No fatídico ano de 2005, quando eu estava vegetando e sem iniciativa sequer pra tomar banho, minha terapeuta perguntou se eu queria drogas. Ela relutou, me encheu de florais e de cafunés, mas quando viu que eu continuava fora de órbita, me sugeriu partir pra química amiga. Eu não quis. Menos por princípios e mais porque eu não tinha ânimo nem pra isso. E também porque eu tinha maior medão de ficar tipo a Leila Lopes, de arrancar as roupas no meio do viaduto do chá, de babar no meio das reuniões. Minha autocrítica ainda era maior que o meu pesar. E passei, sem elas.
Dois anos depois, outra terapeuta sugeriu de novo. Não quis de novo. "Tô uótima, ameega". Tava bem louca do cu, na outra ponta da bipolaridade. "Vou mudar minha vida, gente. Vou me reinventar, vou viver como se não houvesse amanhã, u-huuuuuuuu". Remédios teriam ajudado a ver as coisas com mais clareza e menos paixão, eu acho. A decidir com os pés no chão. Mas eu não quis, porque eu tinha que sentiiiiiiiiiiiiir. Ai, os sentimentos. Que coisa mais incrível.
Hoje, eu quero simplesmente que os sentimentos se fodam. Se fodam de verde, amarelo e azul. Se fodam em todas as posições possíveis. E que ninguém me venha com essa de que os sentimentos fazem você amadurecer. PAU NO CU BEM GRANDÃO DO AMADURECIMENTO. Cansei, tô cheia, pra que? Essa história de sentimentos não serve pra NA-DA. A vida inteira eu fui de uma passionalidade louca e doente, ridícula, nociva. E o que eu aprendi com isso, amiguinhos? Na-da. Zerinho-um. É só dor, dor e loucura que não me levam pra porra de lugar nenhum.
Eu nunca usei o cérebro, por isso ele atrofiou. Cansou, pegou a trouxa e foi-se embora pra passárgada fazer uns cálculos em alguma dimensão paralela. Enquanto eu continuo aqui me consumindo em tristezas, ódios, arrependimentos, humilhações e vergonhas. Cansei dessa merda toda. Seu dotô, me dá aí o mais tarja preta que o senhor tiver. Tarja roxa, tem? Pois quero esse. Tire toda essa bosta de sentimentos de mim e me transforme num robozinho. Quero olhar filhotes de gatinhos com a mesma emoção com que olho um tijolo. Quero lembrar do passado com a mesma animação com que me lembro da lista do supermercado. Quero me preocupar com o futuro com a mesma intensidade com que me preocupo o degelo do freezer.
Porque eu posso. Do mesmo jeito que eu podia ficar me martirizando eu posso não sentir nada. E eu opto por esse, porque não tenho vocação pra santa. Sempre achei ridículos os espinhos daquela santa, acho que é Rita o nome dela.
E, se qualquer dia desses vocês me virem arrancando as roupas do viaduto do chá, por favor me levem uma mantinha. Porque se eu pego uma pneumonia é capaz de querer cortar meu tarja preta.
*Eu avisei que estavam por vir mimimis hardcore. Daqui pra frente é ladeira abaixo, criançada amiga.
9 comentários:
De repente pode ser bom enxergar as coisas de uma forma diferente. Vou torcer pra dar tudo certo. E emoções fazem parte de ser mulher, só por isso vc já tem um desconto.
Eu não ligo de ler mimimi hardcore. Sou suspeita porque adoro tudo que vc escreve desde 2005. Então, eu acho que você deveria vomitar tudo num livro e tentar publicar. Tem uma dica bacana aqui: http://janalauxen.blogspot.com/2008/11/h.html
Porque o remédio resolve sim, e é ótimo. Digo como alguém que já tomou muito tarja preta. Mas escrever também é ótimo. Ajuda a por as coisas no lugar.
Se joga que eu juro que compro e peço autógrafo \o/
Quando a minha terapêutica falou que eu estava com depressã moderada, eu fui bem direta e disse: ah, então eu tenho que ir num psiquiatra para tomar remédios?
Nossa, ela reagiu super ofendida, assim, como se eu tivesse dito que eu não confiava nela e tals.
No fim não tomei nada, mas eu acho que ajuda muitíssimo tomar sim, especialmente em algumas fases "difíceis".
Olha, uma vez fui numa psiquiatra, faz uns cinco anos. Bastou eu responder algumas perguntinhas pra ela dizer que eu precisava urgentemente parar de sair à noite, parar de beber e começar a tomar tarjas pretas. Disse até que eu tinha que parar de ver meus amigos. Saí de lá com receita de dois remédios. Só comprei o Diazepan pras noites de insônia e nunca mais fui em porra de psiquiatra nenhum. Trato minha deprê com muito álcool, música alta, substâncias ilícitas e companhia de gente insana. Tem funcionado.
Meu, tb ando na fase "mimimis hardcore". Vai ver que é a fase da lua...
Meu, tb ando na fase "mimimis hardcore". Vai ver que é a fase da lua...
Uma vez percebi que existem aqueles adesivos pra emagrecer, pra parar de fumar, mas não tinha nenhum pra tristeza. Então fiquei pensando num, que era tipo assim: 'Mate-se. Pergunte-me como.'
Pra pôr no vidro do carro.
Será que sexo casual ajuda ?
Comigo pizza e uma Coca de 2 litros inteira funciona.
Mmmárcio
Na moral... viadagem do caralho. :P
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