segunda-feira, maio 23, 2005

Nada de novo no front

Vida chata e desinteressante. Nada acontece.
No sábado fez dois meses e eu não consegui dizer nem "já" e nem "ainda", hora é um, hora é outro. É chato, porque não passa. Você quer se convencer de que passou e de que você é forte e adulta e que está aceitando tudo perfeitamente, porque a vida tem dessas coisas, fazer o que, bola pra frente, mas tem ataques de choro dentro do guarda-roupa que ninguém mais abre, quando fica só na casa que não é mais sua (e de ninguém mais, parece). A hora de dormir é a melhor, porque pode ser que você sonhe. Mas você não sonha nunca, e o dia seguinte é pior porque você acorda com medo de esquecer da voz, da fisionomia, do cheiro, da textura do cabelo. E todo dia seguinte é pior que o anterior. E daí você abre a carteira para pegar o cartão de uma loja e acha um bilhete que tinha esquecido que estava lá e se dá conta de que nunca mais recebrá outro - e você tem tão poucos... Não é nem um pouco difícil agir normalmente, rir, fazer piada, procurar emprego, ir ao teatro, trabalhar muito, tomar cerveja. A única diferença é que nada disso é de verdade, não é exatamente você que está lá fazendo tudo isso, é o robozinho que você programou para fazer essas coisas no seu lugar enquanto você se esconde no canto escuro do seu cérebro até juntar vontade bastante para sair de lá. E cadê que vem? Mesmo as coisas muito, muito boas, só são um pouco boas. As ruins, por sua vez, também não são mais tão ruins. Afinal, o grau de comparação mudou consideravelmente de nível. E daí vc suspira e escreve, pra ver se passa. É claro que não passa, mas quando você acaba alguma coisa já aconteceu e desviou seus pensamentos. Em vez de xingar, vc agradece, até o próximo round.

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