Namorido anda meio puto comigo porque eu virei um tijolo na parede que só sabe jogar joguinho de computador. A cadeira já até ficou com o formato da minha bunda. Acho que se me mandassem escolher entre o cigarro e o joguinho, eu ficava com o joguinho. Veja bem, uma mulher beirando os trinta, namorando um joguinho. É tão triste que me dá uma dor.
Mas eu tenho esse gene do vício por criar enredos, então a culpa não é só minha, é da minha genética podre. Quando eu era criança pequena lá em Barbacena e a aula estava chata, eu não dormia, nem escrevia, nem conversava com o coleguinha. Eu criava uma história de amor entre a Bic azul e a vermelha. Se a aula fosse muito comprida, dava tempo deles casarem e parirem a borracha e o apontador. Às vezes um morria, se jogava da carteira para o chão, e eu até chorava pelo final triste dos dois. Em três ocasiões a professora percebeu e me mandou compartilhar com a classe e eu tive de dizer que estava falando sozinha, o que não me criou uma boa fama escolar, além da vergonha absurda. Hoje não brinco mais com artigos de papelaria, mas estou sempre fantasiando e criando enredinhos, e imaginando o que faria com o prêmio da Mega Sena ou com o Sawyer todinho. Não vou me tratar. Acho que é uma válvula de escape muito saudável à realidade nojenta e cruel. Tem gente que acha que é esquizofrenia, mas eu não ligo pra essa gente. Em todo o caso, para o bem do casamento, pedi pro namorido tirar o mouse do computador de casa e esconder, durante a semana. Tomara que funcione.
Nenhum comentário:
Postar um comentário