Sim, sim, eu sei que faz séculos que não
compareço e nem sei se voltarei a comparecer. Compareci hoje porque achei que hoje
era um dia do qual eu vou querer me lembrar no futuro.
Acho que esta é a primeira vez nos meus 34
anos que vejo o brasileiro AGINDO, em vez de reclamar. Diretas Já eu não vi, ou
não tinha idade para lembrar. Teve Collor antes, mas acredito que aquilo foi
muito mais para ficar bonito na mídia. Collor teria saído de qualquer forma.
Dessa vez, não. Dessa vez a gente nem sabe ainda onde tudo isso pode chegar.
Dessa vez, não interessa para nenhum governante ter gente protestando na rua –
ainda mais assim tão perto da Copa. Dessa vez, a Rota está na rua e a polícia –
montada, inclusive - está arroxando pra valer. Parece que voltamos à 1964. Está
de dar medo.
E o engraçado é que nunca me senti mais
segura. Eu, que sempre tive medo até da minha sombra, que tenho medo de
barata, de assalto, de zumbi. Que ouço
tiro em escapamento de moto. Mal consigo trabalhar. Quero ir pra rua, quero
fazer parte disso. “Mas tem bombas, tem cavalaria”. Pois que venham. A gente
tem direito de dizer “Chega”. Chega de
sentir medo.
Um amigo querido que mora em outro país
lamentou a violência que viu em vídeos, no país dele, com as pessoas dele.
Disse estar triste e chocado. Estamos todos. Infelizmente mais tristes que
chocados, conhecendo a polícia e o governo que temos. Mas tem uma outra coisa
maior do que a tristeza e maior do que o medo, uma coisa que eu mesma não
sentia há muitos anos: esperança. De que dá, sim, pra fazer alguma coisa. De
que a gente não precisa se conformar com a barbárie, o desrespeito, a sacanagem
toda.
Não acho que isso vai significar uma
mudança imediata. Não acho nem que vão aceitar baixar os tais 20 centavos que
começaram tudo. Mas acho que o povo acordou e não vai mais aceitar as coisas
tão calado, nem conseguir olhar só pro seu umbigo, ou pro trânsito que
atrapalha a ida pra casa. E só isso já é muita coisa. Só isso já é o começo de
tudo.
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