segunda-feira, março 15, 2010

Liberdade ainda que à tardinha

Dois posts abaixo eu falava da solidão opcional x solidão imposta e alguém me mandou sair do casulo. Que preferir The Sims à vida real não era vida. Só que eu nunca disse que preferia. É só mais uma das muitas coisas que eu gosto de fazer quando estou deliciosamente sozinha.

Assim como cozinhar, ler, ver TV, arrumar gavetas, dormir, falar sozinha, fazer escalda-pés, cuidar das plantas, tomar sol, ficar de bobeira na varanda, amassar o cão, ler bilhetinhos e cartas antigas, escrever e, se eu estiver de muito bom humor, ligar pros poucos e bons. E isso é só o sozinha dentro, porque ainda tem o sozinha fora, que inclui ir ao cinema ver SÓ O QUE EU QUISER, tomar o metrô sem destino, passar horas e horas e horas e mais horas vendo vitrines na Teodoro (em dias pobres) ou na Oscar Freire (em escassos dias ricos), tomar café na padaria, andar na feirinha, ver filhotinhos na Paulista...

Outro dia comentei com uma amiga o quão reconfortante é poder ficar em casa numa sexta-feira à noite simplesmente porque é o que você está a fim de fazer. Sem ter que ir à luta, sem ter que comprovar popularidade para ninguém, sem ter que dar sorrisinhos fingidos enquanto pensa nos seus lençóis macios e cheirosos.

Porque você sabe que existirão muitas outras sextas-feiras (e quintas e quartas e terças, que são bem melhores que sextas) para se jogar na rua, se for essa a vossa vontade. Mas se não for, nunca mais, qual é o problema? Vou fingir estar feliz na rua quando poderia estar feliz de verdade em casa? Não gosto nada dessas obrigações sociais.

E essa é uma parte boa DE VERDADE de já ter passado a etapa djóvem da vida: descobrir que obrigações sociais não são são obrigação coisa nenhuma. Elas só existem na sua cabeça e, sinceramente, não fazem muita diferença a longo prazo. E a minha liberdade de substituir o salto por meias quentinhas e o boteco lotado por um sofá fofinho em uma sexta à noite foi algo que eu conquistei a duras penas e não abro mão por nada nesse mundo. Meu casulo é meu mundo e eu sou uma lagarta muito satisfeita com sua condição, sem a mínima pretensão de virar borboleta.

quarta-feira, março 10, 2010

Quereres

Eu não queria ter olheiras. Eu não queria pesar 12 quilos a mais e parecer a Hillary -cara-de-cavalo-Swank e não ser indiscutivelmente linda. Eu queria ser uma profissional decidida, autoconfiante, poderosa e brilhante. Eu queria me concentrar nas coisas que vou dizer nas apresentações importantes do trabalho, em vez de ficar pensando no sapato que vou usar. Eu queria ser tolerante e compreender que as pessoas tem contextos de vida diferentes e que é por isso que elas falam absurdos, não porque são burras, mal educadas ou incompetentes. Eu queria viajar pro exterior duas vezes por ano. Eu queria sempre acertar na roupa e ter umas ondinhas no cabelo. Eu queria não ter tanta preguiça e ser esportista. Eu queria não ser covardezinha. Eu queria não ser nostálgica nem viver do passado nem ainda ficar de choradeira pelo que não volta mais. Eu queria deixar saudades. Eu queria ter histórias incríveis pra contar. Eu queria ser rosa maravilha e não rosa chá.

E é isso que eu sei. Agora me pergunta comofas, pra ver se não dá tela azul.

sexta-feira, março 05, 2010

Acordei meio Maysa

Para ler com esse botão apertado.

Solidão é bom e eu gosto. Tenho muita preguiça das pessoas, sou intolerante, não gosto de sair e tenho vergonha de quem vai pra "balada". Imagino que o céu seja uma cama enorme e confortável, uma TV de 58 polegadas LCD e um estoque infinito de DVDs. Considero o cachorro a companhia ideal. E olha que ele morde a minha cara e mija na sala.

Só que nem todo dia é assim. Nem todo dia eu tenho certeza que o céu é a solidão.

Eu sou viciada em The Sims e sempre achei muito chato aquela coisa de ter que ficar ligando pras pessoas senão elas deixavam de ser suas amigas e vc não conseguia a promoção. Só que na vida real também é assim né? Você tem que dar atenção pros amigos, senão eles somem mesmo. O André, persitente amigo há mais de 15 anos, diz que ser meu amigo é um exercício de baixa auto-estima. Porque eu esqueço aniversários, passo meses sem telefonar, não retorno ligações, não deixo recados no orkut. E é tudo verdade.

Mas é que nem sempre eu quero estar com pessoas. O que mata é a falta de pessoas com quem estar. E quanto mais o tempo passa, menos pessoas sobram para se estar. Porque elas casam, mudam, morrem, vão embora pra Passárgada ou simplesmente um dia vc se liga que não fala com aquela pessoa há tanto tempo que ela já não é mais sua amiga.

E é claro, tem a família, mas a família também tem sua própria família e seus próprios problemas e me faz pensar ainda mais que eu queria ter a minha própria família e tudo acaba saindo ainda pior.

E você se dá conta que simplesmente não tem pra quem ligar. E é meio foda admitir isso, proque eu sempre tive um milhão de amigos e bem mais forte pude cantar. E não tem muito o que fazer, né? Porque eu não acho que vá fazer novos amigos a essa altura da vida, sendo o ser tão sociável que sou, muito menos constituir uma família, sendo o ser tão traumatizado que sou. Talvez eu compre um papagaio, talvez eu adquira uma conta no Par Perfeito, talvez eu abrace uma causa.

Mas o mais provável é que eu não faça nada e vá jogar The Sims. Lá as coisas são bem mais fáceis de resolver.