terça-feira, setembro 14, 2010

Minhas visitas

Melancolia, angustia e solidão. Três palavrinhas que podem parecer assustadoras, mas que, para mim, são mais familiares e confortáveis do que euforia, sucesso e tranqüilidade, por exemplo. Convivo com elas desde sempre. Provavelmente eu devia ser um bebê chorão, que sofria de transtorno de ansiedade quando chegava perto da hora da mamada.

Estou lá quieta no meu canto achando a vida linda, tudo caminhando como meu plano diz que devia caminhar quando de repente... “Toc, toc”/ “Quem é?”/ “É seu monstrinho interior, queriiiiiiiiiida”. Ele fala assim, com essa vozinha irritante, forçando intimidades. E nem adianta eu bater a porta na cara dele, dizer que não tem pão velho, dizer que tô cheia de roupa pra lavar. Ele entra assim mesmo, senta ali no meio da sala, acende um cigarro e começa a falar sem parar.

Depois de tantos anos, já desisti de brigar com ele e mandá-lo embora. Deixo-o ficar, dizer a que veio e esperar que acabe seu serviço pra que eu possa voltar a viver. Mesmo que eu não saiba por que ele veio nem quando vai embora.
Antes eu achava que quando conseguisse fazer as coisas do jeito que eu achava que elas deviam ser, ele sumiria. Pffffffffffffff. Ele me explicou que não adianta nada eu:

- ter o relacionamento dos meus sonhos
- estar feliz por ter a minha casa tão linda
- gostar muito, muito, muito do meu trabalho
- estar segura da minha capacidade
- ter bons amigos
- fazer todas as viagens que sempre quis
- aprender a baixar seriados

E tudo o mais que eu possa enquadrar na moldura da “vida como deve ser”. Eu continuarei acordando, às vezes, com aquela opressão sem motivo em algum lugar entre o peito e a garganta. Haverá dias em que será muito difícil sair da cama, por melhores que sejam as promessas. Em outros, eu acordarei com a certeza de que morrerei absolutamente solitária, sem amigos, amores ou familiares pra tocar “Deixe-me ir” em meu funeral ou acreditando que toda a humanidade é ruim e que viver é um purgatório.

Isso pode durar semanas ou algumas horinhas apenas. Será ruim e amargo e eu ficarei sentada diante da TV fumando muitos cigarros e suspirando sem vontade de viver. E então... “Toc, toc”/“Ai, saco, quem é?”/ “É a esperança, sua linda”. E ela vai entrar toda de vestido florido amarelo, ao som de “Walking on Sunshine”, abanando a fumaça da sala e levando todo mundo pra dançar.

Não me apavoro mais. Aproveito essas visitas, quando elas vêm, ouço o que elas tem a dizer. Nenhuma delas é tão monstruosa quanto parece, nem tão radiante quando você imagina. São só visitas e o que me resta é lhes oferecer cafezinhos.

3 comentários:

Carol disse...

Minha reação imediata foi Empatia.

Momento Descontrol disse...

Essas visitas são muito sociáveis.

Dinorah disse...

é bem assim mesmo! se a gente passa, por que não haveriam de passar as sensações?
Chegeui hoje neste blog e estou adorando.
beijos