segunda-feira, maio 11, 2009

Da intolerância literária

Eu gosto de literatura ruim. Harry Potter, Crepúsculo, Bridget Jones e seus derivados, Melancia... A lista é infinita. Tem desenhos na capa? Tem muherzinhas rosadinhas na capa? Tem piadinhas irônicas e sagazes? Tem potencial pra virar filme? Eu gosto.

E vc aí do outro lado pensa, tá, e daí? É que revelar isso assim, pros meus 4 leitores o mundo todo é um imenso passo para minha auto-estima. Porque eu sempre li tudo isso em segredo, cheia de culpa e vergonha, perguntado ao Criador por que eu não conseguia ler Hemingway, Dostoievsky, Proust ou qualquer outro escritor de nome difícil com a mesma voracidade. Eu queria tanto ser inteligente!

Na minha outra casa eu tinha até uma estante da vergonha, onde toda a literatura ruim ficava escondida atrás da "Coleção Folha Grandes Escritores", cheia de Marguerite Duras, Henry Miller e Thomas Mann, comprada em 2002 e ainda no plástico. E tinha uma capa falsa pra embrulhar os Sidney Sheldon e Stephen King que eu devorava no ônibus.

Esta é a coisa mais idiota que eu já revelei na vida, mas eu simplesmente não conseguia lidar com o fato das pessoas pensarem que eu era o tipo de gente que lê esse tipo de coisa, porque este era um tipo de gente que eu mesma desprezava. Toda uma intolerância arraigada, desde a faculdade, quando cheguei saltitante e despreocupada com "Se houver amanhã" debaixo do braço e uma colega fez um escândalo tão grande que quase chamaram a polícia. Para prender a mim, por ousar ir para a faculdade com aquilo. Desde aquele dia, decidi que jamais passaria tal humilhação novamente. Eles iam ver só.

E foram anos e anos lendo uma tonelada de clássicos. Livros chatíssimos, mas eu fazia aquela cara de "Brilhante!" e me convencia que a felicidade residia em absorver cultura. As pessoas passaram a me respeitar, mas eu ainda não estava feliz. Sentia falta de aventuras mirabolantes, de piadas bestas, de zumbis e de elfos. Então eu aprendi a fingir e me encontrei. Os colegas de cafés filosóficos e leitores do meu perfil no orkut acreditavam que meu livro favorito era Crime e Castigo. Daí eu chegava em casa e me acabava com o Prisioneiro de Azkaban. Uma década de vida dupla. De dia Maria, de noite, nerd.

Hoje, graças a algo ainda mais vergonhoso chamado "Sessão de auto-ajuda", eu consigo me assumir publicamente perante a sociedade letrada. Joguei fora a estante da vergonha e exibo minha caixa importada de Lord of The Rings orgulhosamente na sala. Folheio Gossip Girl na Livraria Cultura sem me preocupar se alguém está vendo. Compro livros sobre participantes de reallity show gordas sem nenhuma dor. Para o bem ou para o mal, estou curada da minha empáfia, e bastante menos culta.

Mas em verdade, em verdade vos digo: Balzac é chato pra caralho e café filosófico de cu é rola.

22 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esse post!

Unknown disse...

precisamos brindar a este momento de clareza!
(o livro do crepúsculo é melhor que o filme?)

Momento Descontrol disse...

Eu não vi o filme, mas dizem que o filme é muito ruim, então, já que eu gostei tanto, eu espero que seja...

dima disse...

Vc não deve lembrar, mas me apresentou Bridget Jones!

Suzana disse...

Então meu pecado é maior ainda. Eu não só gosto de literatura ruim, como dissemino. Ai.

Dani disse...

Su, até já fiz um post sobre esse assunto. Porcaria é uma delícia, etcetera e tal. Que esse negócio de politicamente correto, literariamente correto, moralmente correto, é chato até dizer chega. Todo o meu apoio.
Bjs.

Thiago Padula disse...

Mas na lateral do seu blog tem referências ao mochileiro das galáxias, então tudo que resta é irrelevante.

Loo disse...

faz tempo que não lia nada tão sensato e honesto

(eu prefiro ler jornal, btw)

Anônimo disse...

Se houver amanhã é um clássico, marcou minha adolescência.

Simone

Anônimo disse...

Ai gente, tô me sentindo tão confortada.

LizandraMA disse...

Por falar nisso, você me emprestou um livrinho "picante", devidamente embrulhado em papel jornal, que não tô conseguindo encontrar. Deveria estar perto de "Caçando princípes e engolindo sapos" e "Ele simplesmente não está a fim de você", duas pérolas da minha estante que ganhei de amigas muito sábias e que me foram muito úteis. Livro sempre presta, e azar de quem não é capaz de desfrutá-los...

Anônimo disse...

Você é minha ídala, ja disso isso?
Me lembrou certa vez que eu falei que Machadão era chato e alguém quase me apedrejou em praça pública. Achei o texto mais digno que já li na vida. E assim como você, me libertei. Estou lendo os delírios de consumo de Becky Bloom e me divertindo horrores. E pros intelectualóides de plantão, um recado: voces são uó galere.

Dona Farta disse...

Eeeeei! Oi!

Então, nem sei como vim parar aqui neste sábado nublado e melancólico, mas o fato é que só fiquei com vontade de dizer que li "Crime e Castigo" entre um volume e outro de Becky Bloom...

E, ok, Harry Potter e Crepúsculo são um pouco demais pra mim, apenas pela minha implicância com coisas fantasiosas e afins, mas comprei A Próxima Grande Sensação na primeira vez que o vi, e nem fiquei com vergonha de contar pra ninguém, nem nada... hahaha

Adorei o Blog... vou fuçar!

Bjo!

Anônimo disse...

AFF. SER INTELECTUAL DÓI , COMO CANSA É UM PÉ N SACO MESMO ... PREFIRO LER SOBRE MARC JACOBS . CHANEL ,VALENTINO E ETC....

Anônimo disse...

Eu posso mentir mas adorei ler Bridget Jones pra mim por incrível q parece foi melhor q li... e olha q livros difícil eu tbm já li muitos ...

Camis Barbieri disse...

Eu sempre achei que precisa ler os clássicos pra coisa valer a pena. E eu li tanto livro que eu julgava obrigatório, sempre achando tudo muito chato, que eu uma hora eu parei de ler.
Leitura só vale a pena se a gente sente prazer com o livro. E eu sou amante de Bridget Jones, li todos os da série Crepúsculo 2 vezes e no momento, estou me acabando com a série Harry Potter, que virou um vício pra mim. Existem alguns clássicos que eu amo, mas são só aqueles que eu não li por obrigação. Se livros que a genet devora são literatura ruim e os que fazem a genet dormir são a boa literatura, acho que os valores estão seriamente invertidos.
E viva Stephenie Meyer e JK Rowling.

Camis Barbieri disse...

Ah, pra quem tem dúvida: Exceto Bridget Jones, que tem filmes à altura, Twilight e todos do Harry Potter não chegam aos pés dos respectivos livros.

Sandra Costa disse...

ah, eu acho que vc pode ser bem culta, sim, lendo o que vc quer ler. pois o importante é absorver algo que vá lhe fazer diferença, e não algo que faça diferença ao 'mundo' inteiro.

alguns trabalhos, livros, textos, filmes são obras de arte. mas, e daí? tem gente que gosta de trash mesmo. e devem ser respeitados!

tô contigo e não abro, e gostei muito do texto.

Tata disse...

Querida... eu era do tipo que ia ver filme francês e ficava com aquela cara de interrogação. E no dia que assisti ao tão falado Terra em Transe... Gente, não entendi lhufas. Atualmente, com 35 anos, nem pense em me convidar pra filme de arte. Vai ouvir uma gargalhada. Adoooooooro comédia romântica. So what? E café filosófico de cu é rola ever.
beijos

Aurora disse...

Muito bom! Saiba que dois dos livros que mais gostei e li e reli várias vezes foram "o Senhor dos Anéis" e as "as Brumas de Avalon" (que aliás nunca teve uma adptação à altura...)
A moça aí do post acima falou de "Terra em Transe" e eu não resito a dizer: Glauber Rocha é muitooooooo chato!!!! E olha que quase fui empalada viva por exprimir essa opinião em uma mesa de amigos cinéfilos rsrs...

Suzana disse...

Nossa, Terra Em transe é tortura, gente, tortura. Quase morri de tédio. Aurora, As Brumas de Avalon é meu livro favorito nessa vida inteira e na próxima. Já li umas 24 vezes.

Raquel disse...

Eu trabalhei 3 anos em uma livraria e li o setor de auto-ajuda quase todo. Poxa, eu me diverti, ri horrores, mas até hoje eu digo que era só trabalho :x