Hoje fui almoçar com meu livro. Passei a manhã com cara de poucos amigos e desviando dos planos de almoço dos colegas, porque estava ansiosa para ficar a sós com as 784 páginas do dito cujo. Tocou a sirene da paulista anunciando a hora do bóia e eu continuei sentadinha em minha cadeira, esperando o frenesi dos esfomeados desocuparem os elevadores.
Quando sentei na minha mesinha perto da janela do Franz Café da Fnac e abri meu livro, quase chorei de felicidade. Tudo que eu queria era aquela uma hora e meia de entretenimento puro e compromisso exclusivo com a minha pessoa.
Voltei pra labuta muito mais serena. E daí as pessoas começaram a se penalizar por mim e perguntar por que eu não tinha ido encontrá-las ou pedido para elas me esperarem porque MEU DEUS DO CÉU, QUE CRIME É ESSE DE ALMOÇAR SÓ. Olhares de pena, comentários de reprovação.
Me senti o mais esquisito dos seres, e olha que eu nem comentei que na verdade eu QUERIA ficar só. Quando comentei no twitter que não queria me sentir esquisita por isso, me mandaram me mudar pra Islândia.
Talvez eu já tenha mesmo perdido o parâmetro. É realmente tão abominável assim preferir, às vezes, a companhia do meu escritor favorito à de outras pessoas? É mesmo fundamental que eu tenha sempre que confraternizar, falar, ouvir, sorrir, tirar comentários perspicazes da cartola? A única opção pra quem não está a fim de calor humano O TEMPO TODO é se mudar pra um país distante cheio de Bjorks e gelo?
Quanto mais eu penso nisso tudo, mais vontade me dá de ampliar minha biblioteca até o infinito. J.D. Sallinger, te entendo.