Não tem aqueles dias em que vc acorda e se pergunta: "eu preciso MESMO sair daqui? Pra que?". Não que a cama esteja quentinha e gostosa, se for só isso é ótimo. Mas porque as respostas para o seu por que parecem tão idiotas... Eu preciso sair daqui porque tenho contas a pagar. Eu preciso sair daqui porque tem louça de seis dias na pia. Eu preciso sair daqui senão serei mandada embora de um trabalho que não significa absolutamente nada para mim. Eu preciso sair daqui porque senão terei que conversar com meu marido. Eu preciso sair daqui porque estou ficando velha e não arrumei um homem ainda e morrerei sozinha, afogada no meu próprio xixi. Eu preciso sair daqui porque senão vão pensar que sou vagabundo.
Ultimamente tenho acordado assim com frequencia. Eu não consigo encontrar uma única justificativa realmente boa para me levantar, o que é uma coisa bastante loser de se admitir. Geralmente eu me levanto porque já não aguento mais de vontade de fumar ou fazer xixi, então podemos concluir que meu vício e minha minúscula bexiga colaboram com a manutenção da minha sanidade. Mas ainda não me parecem motivos realmente bons para abandonar a cama.
Ganhar um milhão de dólares é um bom motivo para abandonar a cama. Ir para o Alaska, alimentar o cachorro, receber amigos, assistir seriados e mergulhar também. Não saber como vai ser aquele dia nem todos os outros pelo resto de sua vida ajuda. Mas nada disso acontece com frequencia. Quase nunca acontece.
Do alto dos meus trinta anos, eu ando com a impressão de que podem mudar os atores e o cenário, mas o enredo da minha vida vai ser sempre igual. E ele é tão entediante que eu prefiro dormir.
* Outro dia acordei com vontade de aprender a aplicar sombra nos olhos. Me pareceu um motivo muito bom, mas se mostrou um FAIL em caixa alta. Fiquei parecendo um travesti da rua Aurora e voltei pra cama mais deprimida, por constatar mais uma coisa que eu não sei fazer.
terça-feira, maio 26, 2009
segunda-feira, maio 11, 2009
Da intolerância literária
Eu gosto de literatura ruim. Harry Potter, Crepúsculo, Bridget Jones e seus derivados, Melancia... A lista é infinita. Tem desenhos na capa? Tem muherzinhas rosadinhas na capa? Tem piadinhas irônicas e sagazes? Tem potencial pra virar filme? Eu gosto.
E vc aí do outro lado pensa, tá, e daí? É que revelar isso assim, prosmeus 4 leitores o mundo todo é um imenso passo para minha auto-estima. Porque eu sempre li tudo isso em segredo, cheia de culpa e vergonha, perguntado ao Criador por que eu não conseguia ler Hemingway, Dostoievsky, Proust ou qualquer outro escritor de nome difícil com a mesma voracidade. Eu queria tanto ser inteligente!
Na minha outra casa eu tinha até uma estante da vergonha, onde toda a literatura ruim ficava escondida atrás da "Coleção Folha Grandes Escritores", cheia de Marguerite Duras, Henry Miller e Thomas Mann, comprada em 2002 e ainda no plástico. E tinha uma capa falsa pra embrulhar os Sidney Sheldon e Stephen King que eu devorava no ônibus.
Esta é a coisa mais idiota que eu já revelei na vida, mas eu simplesmente não conseguia lidar com o fato das pessoas pensarem que eu era o tipo de gente que lê esse tipo de coisa, porque este era um tipo de gente que eu mesma desprezava. Toda uma intolerância arraigada, desde a faculdade, quando cheguei saltitante e despreocupada com "Se houver amanhã" debaixo do braço e uma colega fez um escândalo tão grande que quase chamaram a polícia. Para prender a mim, por ousar ir para a faculdade com aquilo. Desde aquele dia, decidi que jamais passaria tal humilhação novamente. Eles iam ver só.
E foram anos e anos lendo uma tonelada de clássicos. Livros chatíssimos, mas eu fazia aquela cara de "Brilhante!" e me convencia que a felicidade residia em absorver cultura. As pessoas passaram a me respeitar, mas eu ainda não estava feliz. Sentia falta de aventuras mirabolantes, de piadas bestas, de zumbis e de elfos. Então eu aprendi a fingir e me encontrei. Os colegas de cafés filosóficos e leitores do meu perfil no orkut acreditavam que meu livro favorito era Crime e Castigo. Daí eu chegava em casa e me acabava com o Prisioneiro de Azkaban. Uma década de vida dupla. De dia Maria, de noite, nerd.
Hoje, graças a algo ainda mais vergonhoso chamado "Sessão de auto-ajuda", eu consigo me assumir publicamente perante a sociedade letrada. Joguei fora a estante da vergonha e exibo minha caixa importada de Lord of The Rings orgulhosamente na sala. Folheio Gossip Girl na Livraria Cultura sem me preocupar se alguém está vendo. Compro livros sobre participantes de reallity show gordas sem nenhuma dor. Para o bem ou para o mal, estou curada da minha empáfia, e bastante menos culta.
Mas em verdade, em verdade vos digo: Balzac é chato pra caralho e café filosófico de cu é rola.
E vc aí do outro lado pensa, tá, e daí? É que revelar isso assim, pros
Na minha outra casa eu tinha até uma estante da vergonha, onde toda a literatura ruim ficava escondida atrás da "Coleção Folha Grandes Escritores", cheia de Marguerite Duras, Henry Miller e Thomas Mann, comprada em 2002 e ainda no plástico. E tinha uma capa falsa pra embrulhar os Sidney Sheldon e Stephen King que eu devorava no ônibus.
Esta é a coisa mais idiota que eu já revelei na vida, mas eu simplesmente não conseguia lidar com o fato das pessoas pensarem que eu era o tipo de gente que lê esse tipo de coisa, porque este era um tipo de gente que eu mesma desprezava. Toda uma intolerância arraigada, desde a faculdade, quando cheguei saltitante e despreocupada com "Se houver amanhã" debaixo do braço e uma colega fez um escândalo tão grande que quase chamaram a polícia. Para prender a mim, por ousar ir para a faculdade com aquilo. Desde aquele dia, decidi que jamais passaria tal humilhação novamente. Eles iam ver só.
E foram anos e anos lendo uma tonelada de clássicos. Livros chatíssimos, mas eu fazia aquela cara de "Brilhante!" e me convencia que a felicidade residia em absorver cultura. As pessoas passaram a me respeitar, mas eu ainda não estava feliz. Sentia falta de aventuras mirabolantes, de piadas bestas, de zumbis e de elfos. Então eu aprendi a fingir e me encontrei. Os colegas de cafés filosóficos e leitores do meu perfil no orkut acreditavam que meu livro favorito era Crime e Castigo. Daí eu chegava em casa e me acabava com o Prisioneiro de Azkaban. Uma década de vida dupla. De dia Maria, de noite, nerd.
Hoje, graças a algo ainda mais vergonhoso chamado "Sessão de auto-ajuda", eu consigo me assumir publicamente perante a sociedade letrada. Joguei fora a estante da vergonha e exibo minha caixa importada de Lord of The Rings orgulhosamente na sala. Folheio Gossip Girl na Livraria Cultura sem me preocupar se alguém está vendo. Compro livros sobre participantes de reallity show gordas sem nenhuma dor. Para o bem ou para o mal, estou curada da minha empáfia, e bastante menos culta.
Mas em verdade, em verdade vos digo: Balzac é chato pra caralho e café filosófico de cu é rola.
terça-feira, maio 05, 2009
Em casa, finalmente
Poisé, mané, voltei pra casa. Um ano depois, tô de volta a SP. No fim, parece que eu nunca nem fui. E acho que nem devia ter ido.
Mas agora é casa nova de novo, arrumar mudança de novo, fazer obra de novo. Eu abro a minha janelona de manhã e vejo todo aquele caos, poeira, buzinas, atropelamentos, fugas e sinto uma paz tão grande. Nunca mais ouvi um único passarinho. Um único papagaio. Nunca mais atravessei a rua sem olhar pros dois lados. Já tomei chuva e andei na água de leptospirose. Feliz da vida porque tô de volta pro meu aconchego, trazendo na mala bastante saudade.
Sorrio pras moças de cabelos e roupas coloridas, pros moços de saia e chinelo, pras velhinhas de decote até o umbigo, pros velhinhos passeando com os cachorrinhos, pro vendedor de bala no sinal, pros ratos debaixo da ponte, pros malucos que falam sozinhos, pras primas da Augusta, pros ônibus que sacolejam e pra toda a feiúra de SP. Cidade mais linda do mundo, por causa de tanta feiúra. Se tem lugar melhor, me recuso a admitir. Piores são todos. Igual não existe.
E não discuta comigo. Discutir com uma pessoa apaixonada é a coisa mais idiota que alguém pode fazer. E eu estou vivendo meu grande e eterno e infinito amor. Felizes para sempre.
Aqui, e cerveja? Ainda vende nessa cidade? Ninguém me convida mais não?
Mas agora é casa nova de novo, arrumar mudança de novo, fazer obra de novo. Eu abro a minha janelona de manhã e vejo todo aquele caos, poeira, buzinas, atropelamentos, fugas e sinto uma paz tão grande. Nunca mais ouvi um único passarinho. Um único papagaio. Nunca mais atravessei a rua sem olhar pros dois lados. Já tomei chuva e andei na água de leptospirose. Feliz da vida porque tô de volta pro meu aconchego, trazendo na mala bastante saudade.
Sorrio pras moças de cabelos e roupas coloridas, pros moços de saia e chinelo, pras velhinhas de decote até o umbigo, pros velhinhos passeando com os cachorrinhos, pro vendedor de bala no sinal, pros ratos debaixo da ponte, pros malucos que falam sozinhos, pras primas da Augusta, pros ônibus que sacolejam e pra toda a feiúra de SP. Cidade mais linda do mundo, por causa de tanta feiúra. Se tem lugar melhor, me recuso a admitir. Piores são todos. Igual não existe.
E não discuta comigo. Discutir com uma pessoa apaixonada é a coisa mais idiota que alguém pode fazer. E eu estou vivendo meu grande e eterno e infinito amor. Felizes para sempre.
Aqui, e cerveja? Ainda vende nessa cidade? Ninguém me convida mais não?
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