sábado, dezembro 22, 2007

Um desabafo que só diz respeito a mim

Devastação total. Você já sentiu isso? Não queira. Eu não queria sentir de novo, eu tinha jurado que não sentiria de novo.Você pode dizer que não há como prevenir esse tipo de coisa, mas há e é simples. Basta vc não deixar ninguém chegar perto o bastante , não deixar ninguém enxergar tuas fraquezas ou se tornar essencial para você. Pode parecer duro, mas vale a pena. Nada é pior do que a devastação, meu amigo.

As pessoas ficam se lamentando por passar pela vida sem sentir coisa alguma, mas isso é bullshit pra vender novela. Se você abre a guarda assim, está sujeto a ser avaliado, a ouvir o que não quer e sentir toda a gama dos piores sentimentos do mundo - o que você certamente também não quer. Claro, para chegar ao inferno, você passa pelo paraíso. Porém, o paraíso dura pouco, enquanto o inferno é eterno. Lá, vc é obrigada a se lembrar diariamente que não é bom o bastante, que não se esforçou o suficiente, que não gostou do jeito certo. E nessa hora, você deseja fervorosamente voltar no tempo, para não ser estúpida o bastante, para não se deixar levar pelas promessas do paraíso. Você deseja apagar o paraíso todo da memória e se reconstruir inteira, sem passado.

Então eu choro três litros, penso em sucídio, respiro bem fundo e começo a aceitar que não dá pra apagar o paraíso, a menos que a tentativa de suicídio inclua traumatismo craniano com perda de memória. E então eu me lembro do meu filme favorito, claro. Tudo sempre leva a ele. Joel precisou começar a apagar suas memórias para perceber que não era nada sem elas e que não queria ser alguém sem elas.

Eu sempre soube que isso podia dar tremendamente errado. Deveria ter dado, desde o começo. Mas deu tremendamente certo, e foi um susto para todos os envolvidos. Fui colecionando os momentos mais preciosos de toda a minha vida. Eu tinha vontade de guardar cada um em uma caixinha, para poder voltar a eles depois, para garantir que eles estariam ali quando nada mais estivesse. Se Lacuna Inc realmente existisse, pode ser que eu ficasse tentada a me tornar cliente. Agora, nesse minuto, eu ligaria pra lá, pediria pra apagarem tudo pra ver se pára de doer. E ia parar.

Mas ia sobrar o que? Como eu poderia viver sem a minha caixinha? Eu simplesmente não quero, mesmo que agora só me restem as lembranças. É muito pouco perto de tudo que eu tinha sonhado pro futuro. Mas é gigantesco perto de todas as outras caixas que eu já colecionei em toda a vida. No fim, não é só bullshit de novela. É devastação, mesmo, é semi-vida. Mas antes, nem vida existia, eu não existia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Isso aconteceu comigo e eu o que mais eu queria era ter o telefone do Dr. Howard e acabar com as lembranças sem guardar nada, muito menos a tal caixinha com as tranqueiras possíveis. E a coisa mais besta que podem dizer é que o tempo se encarrega de arrumar, e não é que se encarrega mesmo!
Boa sorte!

Anônimo disse...

Estou tendo um momento semelhante, e olha só, andei com a caixinha vazia muito tempo, agora recuperei umas caixinhas antigas e elas foram muito úteis. De dentro de algumas saíram escorpiões que me picaram, mas acredite, TUDO é melhor que as caixas vazias. Continue existindo.

Olheiro da Desgraça disse...

Devastação é bom pra endurecer o coração. E aprender que é sempre bom manter um pé atrás.