segunda-feira, junho 27, 2011

Feito cão e gato




Se tem uma habilidade que eu definitivamente não tenho é aquele sexto sentido de sacar se uma pessoa presta ou não depois de 2 minutos de conversa. Se a pessoa sabe fazer piadas, não critica o fato de eu gostar de Harry Potter e não usa crocs, pronto, eu gosto dela e a considero apta pra ser minha amiga, contar toda a minha vida e ouvir toda a dela. Todo mundo é meu amigo até que prove que não é assim que a banda toca.

Não é raro eu acabar a história com cara de bolinha, pensando que preciso ser mais cuidadosa e seletiva com quem eu chamo de amigo. Que é preciso tempo pra se conhecer alguém, que é preciso saber se preservar e não sair mostrando todas as cartas do baralho já logo na primeira rodada. Enfim, é preciso ser mais gato e menos cão com quem não se conhece muito bem.

Whisky, o cão, mal chegou em casa e já dormia de conchinha comigo, lambia tudo e todos na maior alegria e vivia de barriga pra cima pra gente coçar. Tinha gente que não gostava e enxotava ele, que ficava profundamente magoado e sem entender por que se recusavam a aceitar todo aquele amor que ele tem pra dar.

Alexandre e Clotilde, os gatos, vieram pra casa já grandinhos e levaram quase seis meses para me dar a honra de deitarem espontâneamente no meu colo. Eram fofos e dóceis, mas não davam muita trela para aquelas três criaturas (eu, o Paulo e o Whisky) que eles mal conheciam. Hoje são umas malas véias, querem colo até quando estamos na privada, mas continuam se escondendo das visitas e fingindo que elas não existem. Eles não desperdiçam nem uma gotinha de amor com quem eles não conhecem e não sabem se irá retribuir.

Apesar da já discutida cara de cu, eu sou igualzinha ao Whisky, sempre bestalhona e querendo fazer amigos. E depois indo pra debaixo da cama chorar quando alguém me mostra os dentes. A diferença é que o Whisky esquece tudo em meia hora, eu não esqueço nunca mais. Fico com mágoa de caboclo eterna de quem não sabe ser amigo. É uma tremenda lambança.

Então, estou sendo muito mais Clotilde. Deixando a confiança chegar aos poucos (se é que chega), segurando a língua para não falar demais. E olha só que surpresa: os poucos relacionamentos que construí nos últimos meses parecem ser de muito maior qualidade. Tenho conseguido separar Amigo de amigo e estes de colega e de conhecido. Tenho me divertido mais e me preocupado menos.

Whisky, Alexandre e Clotilde se odiavam quando se conheceram. Eram tapas, rosnados e miados de ódio o dia inteiro. Tenho quase certeza que, em duas ocasiões, vi os gatos cochichando um plano para destruir aquele peludo nojento, enquanto o Whisky delatava os dois sempre que eles cometiam qualquer delito, como derrubar porta-retratos. Essa noite os três fizeram um bolinho e dormiram juntinhos. De manhã, trocaram lambidas de bom dia, sem distinção de espécie. Por essas e outras é que eu tenho acreditado que o tempo é realmente nosso melhor amigo.

terça-feira, junho 21, 2011

O que importa na vida

Eu: Finalmente achei uma academia boa aqui perto, começo depois do feriado.
Amiga: Boa mesmo? O que tem lá?
Eu: Tem esteiras e bicicletas com televisão!
Amiga: Tá, mas que aulas que tem?
Eu: Ah, sei lá né? Nem sei se tem aulas. Mas sei que dá pra assistir dois Friends e o Vídeo Show na hora do almoço.

Porque a gente tem que focar no que realmente importa nessa vida.

segunda-feira, junho 06, 2011

Po po po poker face

Então é assim. Eu me considero uma pessoa relativamente simpática e educada. Dou uma cota considerável de sorrisinhos por dia e trato bem mesmo quem eu não vou muito com as fuças, porque sei que é o que pede a boa educação. Porém, não sou a mais expansiva das pessoas. Nem a mais ou menos. Não sou nada expansiva, pronto. Sou tímida e reservada. Prefiro ouvir do que falar. Não puxo assunto no elevador, mas respondo se puxarem. Eu nasci assim, eu cresci assim, Gabrieeela.

Mas acontece que eu tenho a maior cara de cu. A maior de todas. Quando não estou me esforçando no modo "interação social", que me faz dar sorrisinhos, a minha cara é de cu, porque eu passo 80% do meu tempo no trabalho, que não é onde eu queria estar. Se eu passasse 80% do meu tempo debaixo das cobertas comendo chocolate e vendo seriados, talvez tivesse uma cara um pouco mais amigável. E quando estou no trabalho, passo algum tempo vadiando em blogs diarinhos e redes sociais, então eu redobro o que eu chamo de "cara de trabalho", que imagino ser uma expressão ubber concentrada: testa franzida, olhos fixos na tela e mãos no queixo. De vez em quando praguejo qualquer coisa para dar mais credibilidade. Assim as pessoas pensam que estou super ocupada numa tarefa difícil e não me aborrecem.

Só que, aparentemente, eles não interpretam isso como "cara de trabalho", mas sim como "cara de psicopata homicida de quem eu não vou me aproximar nem que minha vida dependa disso". Descobri recentemente que um monte de gente no trabalho morre de medo de mim. Fiquei chocada e fui contar pro Paulo. "Mas eu sou tão fofa e besta, por que as pessoas teriam medo de mim?". E ele fez a confissão mais chocante de todas: ele também tinha medo de mim quando éramos só coleguinhas de trabalho.

Um parênteses sobre o Paulo: ele é o melhor namorado do mundo, mas é também o seu pior pesadelo enquanto colega de trabalho. Sabe aqueles pesadelos que vc tem às vezes em que vc está pelado e seu chefe está dizendo que seu trabalho é uma merda? Tirando a nudez, o resto ele faz. É pragmático, direto, patologicamente honesto, mal-humorado e sem papas na lingua. Eu adorava trabalhar com ele porque pensava na fortuna que estava economizando em pós-graduação, mas muita gente tinha pavor. E essa pessoa tinha medo de mim.

Passado o choque inicial de ser percebida de uma forma tão destoante daquilo que eu imagino ser, comecei a me perguntar se isso é realmente tão ruim. Ok, eu não vou ser eleita pra Cipa, nem chamada pras gincanas nas festas de confraternização. As pessoas vão continuar me entregando as coisas em dia e enchendo pouco o meu saco. Ninguém vai se passar além da conta. É estranho (bem estranho), mas acho que me agrada. E daí à noite eu encho a cara com os amigos e imito o dom Lázaro, mas só pra quem realmente merece esse espetáculo.

Acho que pode funcionar muito bem.