Então é assim. Eu me considero uma pessoa relativamente simpática e educada. Dou uma cota considerável de sorrisinhos por dia e trato bem mesmo quem eu não vou muito com as fuças, porque sei que é o que pede a boa educação. Porém, não sou a mais expansiva das pessoas. Nem a mais ou menos. Não sou nada expansiva, pronto. Sou tímida e reservada. Prefiro ouvir do que falar. Não puxo assunto no elevador, mas respondo se puxarem. Eu nasci assim, eu cresci assim, Gabrieeela.
Mas acontece que eu tenho a maior cara de cu. A maior de todas. Quando não estou me esforçando no modo "interação social", que me faz dar sorrisinhos, a minha cara é de cu, porque eu passo 80% do meu tempo no trabalho, que não é onde eu queria estar. Se eu passasse 80% do meu tempo debaixo das cobertas comendo chocolate e vendo seriados, talvez tivesse uma cara um pouco mais amigável. E quando estou no trabalho, passo algum tempo vadiando em blogs diarinhos e redes sociais, então eu redobro o que eu chamo de "cara de trabalho", que imagino ser uma expressão ubber concentrada: testa franzida, olhos fixos na tela e mãos no queixo. De vez em quando praguejo qualquer coisa para dar mais credibilidade. Assim as pessoas pensam que estou super ocupada numa tarefa difícil e não me aborrecem.
Só que, aparentemente, eles não interpretam isso como "cara de trabalho", mas sim como "cara de psicopata homicida de quem eu não vou me aproximar nem que minha vida dependa disso". Descobri recentemente que um monte de gente no trabalho morre de medo de mim. Fiquei chocada e fui contar pro Paulo. "Mas eu sou tão fofa e besta, por que as pessoas teriam medo de mim?". E ele fez a confissão mais chocante de todas: ele também tinha medo de mim quando éramos só coleguinhas de trabalho.
Um parênteses sobre o Paulo: ele é o melhor namorado do mundo, mas é também o seu pior pesadelo enquanto colega de trabalho. Sabe aqueles pesadelos que vc tem às vezes em que vc está pelado e seu chefe está dizendo que seu trabalho é uma merda? Tirando a nudez, o resto ele faz. É pragmático, direto, patologicamente honesto, mal-humorado e sem papas na lingua. Eu adorava trabalhar com ele porque pensava na fortuna que estava economizando em pós-graduação, mas muita gente tinha pavor. E essa pessoa tinha medo de mim.
Passado o choque inicial de ser percebida de uma forma tão destoante daquilo que eu imagino ser, comecei a me perguntar se isso é realmente tão ruim. Ok, eu não vou ser eleita pra Cipa, nem chamada pras gincanas nas festas de confraternização. As pessoas vão continuar me entregando as coisas em dia e enchendo pouco o meu saco. Ninguém vai se passar além da conta. É estranho (bem estranho), mas acho que me agrada. E daí à noite eu encho a cara com os amigos e imito o dom Lázaro, mas só pra quem realmente merece esse espetáculo.
Acho que pode funcionar muito bem.
11 comentários:
Você com certeza seria a pessoa que eu escolheria para socializar se eu trabalhasse com você. Escolho meus amigos pela cara fechada.
Curso, Suzana. Ensina a gente já!
Sempre leio, mas nunca comento. Tímida e reservada, entende? É. E hoje especialmente tive que comentar, pq muito do que tu escreve aí, especialmente o primeiro parágrafo, sou eu. Então valeu muito por o alento final e por ajudar um pouco um dia bem "tifíceo".
bj
Ai gente, nunca pensei que fosse ser bom ter cara de cu. Muitos abracinhos pra vcs!
Acho que nunca sabemos mesmo a imagem que as pessoas têm da gente. Eu faço super questão da cara de cu e de cultivar aquela acidez diária. Pois que recentemente fui chamada de fofa por várias pessoas. Vai entender...
O pessoal aí tá se identificando com o primeiro parágrafo, eu estou com o quarto.
HAHAHAHAHAHAHAHAHA, todo mundo da vida corporativa de bosta está, Padula. Todo mundo.
olá, descobri seu blog por acaso e achei as postagens muito interessantes.
também fico chocado, pois segundo as pessoas que me conhecem, tenho um ar blasé que afasta todo mundo (enquanto não me considero nada blasé...)
enfim, parabéns pelo blog.
posso roubar o segundo parágrafo e colocar no meu linkedIn? rs
hahahaha, boa Dima! fikdik pros caléga, né?
Ai Gente... pode ser bom as vezes, mas é tão bom trazer as pessoas pra perto de voce, passar uma energia positiva pq se um dia vc precisar eles vão querer te ver na pior
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