quarta-feira, maio 25, 2005

Cai de boca

Achei muito oportuno esse texto do Xico Sá. Resolvi reproduzir aqui porque ontem mesmo eu estava pensando que não tem coisa mais detestável do que você estar lá detonando uma porção de pururuca, ou um pastel de feira, ou um x-salada bacon e uma pentelha da mesa virar e falar: ai, vc sabe quantas calorias tem aí? Não, não sei, não quero saber e provavelmente comerei outro depois desse, só de raiva. Quem quer se privar de uma das melhores coisas da vida - que é comer (e comer mal, comer porcaria, comer tudo aquilo que te leva ao céu enquanto entope suas artérias) - que o faça sem encher meu saco. Eu, graças a Deus, tenho um homem que é homem me esperando em casa e tou cagando e andando pras calorias. Bom, o texto:

Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface.

A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, uma massa, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa, um torresmo decente.

Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ''Os Desajustados'', quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando um prato. E elogia a atitude da moça.

Toda preocupação feminina está voltada para a estatística das calorias, as quatro operações da magreza absoluta. É como se todas fossem posar para a ''The Face'' do dia para a noite. Mal sabem que isso não tem, para homem que é homem, quase nenhuma importância.

François Truffaut, o cineasta, padrinho sentimental deste cronista, já alertava, em depoimentos registrados em suas biografias, o valor insuperável das mulheres normais e o seu belo mundo de pequenas imperfeições.

Além do prazer de vê-las comendo, pesquisas recentes mostram que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol, costumam ser mais nervosas, dão mais trabalho em casa ou na rua. Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer, reiniciá-las nesse crime perfeito.

Às fogazzas, aos pastéis, ao sanduíche de mortadela, ao lombo, de lamber os lábios, do bar e lanches ?Estadão?... Ao prato do dia: hoje, virado à paulista; terça, dobradinha; quarta, feijoada; quinta, rabada; sexta um peixinho, mas com muito purê, arroz e molho na fartura; sábado, mais uma feijuca; domingo, bem, aquele macarrão com frango, um clássico.

O importante é reabrir o apetite das moças, pois homem que é homem não sabe sequer _nem procura saber_ a diferença entre estria e celulite.


Nenhum comentário: