quarta-feira, novembro 24, 2004

Quando eu tinha cinco anos ? e eu me lembro vividamente disso, como se tivesse acontecido esta manhã ? estava voltando de uma festa com minha mãe, meu irmão e minha irmã. Não sei se meu pai estava, acho que não, ele nunca foi dado à festas. Bom, estávamos voltando de ônibus, tardão da noite, e eu ia meio fingindo que dormia no colo do meu irmão, só para não ter de andar. Acho que era uma festa de casamento, porque eu estava toda emperequetadinha, de vestido e a coisa que eu mais odiava na vida: sapatos. Sociais. Como eu só andava descalça ou de chinelão de dedo, o sapato sempre machucava, e nesse dia não era diferente. Mas o fato é que meu irmão estava de pé, comigo no colo, e eu senti que o sapato estava escorregando. E simplesmente deixei cair e continuei me fingindo de morta (ou adormecida), sem avisar ninguém do ocorrido. Aquele era meu único sapato de festa e eu dei graças a Deus quando ele se foi. Só que chegando em casa minha mãe percebeu, claro, ficou putíssima (não comigo, mas com o fato. Afinal, o sapato era tipo novo) e no dia seguinte foi na empresa de ônibus procurar. Pra meu azar, eles tinham guardado a porcaria do sapato e na festa seguinte lá estava eu, de novo, com os pézitos doendo à beça.
Mas na verdade só contei tuuuuuudo isso para demonstrar a ironia da vida. Hoje em dia eu tenho compulsão por sapatos. Gostaria até de tratar desse problema, porque é bem sério. Muitos deles me machucam pra caramba, fazem bolhas e outras coisas feias. Mas são tão lindos. Por isso eu faço do band-aid meu melhor amigo e continuo usando esses instrumentinhos de tortura. Onde será que foi parar aquela criaturinha capaz de tamanha patifaria só para nunca mais ser obrigada a usar sapatos?

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