelo marido, pelos bichos, pelos amigos, pelas plantas, pelo trabalho. Fui ao médico, achei estranho tanto amor. Estava tudo normal, saúde de ferro, psicóloga feliz com meus progressos. Eu parecia não caber mais em mim. E, quando pensava em filhos, ainda sentia pavor, mas era um “pavor, mas”. E se for legal? E se eu quiser? E se eu levar ele junto nas viagens? E se for tudo bem ter um pouco menos de liberdade? Será que consigo? E se eu estragar a criança? E se eu for ruim, impaciente, malvada? E se eu estiver muito cansada? SERÁ QUE EU QUERO? Isso é tão adulto! AI, QUE PAVOR.

Nunca chegou o momento em que eu e o Paulo dissemos: vamos lá, estamos prontíssimos, nascemos pra isso. A gente só começou a sentir menos pavor gradualmente e, um dia, o teste deu positivo. Sem nenhum planejamento ou expectativa, sem sequer falarmos sobre isso. E foi o dia mais bonito da minha vida, juro. Eu tremia da cabeça aos pés, mas sem pavor, só amor. Eu nunca tinha acreditado de verdade que pudesse acontecer comigo. Eu só sabia ser filha.

Depois que a poeira baixou, obviamente que o pavor voltou. E agora? Será que vai doer, será que vai rachar, será que ele tá bem, isso é normal? ISSO É NORMAL?? Pavores de mãe. É uma loucura. Você se vê 20 quilos mais gorda, toda manchada e desajeitada e se achando muito fodona, respondona e dona do mundo. Eu agora me garanto. Só agora, aos 37, eu me garanto nessa vida. E essa sensação é fantástica.


(Ou não, viu? Isso foi o que aconteceu comigo, a minha experiência, mas tudo bem se não for assim com você e você odiar tudo, achar a gravidez um saco, não conseguir amar o bebê assim que o vir. Juro, está tudo bem, vai ficar tudo bem. Não pegue essa sacola de culpa aí, não. Ela não é sua. É uma cilada).

quarta-feira, julho 20, 2016

Que ano é hoje?

Fazia muito, muito, muito tempo que eu sequer pensava nesse cantinho. Nem sabia se ainda estava ativo, se eu ainda sabia a senha. Daí uma amiga querida lembrou dele no último final de semana e me perguntou se eu tinha vergonha dele. Respondi na hora que sim, morria de vergonha. Não do blog, veja, mas da pessoa que eu já fui. Cheia de recalques e opiniões formadas sobre tudo. Do blog nunca, porque conheci tanta, tanta gente linda por aqui. E foi uma válvula de escape tão boa durante tanto tempo...

Mas fato é que ela me lembrou dele. E eu vim aqui ver se ainda conseguia acessar e comecei a ler e reler e nem me achei uma pessoa tão horrível e digna de vergonha. Até gostei um pouco. E me deu vontade de escrever de novo, ainda que blog seja tão 1997.

A verdade é que eu prefiro tanto esse formatinho em que você vem aqui e diz o que pensa e quem quiser, se houver alguém que queira, vem, por livre e espontânea vontade, e lê e opina também. É muito diferente do Facebook, em que o que você escreve é esfregado na cara de centenas de pessoas que você mal conhece, ainda que elas absolutamente não queiram saber NADA sobre você. Não sinto vontade de dizer nada pessoal no Facebook e odeio 80% do que leio lá.

Às vezes sinto falta de colocar os pensamentos no papel, porque isso me obriga a refletir um pouco sobre tudo e levar a vida menos no automático. Não vou mudar pro Medium, talvez não seja capaz de manter uma frequencia de posts, mas acho que vou limpar esse sótão, botar umas cortinas roxas, abrir as janelas e deixar o sol entrar e as ideias saírem.