terça-feira, dezembro 28, 2010

Melhor de todos

Acabou mais uma década né? E eu simplesmente não consigo chegar nessa época do ano sem fazer aquela retrospectivinha do Faustão. Mas esse ano está tão difícil. Coube uma década inteirinha em 2010, me parece. Tô vendo todo mundo reclamando do ano e eu fico Q? Porque 2010 foi um divisor de águas tão grande na minha vida, da água de merda pra água Perrier basicamente.

Arrumei o emprego dos meus sonhos (que na prática não tem nada de sonho, e por isso eu amo mais ainda), tive filhos, me comprometi de verdade, me apaixonei de novo pela mesma pessoa, fiquei loura, aprendi a me equilibrar confortavelmente em um salto 15, caguei pro Dunga, aprendi a coreô de Bad Romance, empacotei oitenta quilos de culpa e joguei pra Iemanjá, conheci a Vera (aka a melhor analista do mundo), me tornei uma cozinheira espetacular, fiz um monte de novos amigos e nenhum inimigo, virei noite trabalhando e morri de orgulho de mim mesma e dos caléga pelo que nós conseguimos fazer, aprendi a gostar de ficar sozinha, não stalkeei absolutamente ninguém, esqueci de votar, vi o Mika de pertinho e quase tive um AVC, dei abracinhos reais em uma porção de amigos virtuais, fui pra Paris, engordei 6 kg e ainda assim estou me sentindo leve como a pena mais felpuda do menor passarinho.

Não me lembro de nenhum outro ano, antes ou depois de calçar as botas pesadíssimas, em que tenha me sentido tão em paz comigo, nem que tenha feito tantos planos nem que tenha realizado outros tantos.

É claro que não foi um mar de rosas. Teve uma bela porção de tristezas, complexos e raivinhas de diversos tipos. Noites insones, nuvens de lágrimas, zumbis e pontes desmoronantes, vadias puxadoras de tapete, fofocas, rugas, cabelos brancos, casa alagada, tudo isso teve. Apenas não prendeu minha atenção tanto quanto costumava prender. Veio, encheu o saco e passou sem deixar vestígios.

E ainda sobrou tempo pra papear com um monte de gente fofa por aqui. Por isso o meu desejo pra vocês e pra mim é que os nossos próximos anos sejam todos como foi o meu 2010. Lindo, leve e solto.

Um beijo e até o ano que vem. Talvez.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Minhas colegas de auditório

Faz muito, muito tempo mesmo que eu queria escrever esse post, mas sempre pensava no tanto de justificativas que eu poderia vir a ter que dar, nas possíveis aporrinhações que iria sofrer e sempre optava por evitar a fadiga. Daí que hoje eu tive um dia especialmente difícil, que confirmou todas as minhas terríveis teorias e me fez decidir pelo desabafo.

Eu detesto trabalhar com mulher. Pronto, falei. Detesto com cerebro, corpo, alma e vísceras. E antes de explicar por que eu já explico que sei que as excessões é que são a regra. Quem mais me ensinou nessa vidinha corporativa foi uma mulher, uma que é o oposto de tudo isso que vou dizer. Só que esse perfilzinho escroto das próximas linhas é uma minoria tão, tão, tão chata que me fez pegar esse nojinho generalista horroroso.

Como diria o poeta, já tive mulheres de todas as cores, mulheres vulgares e muitos dissabores. O que vi em algumas delas foram coisas que ajudam a perpetuar essa merda de mercado de trabalho que não dá cargo de confiança pra mulher, que dificulta o crescimento na carreira e que dá salários 20% menores pra quem tem periquitinha.

Mulheres que choram no meio de um esporro ou de um simples feedback do chefe; que acham que tudo que se diz é uma agressão direta à pessoa delas e não um comentário sobre o resultado do trabalho, que pode, sim, estar ruim; que usam a TPM como desculpa para fazer serviço porco ou tratar mal aos outros.

Há também as mulheres que não sabem cobrar o que precisa ser cobrado por medo de que as pessoas gostem menos delas, mulheres que não sabem falar com objetividade o que querem, preferem fazer fofoca com um terceiro do que falar diretamente com quem a incomoda, que são muito vaidosas para admitirem que não entenderam alguma coisa. E o pior de tudo: mulheres que esquecem da ética quando se sentem ameaçadas - e se sentem ameaçadas o tempo todo.

E quando isso acontece, a coisa fica muito feia. Vai desde simples comentários para diminuir as colegas ("Fiquei preocupada com vc, ficar calada daquele jeito em uma reunião tão importante, todo mundo percebeu e comentou. Ce tá bem, ameega?") até boicotar o trabalho dos outros ou inventar coisas que podem comprometer de verdade as pessoas. E essas não são coisas que eu acho que acontecem. São coisas que eu vi acontecerem, comigo ou com amigos, infelizmente sempre vindas de mulheres. Homens não são santos, longe disso, mas as coisas que eu acho mais desprezíveis, por azar ou por padrão, vieram delas.

E daí eu criei esse pavor, esse preconceito que me incomoda demais. Mas, ainda que de vez em quando uma praga dessas mostre as garras, o preconceito está se tornando cada vez mais bobo na minha cabeça. Porque quando coloco na balança, encontro muito mais meninas incríveis do que bruxas más. E aí meu coração serena e me dá ânimo pra vestir o terninho no dia seguinte e ir pra luta, de unhas pintadas e luvas de boxe.

Por isso, a todas vocês que passam muito longe desse nojinho todo, perdão.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Musa do Ticem

Você acorda assoviante e bem humorada. Usa seu xampu mais caro, passa fluído extra brilho nos cabelos, hidrata a pele, hidrata o rosto, mergulha numa nuvem de perfume francês, veste seu casaco azul cobalto, seu sapato de plástico imitando crocodilo, o colar de contas enormes, passa o rímel extra alongador com efeito cílios postiços e o blush suavemente rosado. Sai de casa saltitante, repetindo para si mesma: eu sou diva!

E tudo isso pra quê? Pra ficar 40 minutos na porra do ponto, sem conseguir entrar em nenhum ônibus porque todos vem tão abarrotados que tudo o que vc vê lá dentro são centenas de bundas esmagadas contra as janelas. Quando vc finalmente entra, a primeira cotovelada bagunça o cabelo, a segunda derrete o blush e a terceira arrebenta o colar, enquanto a suvaqueira e todo aquele bafinho matinal juntos derrotam o perfume.

Eike Batista, me adota já. Eu não caibo em tanta pobreza.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Beber, cair, levantar



Isso é tão, tão, tão verdadeiro. O tempo é mesmo uma coisa mágica, se tivermos paciência para esperar que ele passe. Lava e desinfeta tudo melhor que lysoform.

Às vezes eu me olho no espelho e me estranho, levo um susto com aquela pessoa que desconheço (em parte porque estou gorda), que pensa e age de um modo totalmente novo. Daí fico com medo e tento me encaixar na pessoa que eu já fui, que eu conheço bem. E simplesmente não encaixo.

E então começo a pensar nas pessoas que faziam parte de mim, que eram minha órbita e meu porto seguro. Sem elas, eu achava que ficaria sem ar, sem rumo, sem lenço nem documento e sem as quais eu jamais conseguiria viver. Elas se foram e eu continuei respirando. Verdade que perdi o rumo, arrebentei a cabeça, arrebentei os dedos de tanto dar murro em ponta de faca, arrebentei principalmente o coração e fiquei bem pertinho de morrer. Mas nem morri, ó.

Dormi, acordei, dormi de novo e daí um dia tinha passado. De um jeito tão absoluto e definitivo que chega a ser cruel. Não como se nunca tivesse existido, isso é balela. Felizmente nada que fez parte de nós some como se nunca tivesse existido. Sumiu levando embora toda a dor, desespero e angústia e me deixou diferente. Com coragem suficiente para admitir que é tão melhor assim como é hoje.

Levei o maior susto do mundo quando me dei conta de que todas aquelas fotos, presentes e cartas não me diziam absolutamente mais nada. Pareciam pertencer a outra pessoa - e acho que pertenciam mesmo, aquela eu de cinco, dez anos atrás. Assustei também com o quanto foi fácil jogar tudo fora junto com as roupas que não servem mais.

No fim das contas acho que é isso mesmo, né? A vida é igualzinha um guarda-roupa. Se a gente não admite que aquelas roupas às quais temos o maior apego estão feias, puídas ou não servem mais, não consegue nunca espaço pras roupas novas, lindas e ricas.

segunda-feira, outubro 25, 2010

Não quero ter um milhão de amigos

Tenho poucos e por razões nada dignas. Sou desorganizada demais para ter um milhão de amigos, não consigo me lembrar das datas de aniversários, perco telefones, falto à encontros, ligo depois de meses para colocar a conversa em dia. Não é que falte consideração, o que falta mesmo é memória. Mas há que se ter uma paciência de Jó, eu sei, e agradeço aos que tem.

Fora isso, acho que também exijo demais, para alguém que nem parabéns não dá. E o que eu exijo é tão esquisito que nem sei se existe uma palavra para definir. Não são telefonemas, nem visitas, nem presentes, nem excesso de atenção, nem dinheiro e nem favores - embora todas essas gentilezas sejam ótimas, não são suficientes para transformar ninguém em meu amigo.

Vejo alguns dos meus melhores amigos uma vez por ano e sei que eles nunca deixarão de sê-lo. Sei que há carinho de verdade ali naquele relacionamento, sei que quando estamos juntos é porque gostamos muito mesmo da companhia uns dos outros.

Não existe nenhuma cobrança. É leve e gostoso justamente porque há a segurança do gostar. Quando podemos - e queremos - nos encontramos, rimos, choramos, nos abraçamos. Quando não, sentimos saudades, seguros de fazermos parte da vida alheia, ainda que de vez em quando ou ainda que a continentes de distância.

É uma coisa que parece tão simples, mas tem se mostrado tãotãotão complicada, isso de gostar e ser amigo de verdade, no fácil e no difícil, naquilo que fica muito abaixo do superficial.

Eu já estou bem escaldada para saber que há três ou quatro amigos verdadeiros e há aqueles de passagem. Os de mesa de bar, os de viagens, os de trabalho, os que só te procuram quando precisam arrumar trabalho, os da internet, os que dão risada, os de carona, os que te adoram quando vocês está bem... Que são muito bons, também, distraem e fazem rir. Só não podem ser confundidos com os verdadeiros, os "na alegria e na tristeza".

Mas confesso que às vezes eu ainda erro na conta. Coloco a pessoa no hall dos verdadeiros, passo a tratar como trato aqueles, confio cegamente e daí caio das nuvens. Tenho que catar os cacos enquanto me dou conta de que não era pra tanto. "Somos amigos, mas desde que", é como se eu ouvisse o outro dizer. É ruim, é azedo e faz eu me sentir uma idiota por ter dedicado sentimentos e tempo. Mas também é bom, me torno menos afoita e mais criteriosa a cada vez.

A estes, vou continuar dedicando sorrisos, piadas, emails e talvez até telefonemas, vida que segue por cima do verniz. Aos outros quatro ou cinco que fincaram raízes, dedico meu esquecimento de datas e o maior amor do mundo que não diminui nunca.

terça-feira, outubro 19, 2010

Juliet, naked

Sexta à noite: Compro Juliet, Naked, depois de um longo jejum de livros.
Sábado de manhã: olho pra Juliet, Naked com desconfiança, pois detestei Uma longa queda
Sábado, pouquinho mais tarde da manhã: carrego Juliet, naked pro quintal. Vou fumar um cigarro e decido dar uma passadinha de olho
Sábado, meio dia: Estou no terceiro capítulo de Juliet, Naked, sem nem pensar em parar.
Sábado à tardinha: Estou delirando, querendo saber onde todos aqueles fodidos vão parar. O namorado ameaça me dar o bilhete azul se eu não lhe der atenção, o cão ameaça engolir o próprio rabo se eu não lhe der atenção, os gatos não ligam nem um pouco se eu lhes dou atenção ou não. Não consigo atender a nenhum deles, pois estou hipnotizada por Nick Hornby.
Sábado de madrugada: Leio a última linha de Juliet, Naked e fico puta da cara porque não entendi o final.

Desde domingo que estou com cara de bolinha, tentando achar uma resposta cartesiana. Nunca me dei bem com finais interpretativos. Por favor, me expliquem, por favor, eu preciso de algo um pouco mais preto no branco do que aquilo, porque não estou conseguindo absolutamente me concentrar em Orgulho e Preconceito e Zumbis.

segunda-feira, outubro 11, 2010

With you I'm born again

When we say things like 'People don't change', it drives scientists crazy. Because change is literally the only constant in all of science. Energy, matter -- it's always changing. Morphing. Merging. Growing. Dying. It's the way people try not to change that's unnatural. The way way we cling to what things were. Instead of letting them be what they are. The way we cling to old memories instead of forming new ones. The way we insist on believing, despite every scientific indication, that anything in this lifetime is permanent. Change is constant. how we experience change, that's up to us. It can feel like death. Or it can feel like a second chance at life. If we open our fingers, loosen our grips, go with it -- it can feel like pure adrenaline. Like at any moment, we can have another chance at life. Like at any moment, we can be born all over again.

quarta-feira, setembro 29, 2010

Só mais uma

Esqueci de contar que eu voltei sozinha de Paris porque o salafrário do meu namorado tinha mais dias de folga do que eu e foi bem rodar a luz vermelha de Amsterdam sozinho. Recalques à parte, segue uma história que merece ser compartilhada. Antes, explico que, quando no estrangeiro, adotamos a tática Consuela de comunicação pois, do contrário, eu dou esmolas mais caras que nosso almoço, ou todo o meu maço de cigarros ou compro água amarela porque sou uma idiota com peninha. Daí que Paulo saiu apenas duas vezes do hostel e, em uma delas, foi abordado por um malaco em Amsterdam. Deu-se o seguinte:

- do you speak english?
- no no no no no
- how do you not speak english? even indians speak english here!
- no no no no, sorry, no no no no
- cock sucker

Amo tanto os castigos do universo que nem sei explicar

Embasbacada

Essa é a única palavra que eu tenho pra descrever os seis últimos dias, passados lá na cidade luz. Pela primeira vez na vida, não senti nenhuma saudade de casa nem alegriazinha de voltar, pelo contrário, chorei quase o voo inteiro e o taxista teve que me arrastar pra dentro do taxi, porque eu não queria entrar, não queria ir embora nunca mais.

Engraçado isso, porque eu nunca pirei em Paris. Queria conhecer, achava que devia ser bonita e tals, mas não era o grande o sonho da minha vida. Todo mundo dizia que era sujo, perigoso, que os parisienses eram grosseiros. E daí eu descobri que é tudo mentira de brasileiro invejoso - ou talvez eu seja a turista mais sortuda do mundo. Ninguém foi grosseiro comigo em nenhum momento, nem sequer mais ou menos mal educado. E olha que eu falei com um monte de gente e eu não falo nada de francês além de bonjour. Me deram sempre informações com a maior paciência do mundo, me atenderam sempre sorrindo, me perguntaram como se dizia um monte de coisas em português. No final, achei o povo bem parecido com os paulistanos: não ficam mostrando os dentes por qualquer coisa, mas são uma doçura se vc precisa deles.

Quase não fui a museus, pois passamos a maior parte do tempo esquecendo o guia e nos perdendo pelas ruazinhas e cafés e foi daí que surgiu meu encantamento e meu desejo de ficar ali para sempre. É claro que a cidade é linda, toda meio amarelada, com aqueles monumentos e prédios históricos de tirar o fôlego e a Torre é uma coisa embasbacante e etc. Mas não foi isso que me conquistou. Foram as pessoas sentadas nos cafés por hoooooooooras a fio jogando conversa fora. Foi olhar pra cima e ver a moça de cabelos curtinhos na janela tomando seu vinho e fumando seu cigarro. Foi o fato de todo mundo fumar e de todos os lugares terem um reservadinho pra nós. Foi tomar vinho no almoço e no jantar. Foi essa coisa deles com gatos. Foram as senhorinhas judias passeando com seus cachorrinhos. Foi não ver NENHUM cocô de cachorro na rua (em compensação, tinha um cocô de gente no metrô). Foi o vento gelado na cara, que chegava a arrancar lágrimas de tão gelado, debaixo do sol. Foi a falta de ladeiras e arranha-céus e o excesso de flores e livrarias. Foram os queijos e mais queijos a 1,4 euros no supermercado e o cheiro bom da rua das lojas de departamentos...

Acho que voltei meio diferente dessa vez, mais do que das outras - e a melhor coisa de viajar é poder trazer sua bagagem interior, que é o que te deixa diferente, não é? Com vontade de ter menos pressa, de admirar mais a qualidade do que a quantidade das experiências e com algumas certezas para os planos futuros. Mas essas serão outra história.

terça-feira, setembro 14, 2010

Minhas visitas

Melancolia, angustia e solidão. Três palavrinhas que podem parecer assustadoras, mas que, para mim, são mais familiares e confortáveis do que euforia, sucesso e tranqüilidade, por exemplo. Convivo com elas desde sempre. Provavelmente eu devia ser um bebê chorão, que sofria de transtorno de ansiedade quando chegava perto da hora da mamada.

Estou lá quieta no meu canto achando a vida linda, tudo caminhando como meu plano diz que devia caminhar quando de repente... “Toc, toc”/ “Quem é?”/ “É seu monstrinho interior, queriiiiiiiiiida”. Ele fala assim, com essa vozinha irritante, forçando intimidades. E nem adianta eu bater a porta na cara dele, dizer que não tem pão velho, dizer que tô cheia de roupa pra lavar. Ele entra assim mesmo, senta ali no meio da sala, acende um cigarro e começa a falar sem parar.

Depois de tantos anos, já desisti de brigar com ele e mandá-lo embora. Deixo-o ficar, dizer a que veio e esperar que acabe seu serviço pra que eu possa voltar a viver. Mesmo que eu não saiba por que ele veio nem quando vai embora.
Antes eu achava que quando conseguisse fazer as coisas do jeito que eu achava que elas deviam ser, ele sumiria. Pffffffffffffff. Ele me explicou que não adianta nada eu:

- ter o relacionamento dos meus sonhos
- estar feliz por ter a minha casa tão linda
- gostar muito, muito, muito do meu trabalho
- estar segura da minha capacidade
- ter bons amigos
- fazer todas as viagens que sempre quis
- aprender a baixar seriados

E tudo o mais que eu possa enquadrar na moldura da “vida como deve ser”. Eu continuarei acordando, às vezes, com aquela opressão sem motivo em algum lugar entre o peito e a garganta. Haverá dias em que será muito difícil sair da cama, por melhores que sejam as promessas. Em outros, eu acordarei com a certeza de que morrerei absolutamente solitária, sem amigos, amores ou familiares pra tocar “Deixe-me ir” em meu funeral ou acreditando que toda a humanidade é ruim e que viver é um purgatório.

Isso pode durar semanas ou algumas horinhas apenas. Será ruim e amargo e eu ficarei sentada diante da TV fumando muitos cigarros e suspirando sem vontade de viver. E então... “Toc, toc”/“Ai, saco, quem é?”/ “É a esperança, sua linda”. E ela vai entrar toda de vestido florido amarelo, ao som de “Walking on Sunshine”, abanando a fumaça da sala e levando todo mundo pra dançar.

Não me apavoro mais. Aproveito essas visitas, quando elas vêm, ouço o que elas tem a dizer. Nenhuma delas é tão monstruosa quanto parece, nem tão radiante quando você imagina. São só visitas e o que me resta é lhes oferecer cafezinhos.

quinta-feira, setembro 09, 2010

VDM

Coisas que eu não fiz hoje, mas gostaria de ter feito:

Xixi
Escovar os dentes
Respirar normalmente, sem hiperventilar
Chorar no banheiro
Comer tufos de cabelos
Comer uma barra de 500g de chocolate
Mandar umas oito pessoas à casa do caralho
Beber água
Beber àgua com açúcar

Mais um dia, mais uma vitória.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Zoo

Ter um cão é:



Se sentir a criatura mais importante de todo o universo toda vez que entra em casa
Passar muito mais tempo avaliando a qualidade nutricional de bifinhos do que da sua própria comida
Levar mordidas, patadas e lambidas na cara no meio da noite
Falar com voz de bebê feito uma retardada
Enfrentar chuva, frio, preguiça e TPM para levá-lo passear
Se sentir extremamente protetor
Se sentir extremamente protegido
Gastar metade do salário em brinquedos (dos quais ele vai enjoar em meia hora)
Seus programas preferidos serem o do Dr. Pet e "Ou eu ou o cachorro"
Deixar a televisão ligada quando sai de casa
Recusar programas com os amigos porque o cão fez olhinhos pidões
Dormir abraçadinho e acordar com a boca cheia de pelos
Perder a hora de manhã porque ele ficou muito fofinho na cama e vc teve dó de desacomodá-lo
Dividir sua comida. Sempre

Ter um gato é:



Aprender a lidar com o desprezo
Ganhar o dia só por levar um cheirinho ou uma lambida
Levantar no meio da madrugada pra espirrar água na gata que resolve cantar óperas às 3h da manhã
Passar horas no supermercado pensando se ele vai gostar mais do sabor cordeiro ou do sabor atum da noruega
Chegar em casa e ele não gostar de nenhum dos dois, pois prefere a sua comida
Gastar uma fortuna num brinquedo cheio de rampas, arranhadores e túneis e ele preferir uma caixa de supermercado
Acordar com a cabeça muito quentinha porque tem um chapéu de gato dormindo nela
Ficar viciado em rom-rom
Falar com voz de bebê feito uma retardada e saber que ele te acha uma retardada
Pisar de leve para não amassar nenhum rabo
Guardar todos os papéis que iriam pro lixo para transformar em bolinhas
Ter todas as roupas customizadas por pêlos

Ter bichos é:
Esquecer como se fica triste.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Sofro, viu?

Eu não sou uma pessoa organizada com minhas finanças. Absolutamente. Adoro comprar, tenho compulsão e estou sempre correndo atrás das dívidas do cartão de crédito. Antes eu achava que o universo era injusto, que eu fazia tudo certinho e nunca sobrava dinheiro porque eu ganhava mal e tudo era caro. Se eu ganhava aumento, o aluguel também aumentava, por exemplo. Mas eu sempre esquecia de botar os sapatinhos, as bolsinhas e os vestidinhos do mês na conta.

Então é isso, aceite que eu gosto de gastar, da mesma forma que eu gosto de fumar e de beber. São todas coisas que me fazem mal e vão me cobrar com juros um dia, mas sem as quais eu perco o humor. Então eu vou me dando um prazo pra me livrar delas - ou pelo menos diminuir nosso convívio.

Depois dos apuros do ano passado, naquele episódio em que amigos do blog me ofereceram dinheiros (que eu não aceitei) e reforçaram minha fé na humanidade, eu decidi pelo menos tentar controlar o monstro da compulsão. Apesar de continuar arregalando os olhos, suando frio e comendo as 10 unhas da mão de uma só vez cada vez que eu vejo um sapato incrível, já consigo manter a carteira fechada em 50% das vezes.

Hoje eu descobri o site no qual eu poderia comprar minhas roupas pelos próximos 10 anos sem enjoar nem ficar triste. Todo tipo de roupas, sapatos, bolsas, objetos de decoração e trililiques para o cabelo com os quais eu sempre sonhei estão lá. Todos, do jeito que eu sempre quis. Em dólar, mas muitas vezes mais baratos que os daqui. Entregam no Brasil. E ainda assim, eu NÃO COMPREI NADA.

Me senti vitoriosa, madura e em paz. Por 10 minutos. Depois me senti frustrada, depois feia, depois extremamente mal vestida e, por fim, pobre e injustiçada. De que me adianta trabalhar TANTO se eu não posso ter um reles vestidinho de pinup? Eu sei que a culpa é minha mesmo, que se não fosse uma gastadeira louca compulsiva já poderia ter uma bela poupança e pagar minhas coisas todas à vista e ter quantos vestidinhos de pinup eu quisesse e morar numa casa baaaaaaaaarrrrrrrrrrrco e etc.

Então eu decidi IMPRIMIR os vestidos e colar na cabeceira da minha cama. Vou acordar e olhar pra eles todos os dias e pensar: se eu não comprar nada hoje, logo eles serão meus. My precious.

Rezem para que funcione. Senão, daqui um mês eu terei oito vestidos novos e uma conta a qual não serei capaz de pagar. Grata.

ps.: a quem interessar possa, o site é esse aqui: http://www.modcloth.com/store/ModCloth/Womens/Dresses. Cliquem por sua conta e risco.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Coisas que valem a pena

Vira e mexe eu me pergunto por que diabos ainda mantenho este blog. Ele nasceu há 10 anos, quando eu tinha toda uma juventude inocente pela frente, estava apaixonada pelo moço mais errado do mundo e queria mostrar pra ele o que ele estava perdendo. Também ia no churras da facul e dançaria "I gotta a feeling" com os olhos fechados e os bracinhos pra cima se tal música existisse. O Momento Descontrol nasceu pra que eu pudesse me auto-afirmar e equivalia a um "oi, tô aqui, olha pra mim, me ama!". Não tinha nem comentários, era só eu falando pataquadas sem saber pra quem ou por que.

Felizmente, o tempo passa e hoje eu sou uma senhora de respeito, dona do meu nariz, mãe de três filhinhos (cãozinho, gatinho 1 e gatinho 2), com um corte de cabelo bapho, excelente gosto para sapatos e namorada do moço mais certo do mundo. E ainda consigo passar uma noite inteirinha em cima do salto sem reclamar. O moço mais errado do mundo ficou para trás - e graças ao Orkut eu sei que ele hoje é gordo e careca.

É claro que sou uma senhora de respeito ainda um pouco neurótica, ainda um pouco descontrolada e ainda bastante insegura. Mas já sei a maioria dos por quês e já não preciso mais gritar pro mundo que sô rikah, sô bunita, tô na moda. Também já não sou mais tão bobinha para achar que minhas opiniões são geniais a ponto de interessar pra alguém, tampouco tenho saco de fazer um diarinho da minha vida suuuper interessante. Praticar a escrita, porque eu gosto de escrever? Posso fazer isso e guardar só pra mim. Então, what's the point?

Daí ontem recebi um e-mail de uma pessoa que veio aqui e leu o blog algumas vezes. Foi uma das coisas mais bonitas que alguém já me escreveu - não porque era cheio de elogios nem nada assim. Mas porque essa pessoa dizia que havia passado por tantas coisas parecidas e se identificado com tantas outras e que havia morrido de rir em alguns textos. A parte que eu mais gostei foi:

"Na maioria das vezes você nunca saberá qual foi o sentimento que seu post despertou nas pessoas, são anônimos, você pode até quantificar, mas não saberá o que despertou em cada leitor".

Porque é verdade, a gente sai despejando tanta coisa na internet sem nem pensar que tá cheio de gente do outro lado. Gente que pode ficar mexida de alguma forma. Sair daqui mais feliz ou mais triste ou mais indignado. Eu nunca pensei que isso acontecesse, embora eu saia assim dos blogs que leio. E é bem gostoso saber que tem gente que, mesmo cheia de coisa para fazer, tira uns minutinhos para vir aqui e dar atenção para esse monte de besteira.

Então eu acho que, embora o tempo passe e tudo melhore, certas coisas não mudam. Eu mantenho o blog porque eu gosto de conversar. Simples assim.

Wagner, vc me fez ganhar o dia, a semana e o mês inteiro com o seu e-mail. Não mereço mesmo aquilo tudo. Muito obrigada!

sábado, agosto 07, 2010

Help, aplusk

Três palavrinhas pra vcs: dicas de paris. Me mandem tudo: passeios que tem que fazer, passeios que são um engodo, o que e onde comer, o que comprar, que roupa levar. As dicas de quem já foi são muito melhores que as de qualquer guia. E ajudam o tempo a passar mais depressa.

Ajuda eu, gente.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Everybody is gonna love today

A gente fica uma vida inteira se matando pra tentar encontrar a felicidade. Porque a gente tem essa obrigação, né? De ser feliz, de estar de bem com a vida etc. Dá-lhe anos de análise, remédios, casamentos e namoros esquisitos (melhor que ficar só, dizem), compras, chocolates, porres, drogas, tinta no cabelo, cortes de cabelo, massagens, diplomas... Tudo em busca dessa tal felicidade - bicha tímida, vc mal fez um cafuné nela e a safada já saiu correndo e se escondeu de novo.

Pois bem. Tudo besteira. Tudo perda de tempo isso daí. Felicidade mesmo é saber em agosto que vai ter show do Mika em novembro. Vão ser 3 meses de eufórica expectativa que Prozac nenhum jamais me deu e uma razão para viver como nunca tive antes. E uma razão pra continuar vivendo também depois do show, só pra poder aborrecer todo mundo contando como foi.

Quem diz que a idolatria é ridícula não entende nada de felicidade. Esse dois, esse dois, esse dois.

terça-feira, agosto 03, 2010

Lágrimas escassas

Eu queria, de todo o meu coração, ser do tipo que se emociona e chora lendo coisas inteligentes e profundas, como Virginia Woolf ou Silvia Plath. Ou, sei lá, vendo o filme da Bjork, aquele um que é tanta desgraça que todo mundo chora e fica pensando em suicídio depois.

Mas não. Eu sou do tipo que chora no metrô e se emociona e perde o sono por causa de Férias!

Bons tempos aqueles em que eu fazia força pra ser inteligente.

terça-feira, julho 27, 2010

Porta dos desesperados do amor

Sergio Malandro costumava oferecer três portas. Em duas tinham monstros, em uma tinha um prêmio. Eu sempre torcia pra sair o monstro, porque era muito mais engraçado.

E essa é a minha vida amorosa: eu continuo preferindo o monstro. O prêmio é lindo, eu não vejo nenhum defeito nele. É cobiçado, caro, cheiroso, rikoh (no caso da minha vida amorosa, rikoh jamais existiu, mas vamos relevar). O prêmio era tudo que as crianças (ou as moçoilas) queriam. Daí elas ganhavam o prêmio, brincavam por uma semana e pimba! Na semana seguinte já estavam de saco cheio dele, de olho em um novo prêmio, que também era caro, lindo, cheiroso e rikoh. O prêmio sempre me entediou soberbamente.

Mas poxa, o monstro é MUITO mais engraçado, provoca sobressaltos, é marcante. Ok, vc fica pensando "porra, tirei o monstro, que diabos eu vou fazer com esse monstro?". Mas fazer o que? Você tirou o monstro e tem que conviver com ele. No começo é insuportável, ele fica grunhindo, te dando sustos, te fazendo chorar na frente das outras criancinhas. Não é certo, não é o que a sociedade espera de você. Simplesmente não era isso que você tinha sonhado pra sua porta dos desesperados!!!

Daí vc repara que o cabelo e a roupa do monstro são muito mais engraçados do que assustadores. Que o monstro tem um papo que não se encontra por aí em nenhum prêmio. Nenhuma bicicleta jamais tratou você daquele jeito antes! As criancinhas, que antes faziam escárnio de você e te apontavam na rua, querem usar seu monstro para assustar os irmãos menores. E, melhor de tudo, você pode ter um monstro diferente a cada dia, depende do humor com que ele acorda, enquanto o prêmio é sempre igual.

É claro que nem tudo são flores com o monstro. Enquanto a bicicleta é absolutamente pacata e previsível, o monstro ainda pula de trás de portas quando você menos espera e berra e grunhe. Você fica odiando o monstro. Mas sente saudade dele quando passa por uma porta e não tem nada atrás dela.

Desta metáfora concluo que amadurecer é assumir que você é uma pessoa de monstro, não de prêmio. E ser muito feliz justamente por causa dos sustos, não apesar deles.

terça-feira, julho 20, 2010

Pilotando o fogão

Eu vivo comentando das maravilhas que a culinária fez na minha vida, mas sempre morro de preguiça de compartilhar receitas. Agora, amigos me intimaram a colaborar com seu blog de culinária e eu vou ver se crio vergonha na cara.

Pra quem tiver interesse, estreei com minha receita mágica de sopa de ervilha, para aquecer a pança e o coração: http://domeufogao.blogspot.com/

quarta-feira, julho 14, 2010

Vida de pobre, vida de merda

O pior de ser pobre não é passar vontade, embora isso também seja muito ruim. Não é não ter um iate ou não passar férias em Ibiza ou não ter o cabelo da Gisele Bundchen. O pior de ser pobre é levar vida de pobre, mesmo. São as pobrezinhas do dia a dia. Duvida? Então vem comigo.

Ontem uma camisa que eu adoro voltou a me servir. Meu cabelo estava bom e meus olhos estavam só moderadamente inchados, então eu estava muitíssimo bem humorada o dia todo. A chuva nem me aborreceu. Daí chegou a hora de ir pra casa. Troquei meu lindo scarpin de verniz de bico finíssimo por uma melissa de prástico própria para chuva e à prova de leptospirose e fui. São 2 quadras do trabalho até o metrô. Na metade do caminho, o cabo do guarda-chuva quebrou e ficou só aquele cotoquinho pra segurar. Ficou parecendo que eu estava usando um chapéu de guarda-chuva. Mas tudo bem, minha camisa era linda e servia e eu sorri. O metrô estava lotado de pessoas segurando guarda-chuvas molhados nas minhas costas. A sacola com os sapatos finos começou a desbeiçar.

Chegando no Clínicas, tomei fôlego para a longa caminhada até em casa. A chuva, que só parecia uma garoa, estava fazendo poças de lama nojenta nos buracos da Teodoro. 500 mil pessoas se amontoavam nos pontos de ônibus na calçada, o que tornava impossível passar. A trilha sonora de Maria Antonieta, que tocava no Ipod, se misturava com o barulho da chuva batendo no guarda-chuva e acalmava meu coração, provocando uma experiência extra-sensorial. Início do ciclo menstrual rulez.

Com os pés encharcados, meu chapéu guarda-chuva, a barra das calças pesando 3 vezes mais de tão molhadas, o cabelo todo arrepiado, as sacolas pesadas e molhadas e o rímel borrado, atravessei a rua do último quarteirão rumo ao meu lar sequinho. Chutei algo que imaginei ser o lixo da Teodoro, que rola ladeira abaixo sempre que chove. Segui cantarolando, com o som bem alto.

Cheguei em casa, tirei o sapato nojento e corri atras do cachorro, que já havia roubado um pé de Melissa pra roer. Fui pôr as sacolas na mesa e tcharãn. Cadê os sapatos bonitos? A sacola havia se transformado em 2 pedaços de papelão encharcados e sem fundo. Sabe o lixo que eu chutei na Teodoro? Provavelmente eram meus lindos scarpins de verniz e bicos finíssimos. Sentei na cama pra chorar, o cão sentou ao meu lado e mijou no edredon.

Fim.

quarta-feira, julho 07, 2010

Semântica

Eu tenho um problema sério com a semântica. Algumas palavras me passam certas impressões e me causam birra e eu não uso nunca. Esposa é uma delas. Tenho ojeriza da palavra esposa. Esposa = mulher traída que não faz sexo, tem 8 dedos de raiz de cabelo branco e usa chinelo com meia. Não me pergunte por que, eu não sei, mas é isso que imagino. Daqui dez anos de análise eu explico.

Noiva é outra delas. A menina pode ser a mais linda do mundo, falou que é noiva eu já a imagino usando um vestido de mangas bufantes, paradinha em cima do altar, toda virgem. Acho cafona, tenho vergonha de gente que dá festa de noivado, que usa aliança de noivado e que se refere ao outro como "meu noivo". A pessoa parece ser tão normal, tão equilibrada e daí pãns, é noiva.

Por isso que eu nunca quis ser esposa nem noiva, prefiro ser sempre namorada. Ainda que uma namorada que mora na mesma casa, divide contas e compra cachorro junto. Namorada dá presente, sai pra jantar, se arruma, se perfuma, vai no cinema. Esposa bate bolo. Entendeu a paranóia?

Além da semântica, eu também tenho problemas com essa coisa de você ter que lavrar seus sentimentos em cartório, jurar na frente de um monte de gente, se vestir de merengue e assinar o livro do cartório pra provar que quer ficar com a outra pessoa. Se quer ficar, vai e fica e pronto. As suas promessas são apenas pra vcs dois. Nem Deus, nem o padre e nem o juiz tem nada a ver com isso. Sim, eu fugi da fila do romantismo e não entendo o sentido dessas celebrações bizarras.

Daí ontem fui comemorar o terceiro aniversário de namoro, comer lagosta e encher a cara de vinho, bem pobres de espírito que somos. E daí ele me deu um anel de noivado e eu fiquei com aquela cara de pastel, completamente embevecida e dando gritinhos, comédia romãntica style. Mas daí eu lembrei da semântica e falei: "mas quer dizer que agora eu sou uma noiva?". E a resposta dele explica por que eu estou com ele: "Não, vc é uma namorada que usa um anel bem bonito".

Em tempo: o anel não tem nada cafona e eu sou uma romântica hipócrita.

quinta-feira, julho 01, 2010

Orgulho e preconceito

Tipos de gentes que me agradam (nunca pensei que eu fosse conseguir fazer uma lista tão extensa):

Gente que faz piada até da mãe mortinha
Gente que sabe a hora de ir embora
Gente que usa desodorante
Gente que entende piadas
Gente que bebe gim tônica
Gente que gosta de bicho
Gente que prefere as vilãs de novela
Gente ruim
Gente que não sabe o que é impedimento, mas sabe que amarelo não combina com verde.
Gente que não desiste de mim e me liga de vez em quando
Gente que sabe que 2+2 nem sempre é 4
Gente que me conta os podres de gente que eu não gosto
Gente que gasta 3 dígitos num sapato, mas fica regulando R$ 20 para a vaquinha de aniversário do colega porque "tá sem dinheiro" (que é gente que sabe onde investir)
Gente que admite que ser mãe não é só alegria
Gente que vai na minha casa
Gente segura
Gente que se arrepende
Gente que imita sotaques


Tipos de gentes que, seu pudesse, eu matarra mil
Gente egocêntrica
Gente mimizenta
Gente adulta
Gente politizada
Gente cheia de razão
Gente que pega homem de amig@
Gente sem graça
Gente que não acha graça de nada
Gente que acha graça do Casseta e Planeta
Gente que só fala de carro e futebol
Gente que pega balada
Gente cujo maior sonho na vida é ter 48 de bíceps
Gente que para na frente da porta e atrapalha seu direito de ir e vir
Gente que grita
Gente com cabelo liso, comprido, reto e na cor natural - sendo que a cor natural é cor de burro quando foge
Gente que nunca ficou de pilequinho
Gente que acha foi assim porque deus quis
Gente que não toma decisão nenhuma por medo de se arrepender
Gente que diz que "isso dá câncer" (e é sempre alguma coisa muito gostosa, tipo carne, cigarro ou açúcar)
Gente que fala por mais de 15 minutos sem parar pra tomar fôlego
Gente que não lê o manual
Gente que finge estar conversando com você, mas não presta atenção ao que vc diz
Gente que não respeita os outros
Gente que trata mal os empregados
Gente que me cutuca ou pega em mim sem prévia autorização
Gente que só fala de dieta
Gente que não olha no espelho
Gente que nunca me liga e depois diz que eu tô sumida
Gente que vai na minha casa sem avisar
Gente que não acha meu cachorro lindo
Gente que não faz cosquinha na barriga do meu cachorro
Gente que reclama que uma lista não é um post

segunda-feira, junho 28, 2010

Dá licença

Eu assumo: tenho 31 anos e não dirijo. Digo que é porque não gosto, pelo meio ambiente, whiskas sache, mas a verdade é que é porque eu não sei. Não consigo aprender, entro em pânico sempre que o carro morre e as pessoas me xingam e concluí que vivo muito bem sem um carro. Moro a quatro quadras do metrô e gosto da liberdade de poder encher a cara e depois pegar um taxi.

O transporte público tampouco me tira do sério. Centenas de anos sacolejando em ônibus e trens lotados tornaram essa tortura algo normal pra mim. Não, não é bom. Quando vc pega um busão em São Paulo, vc não vai pra qualquer outro lugar que não seja o inferno, indepedente do que diga a plaquinha do itinerário. Serão sovacos na sua cara, cabelos melados de Kolene no seu nariz, pisões no seu pé, encoxadas, beliscões, bolsadas na cabeça, cotoveladas na boca do estômago. Isso se você tiver sorte. Se não tiver, ainda corre o risco de passar o trajeto inteiro ouvindo o pagodão que algum educadinho achou interessante dividir com todos os outros passageiros por meio do seu celular super moderno.

Mas, como eu disse, acostumei. Vou no máximo resmungar, mas não vou ficar com dor de cabeça por causa do inevitável. O que me dá dor de cabeça, mesmo, é a falta de educação do povão. No ônibus não tem privilegiados, tá todo mundo fodido. Quem senta fica olhando pros outros com ar de superioridade, porque aquilo é o máximo de vantagem que vc vai ter. Mas tem gente que parece acreditar que caga cheiroso, desculpem a expressão.

Dia desses tava eu lá no Largo da Pólvora às 8h da manhã. Não cabia mais uma brisa. Para dar passagem pro povo no corredor, eu já estava praticamente dando uma chave de coxa no rapaz sentado à minha frente, pensei até em oferecer um vinho e botar um jazz. Mas a civilidade pedia e todo mundo estava passando pelo corredor, com apenas um pouco de esforço.

Daí a gordinha passa a catraca e para. "Dá licença". Joguei a bunda pro outro lado, porque era o máximo de movimento permitido. O rapaz sentado até animou. A gordinha nem se mexeu. "Dá licença". Adotei a técnica "a-ham Cláudia, senta lá" e não me mexi mais. "Dá licença", "Dá licença", "Dá licença". O senhor que estava do outro lado do corredor só faltou baixar as calças e vestir a camisinha, porque era só o que faltava para consumar a felação com a velhinha sentada no banco à frente dele. Dava pra passar 3 gordinhas naquele espaço, mas ela continuava. "Dá licença".

O cara se irritou. "Dá licença pra onde, porra?" Daí ela falou as palavras mágicas, que despertaram a pomba-gira que vive em mim (e passa a maior parte do tempo dormindo, justiça seja feita): "Ih, logo cedo e já tá estressado". Mas é claro que ele tava. O busão inteiro estava. Por causa dela. Ela passou e meteu uma cotovelada no tiozinho. E foi aí que meu pezinho esquerdo simplesmente escorregou na frente dela. Foi de propósito e foi com gosto. Ela não caiu nem nada, nem tinha espaço pra cair. Mas catou um cavaco e passou vergonha. Saiu xingando e ainda teve que ouvir um "Tá vendo, Deus castiga" do tiozinho.

Foi Deus não, meu senhor. Fui só eu fazendo o upgrade da econômica pra primeira classe do inferno. Feliz da vida.

quarta-feira, junho 23, 2010

Uia!

Que perigo essa coisa do blog poder mudar de cara toda hora. Não há mais limites pra minha cafonice!

Melancolia é que dá Ibope

Da última vez que repassei meu checklist de mimimis, estava tudo nota dez com estrelinhas. Ou nota zero, já que não tinha nenhum. Pela primeira vez na história desta biografia, eu não tenho nenhuma reclamação a fazer. Estou apaixonada pela minha casa, meu trabalho, meu cachorro, minha analista, meu namorado, meus amigos e meu professor de inglês. A família não deu nenhum vexame nos últimos dois meses. Dinheiro não tem, mas também não tem dívida. Há perspectivas de viagens incríveis no horizonte. É Copa, eu tenho desculpa pra beber e abraçar estranhos durante o expediente. Vou reclamar do que? Verde e amarelo não me favorecem, mas até aí, não favorecem ninguém. Tem temporada nova de True Blood.

Não dá pra escrever textos vicerais sobre a diarréia que o cachorro teve e que quase me matou de preocupação. Nem do meu extremo orgulho por ter aprendido a fazer uma sopa de ervilha de lamber a panela. Nem da minha ansiedade para cortar o cabelo no próximo sábado. Ou seja, a vida tá boa, mas nada interessante.

Então, não estranhem eu aparecer tão pouco, mas é que eu tenho preferido ser feliz a ter assunto.

sábado, maio 15, 2010

Extremamente alto & incrivelmente perto

Estou lendo de novo. Tinha lido há algun anos, numa época em que minhas botas pareciam ser as mais pesadas do mundo inteiro. Naquele tempo eu acreditava ter perdido tudo, família, amigos, marido, até os bichos de estimação tinham ido embora. Meu único objetivo, quando acordava, era conseguir fazer as horas passarem depressa o suficiente para que eu pudesse dormir de novo, de preferência por muito tempo. E foi bem difícil acabar o livro, porque é uma história engasgada de perdas, e cada linhazinha que eu lia parecia um anzol descendo pelo meu coração.

Então decidi ler de novo agora, quando minhas botas estão mais leves do que plumas, para ver que outro sentido eu tirava da história. E estou vendo que o anzol continua lá, puxando tanto quanto antes. Mas meu coração parece estar mais resistente. Ao contrário de antes, quando eu queria ser colocada no colo e amada da mesma forma que o Oskar, hoje eu tenho vontade de dar colo e amar o Oskar. Parece que não preciso mais ser aquele que se faz roxos, porque estou forte o suficiente para cuidar dos roxos. os meus e os dos Oskars.

Não é que eu não sinta mais as perdas nem lamente toda a dor que vem com elas. É só que eu não penso mais no que poderia ter feito para evitá-las. Não busco mais jeitos de reconstruir o que se foi, pessoas para substituir as que não estão mais aqui. Aceitei que elas são insubstituíveis e sempre serão parte de mim. O que não existe mais sempre vai estar vivo enquanto eu estiver, pois foi o que fez o que eu sou.

E tudo que eu não quero hoje é deixar de existir, sumir, desistir. Quero com muita força continuar a escrever a minha história, uma história nova que deve ser bem diferente daquela que passou porque eu sou diferente da pessoa que viveu aquele passado. Parece piegas, mas hoje eu quero que cada dia dure bastante, porque as 24 horas são muito pouco para todas as coisas que eu estou construindo e para estar com todas as pessoas que trocam minhas botas por sapatilhas de balé. Não se trata de uma felicidade eufórica, ansiosa. Se trata apenas de existir com satisfação.

Sobre o livro, tenho a sensação de finalmente ter entendido o que a Vó quis dizer.

"Passei a vida aprendendo a sentir menos. Cada dia eu sentia menos. Isso é envelhecer? Ou é algo pior? Não é possível proteger-se da tristeza sem antes proteger-se da felicidade."

segunda-feira, abril 19, 2010

Pontuação

Um aperto estranho no peito, o sono que não vem, a dificuldade em sorrir.Talvez seja a constatação do que já acabou faz tempo, ou talvez a frustração por não conseguir colocar um ponto final numa história quem insiste em reticências mesmo sem ter mais nada a dizer. Um capítulo igual ao outro.

Olho para todas as coisas tão cheias de significado e ao mesmo tempo tão vazias. O que tudo quis dizer? Será que alguém realmente errou ou só não era pra ser? Será que seria justo optar por apenas uma entre todas as coisas que nos são caras, será que é o certo dar peso pro nosso gostar?

Nunca consegui responder e ainda não sei. E me pergunto se todas as cores que eu achava que só eu via realmente existem ou foram só alucinação?

quinta-feira, abril 08, 2010

Anos 90 feelings

É assim que os calégas de trabalho me vêem (odeio e ignoro a nova gramática, beijos):


Só não sei como é que um bando de meninos de 20 e poucos anos ainda se lembra da noiva do Dinho.

segunda-feira, março 15, 2010

Liberdade ainda que à tardinha

Dois posts abaixo eu falava da solidão opcional x solidão imposta e alguém me mandou sair do casulo. Que preferir The Sims à vida real não era vida. Só que eu nunca disse que preferia. É só mais uma das muitas coisas que eu gosto de fazer quando estou deliciosamente sozinha.

Assim como cozinhar, ler, ver TV, arrumar gavetas, dormir, falar sozinha, fazer escalda-pés, cuidar das plantas, tomar sol, ficar de bobeira na varanda, amassar o cão, ler bilhetinhos e cartas antigas, escrever e, se eu estiver de muito bom humor, ligar pros poucos e bons. E isso é só o sozinha dentro, porque ainda tem o sozinha fora, que inclui ir ao cinema ver SÓ O QUE EU QUISER, tomar o metrô sem destino, passar horas e horas e horas e mais horas vendo vitrines na Teodoro (em dias pobres) ou na Oscar Freire (em escassos dias ricos), tomar café na padaria, andar na feirinha, ver filhotinhos na Paulista...

Outro dia comentei com uma amiga o quão reconfortante é poder ficar em casa numa sexta-feira à noite simplesmente porque é o que você está a fim de fazer. Sem ter que ir à luta, sem ter que comprovar popularidade para ninguém, sem ter que dar sorrisinhos fingidos enquanto pensa nos seus lençóis macios e cheirosos.

Porque você sabe que existirão muitas outras sextas-feiras (e quintas e quartas e terças, que são bem melhores que sextas) para se jogar na rua, se for essa a vossa vontade. Mas se não for, nunca mais, qual é o problema? Vou fingir estar feliz na rua quando poderia estar feliz de verdade em casa? Não gosto nada dessas obrigações sociais.

E essa é uma parte boa DE VERDADE de já ter passado a etapa djóvem da vida: descobrir que obrigações sociais não são são obrigação coisa nenhuma. Elas só existem na sua cabeça e, sinceramente, não fazem muita diferença a longo prazo. E a minha liberdade de substituir o salto por meias quentinhas e o boteco lotado por um sofá fofinho em uma sexta à noite foi algo que eu conquistei a duras penas e não abro mão por nada nesse mundo. Meu casulo é meu mundo e eu sou uma lagarta muito satisfeita com sua condição, sem a mínima pretensão de virar borboleta.

quarta-feira, março 10, 2010

Quereres

Eu não queria ter olheiras. Eu não queria pesar 12 quilos a mais e parecer a Hillary -cara-de-cavalo-Swank e não ser indiscutivelmente linda. Eu queria ser uma profissional decidida, autoconfiante, poderosa e brilhante. Eu queria me concentrar nas coisas que vou dizer nas apresentações importantes do trabalho, em vez de ficar pensando no sapato que vou usar. Eu queria ser tolerante e compreender que as pessoas tem contextos de vida diferentes e que é por isso que elas falam absurdos, não porque são burras, mal educadas ou incompetentes. Eu queria viajar pro exterior duas vezes por ano. Eu queria sempre acertar na roupa e ter umas ondinhas no cabelo. Eu queria não ter tanta preguiça e ser esportista. Eu queria não ser covardezinha. Eu queria não ser nostálgica nem viver do passado nem ainda ficar de choradeira pelo que não volta mais. Eu queria deixar saudades. Eu queria ter histórias incríveis pra contar. Eu queria ser rosa maravilha e não rosa chá.

E é isso que eu sei. Agora me pergunta comofas, pra ver se não dá tela azul.

sexta-feira, março 05, 2010

Acordei meio Maysa

Para ler com esse botão apertado.

Solidão é bom e eu gosto. Tenho muita preguiça das pessoas, sou intolerante, não gosto de sair e tenho vergonha de quem vai pra "balada". Imagino que o céu seja uma cama enorme e confortável, uma TV de 58 polegadas LCD e um estoque infinito de DVDs. Considero o cachorro a companhia ideal. E olha que ele morde a minha cara e mija na sala.

Só que nem todo dia é assim. Nem todo dia eu tenho certeza que o céu é a solidão.

Eu sou viciada em The Sims e sempre achei muito chato aquela coisa de ter que ficar ligando pras pessoas senão elas deixavam de ser suas amigas e vc não conseguia a promoção. Só que na vida real também é assim né? Você tem que dar atenção pros amigos, senão eles somem mesmo. O André, persitente amigo há mais de 15 anos, diz que ser meu amigo é um exercício de baixa auto-estima. Porque eu esqueço aniversários, passo meses sem telefonar, não retorno ligações, não deixo recados no orkut. E é tudo verdade.

Mas é que nem sempre eu quero estar com pessoas. O que mata é a falta de pessoas com quem estar. E quanto mais o tempo passa, menos pessoas sobram para se estar. Porque elas casam, mudam, morrem, vão embora pra Passárgada ou simplesmente um dia vc se liga que não fala com aquela pessoa há tanto tempo que ela já não é mais sua amiga.

E é claro, tem a família, mas a família também tem sua própria família e seus próprios problemas e me faz pensar ainda mais que eu queria ter a minha própria família e tudo acaba saindo ainda pior.

E você se dá conta que simplesmente não tem pra quem ligar. E é meio foda admitir isso, proque eu sempre tive um milhão de amigos e bem mais forte pude cantar. E não tem muito o que fazer, né? Porque eu não acho que vá fazer novos amigos a essa altura da vida, sendo o ser tão sociável que sou, muito menos constituir uma família, sendo o ser tão traumatizado que sou. Talvez eu compre um papagaio, talvez eu adquira uma conta no Par Perfeito, talvez eu abrace uma causa.

Mas o mais provável é que eu não faça nada e vá jogar The Sims. Lá as coisas são bem mais fáceis de resolver.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Não sou nenhum Raskólnikov, mas tbm tô roendo o osso



Não sei se foi uma boa idéia ter adotado o cão. Choro todos os dias pra sair de casa, porque ele fica com aquela cara de, bom, de cachorro abandonado. Pior: de filhotinho de cachorro abandonado. Me sinto culpada, monstruosa e horrível. Chego atrasada todos os dias no trabalho, porque PRECISO voltar 5 vezes para beijá-lo muitíssimo antes de sair, pra ele saber que eu o amo, apesar de ser uma uó que sai de casa e deixa ele sozinho por muitas horas.

No fundo, acho que sofro muito mais que ele. Ele nunca choraminga nem destroi nada além dos jornaizinhos dele. Ontem, estava acomodadinho na almofada, assistindo confortavelmente ao Discovery Kids (porque eu não só deixo a TV ligada o dia todo, como seleciono o canal mais adequado para crianças) e roendo um petisquinho. Quando eu chego, ele fica feliz em me vez, mas não feliz a ponto de fazer xixi. Todos os sites e livros que consultei sobre estresse animal decretaram que ele é muito normal e feliz. Ainda assim, a culpa me consome. Adotarei um gato, portanto, para que se façam companhia. Espero que funcione.

Mas e filhos? Acho que nunca vou poder né? Imagina o tamanho do sofrimento. Vai ser largar o filho na creche e me jogar embaixo de um caminhão pra expiar a culpa. Acho que vai ficar pra próxima, viu?

Difícil demais.

Update: Pronto, seus mala. Taí o filhote, depois de pedir favores e bluetooths a meio mundo. Agora me digam. ele não é liiiiiiindo?

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Maternidade

Agora eu sou mãe de um bebezinho felpudo e tudo que vocês podem esperar desse blog são notícias sobre o quanto ele é lindo, quanto xixi ele faz e quantos azulejos ele comeu. Sério. Meu bebê é tudo que me importa na vida agora.

Um beijo.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Tudo novo

Ia fazer esse post só depois do carnaval, porque é quando o ano começa de fato, mas daí o servidor caiu e ficou sobrando um tempinho sem nada pra fazer e zás. E eu precisava de um tempinho pra ACEITAR que todas essas coisas eram comigo mesma - desde o dia que, na buátchi, fiquei toda prosa quando recebi uma frô e 10 minutos depois a garçonete pediu pra eu devolver porque o presente era pra outra pessoa, que me tornei bastante desconfiada das benesses da vida. Como já se passaram dois meses, sinto-me segura para o meu post de ano novo, portanto.

Dessa vez o tal do "ano-novo, vida nova" não ficou só no clichê. Mudei (finalmente!) de casa, mudei de trabalho, mudei o corte de cabelo, mudei a alimentação e mudei os hábitos. Voltei pra escola, pro médico e pro professor de inglês. Larguei a terapia. Ganhei um cachorro e um gato. Comecei a praticar dança. Zerei o cartão de crédito. Passo 15 minutos por dia no trânsito. Tenho uma agenda de gente grande, com anotações muito importantes e impactantes. Pago as contas em dia. Uso salto 15 e esmalte azul.

Mas nada disso foi de caso pensado, por causa do ano-novo. A única coisa que eu mais ou menos planejei foi mudar de casa. O resto simplesmente caiu na minha cabeça. Eu acho a vida meio parecida com aquela brincadeira do programa da Xuxa, que vc ficava na cabininha, com fones de ouvido, e tinha que responder se queria ou não trocar uma chupeta usada por uma bicicleta, sem de fato saber para quê estava dizendo siiiiiiiiiiim ou nããããããão. Então, foi mais ou menos isso.

"Você aceita trocar seu emprego em Alphaville, no qual você leva duas horas e meia para chegar e passa o dia com cara de pudim de pão esperando a morte chegar por um outro na avenida paulista, para fazer uma coisa que você não tem bem certeza se é capaz de fazer mas sua mãe disse que vc é?" - Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!

E daí eu fiquei feliz por estar morando onde queria e trabalhando onde mais queria ainda e comecei a dizer siiiiiiiiiiim pra todas as outras coisas. E pode ser chocante para vocês, queridos leitores, mas eu estou feliz de verdade. E nem sei dizer bem por que. Não é só por causa do emprego ou da casa ou dos amigos novos. E nem por tudo isso junto. A vida está longe de ser perfeita. Mas eu acho que estou descobrindo que gosto dela exatamente assim, da mesa virada mas sem espalhar muitos papéis.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Nostalgias

Eu era um sujeito então perseguido pelas nostalgias. Sempre tinha sido, e não sabia como me livrar da saudade para viver tranqüilamente.

Ainda não aprendi. E desconfio que nunca vou aprender. Mas pelo menos já sei uma coisa valiosa: é impossível se livrar da memória. Você não pode se livrar daquilo que amou.

Isso tudo vai estar sempre com a gente. Sempre vamos desejar recuperar o lado bom da vida e esquecer e desnutrir a memória do lado mau. Apagar as perversidades que cometemos, desfazer as lembranças das pessoas que nos magoaram, eliminar as tristezas e as épocas de infelicidade.

É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, para a nossa sorte, a saudade possa se transformar, de uma coisa depressiva e triste, numa pequena faísca que nos impulsione para o novo, para nos entregar a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas será diferente. E isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar a vida na solidão, encontrar alguém, entregar-nos um pouco, evitar a rotina, desfrutar a nossa parte da festa.

Eu ainda estava assim. Tirando todas essas conclusões. A loucura me rondava e eu escapulia. Tinha sido coisa demais em muito pouco tempo para uma pessoa só, e saí por dois meses se Havana.

Pedro Juan Gutiérrez, minha mais nova paixão, em “Trilogia Suja de Havana”

Roubado do delícia Don't Touch My Moleschine

terça-feira, janeiro 26, 2010

É 10, Brasil!

Não vou comentar o BBB enquanto Tessaralha que serve pra tudo estiver lá dentro, senão vai ser uma correnteza de rancor sem precendentes. Somente Diego Alemão me despertou tais sentimentos primitivos, mas lá pelo menos tinha Alberto amor verdadeiro, amor eterno pra me consolar. Nesse tem a dlag, a puliça arretada, o galã de porta de obra e Marcelo Dourado. Quédizê. Tá sofrido, né?

Tenho prestado mais atenção nas propagandas do que no programa propriamente dito. E acho que os anunciantes estão bobeando fortemente, perdendo grandes oportunidades de marketing. Veet Cera Fria, por exemplo. Podia fazer fortunas com Angélica lá dentro. Daqui a pouco a moça começa a enrolar as pontinhas daquela imensa bigoda.

Points é outro que tinha a chance de fortalecer a marca demonstrando em Tessaralha como é simples tirar uma verruga, ainda que imensa, com sua avançada tecnologia. A stripper podia ser usada pra testar cremes pra olheira (e se funcionar nela, eu pago a fortuna que for pra adquirir), a Tok Stok podia fazer Michel de garoto propaganda.

Mas não, preferem ficar mostrando Activia, sendo que intestino preso é mote de outro programa.

Cadê a Globo que não me contrata numa hora dessas? Ia triplicar os lucros em publicidade deles nesses 3 meses.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Meio House

Eu acho House ótimo, muito mesmo. É uma das minhas séries favoritas na vida e etc. Mas nem tudo são flores. House é ficção, muito bem feita, sobre uma pessoa incomum. Ele é adorável, porque ele é de mentirinha.

É normal que as pessoas se identifiquem com personagens de ficção, é desejável que isso aconteça e os roteiristas constroem os personagens para que isso aconteça. Eu me identifico com Rachel Green, Miranda Hobbes e Dexter Morgan, por exemplo. Tá cheio de Sheldons e Chandlers por aí.

Acontece que House despertou um fenômeno que me desagrada: o fenômeno do jumento sem noção. Você certamente conhece um exemplar, porque eles estão em toda parte.

O jumento sem noção é um babaca, sem um pingo de educação e só. Geralmente sua inteligência beira o zero, mas ele acha que responder com grosseria é sinônimo de brilhantismo. A cereja do bolo é justamente ele se auto-definir como "um cara meio House".

Peguei um desses pela frente outro dia. Ele começou a contar que odiava pessoas, que toda a humanidade era estúpida e deu um exemplo de uma funcionária que perguntou qualquer coisa e ele respondeu que, se ela não tinha inteligência suficiente para entender a tarefa, não devia se meter a fazer. E terminou a história dizendo: "porque eu sou meio House, não tenho paciência com gente burra". Acontece que: 1. a menina não era nem um pouco burra. 2. ninguém gosta de gente burra, mas todo mundo gosta de respeito. 3. a vida real é bem diferente da ficção. Fiquei sabendo depois que ele foi demitido recentemente e ainda não achou outro emprego.

E espero que não ache. Usar House para justificar a própria incompetência e falta de respeito é baixeza, falta de criatividade e, principalmente, uma tremenda sacanagem com meu personagem favorito. Tenho certeza que todos esses caras seriam extremamente gongados pelo House original, eterno e único.

Fora que o House é meio que nem o Homer Simpson, né? A gente adora ele lá, na TV. Mas ter um por perto na vida real é um porre.