segunda-feira, junho 28, 2010

Dá licença

Eu assumo: tenho 31 anos e não dirijo. Digo que é porque não gosto, pelo meio ambiente, whiskas sache, mas a verdade é que é porque eu não sei. Não consigo aprender, entro em pânico sempre que o carro morre e as pessoas me xingam e concluí que vivo muito bem sem um carro. Moro a quatro quadras do metrô e gosto da liberdade de poder encher a cara e depois pegar um taxi.

O transporte público tampouco me tira do sério. Centenas de anos sacolejando em ônibus e trens lotados tornaram essa tortura algo normal pra mim. Não, não é bom. Quando vc pega um busão em São Paulo, vc não vai pra qualquer outro lugar que não seja o inferno, indepedente do que diga a plaquinha do itinerário. Serão sovacos na sua cara, cabelos melados de Kolene no seu nariz, pisões no seu pé, encoxadas, beliscões, bolsadas na cabeça, cotoveladas na boca do estômago. Isso se você tiver sorte. Se não tiver, ainda corre o risco de passar o trajeto inteiro ouvindo o pagodão que algum educadinho achou interessante dividir com todos os outros passageiros por meio do seu celular super moderno.

Mas, como eu disse, acostumei. Vou no máximo resmungar, mas não vou ficar com dor de cabeça por causa do inevitável. O que me dá dor de cabeça, mesmo, é a falta de educação do povão. No ônibus não tem privilegiados, tá todo mundo fodido. Quem senta fica olhando pros outros com ar de superioridade, porque aquilo é o máximo de vantagem que vc vai ter. Mas tem gente que parece acreditar que caga cheiroso, desculpem a expressão.

Dia desses tava eu lá no Largo da Pólvora às 8h da manhã. Não cabia mais uma brisa. Para dar passagem pro povo no corredor, eu já estava praticamente dando uma chave de coxa no rapaz sentado à minha frente, pensei até em oferecer um vinho e botar um jazz. Mas a civilidade pedia e todo mundo estava passando pelo corredor, com apenas um pouco de esforço.

Daí a gordinha passa a catraca e para. "Dá licença". Joguei a bunda pro outro lado, porque era o máximo de movimento permitido. O rapaz sentado até animou. A gordinha nem se mexeu. "Dá licença". Adotei a técnica "a-ham Cláudia, senta lá" e não me mexi mais. "Dá licença", "Dá licença", "Dá licença". O senhor que estava do outro lado do corredor só faltou baixar as calças e vestir a camisinha, porque era só o que faltava para consumar a felação com a velhinha sentada no banco à frente dele. Dava pra passar 3 gordinhas naquele espaço, mas ela continuava. "Dá licença".

O cara se irritou. "Dá licença pra onde, porra?" Daí ela falou as palavras mágicas, que despertaram a pomba-gira que vive em mim (e passa a maior parte do tempo dormindo, justiça seja feita): "Ih, logo cedo e já tá estressado". Mas é claro que ele tava. O busão inteiro estava. Por causa dela. Ela passou e meteu uma cotovelada no tiozinho. E foi aí que meu pezinho esquerdo simplesmente escorregou na frente dela. Foi de propósito e foi com gosto. Ela não caiu nem nada, nem tinha espaço pra cair. Mas catou um cavaco e passou vergonha. Saiu xingando e ainda teve que ouvir um "Tá vendo, Deus castiga" do tiozinho.

Foi Deus não, meu senhor. Fui só eu fazendo o upgrade da econômica pra primeira classe do inferno. Feliz da vida.

quarta-feira, junho 23, 2010

Uia!

Que perigo essa coisa do blog poder mudar de cara toda hora. Não há mais limites pra minha cafonice!

Melancolia é que dá Ibope

Da última vez que repassei meu checklist de mimimis, estava tudo nota dez com estrelinhas. Ou nota zero, já que não tinha nenhum. Pela primeira vez na história desta biografia, eu não tenho nenhuma reclamação a fazer. Estou apaixonada pela minha casa, meu trabalho, meu cachorro, minha analista, meu namorado, meus amigos e meu professor de inglês. A família não deu nenhum vexame nos últimos dois meses. Dinheiro não tem, mas também não tem dívida. Há perspectivas de viagens incríveis no horizonte. É Copa, eu tenho desculpa pra beber e abraçar estranhos durante o expediente. Vou reclamar do que? Verde e amarelo não me favorecem, mas até aí, não favorecem ninguém. Tem temporada nova de True Blood.

Não dá pra escrever textos vicerais sobre a diarréia que o cachorro teve e que quase me matou de preocupação. Nem do meu extremo orgulho por ter aprendido a fazer uma sopa de ervilha de lamber a panela. Nem da minha ansiedade para cortar o cabelo no próximo sábado. Ou seja, a vida tá boa, mas nada interessante.

Então, não estranhem eu aparecer tão pouco, mas é que eu tenho preferido ser feliz a ter assunto.