Taí uma frase que 9 entre 10 adolescentes escreve em seu diário. Quem verbalizou foi o Nirvana, mas acho que é versão de uma outra música. Ou não, minha memória do grunge se apaga um pouco mais a cada dia. Mas fato é que todo mundo sofre de autopiedade vez por outra. Ou não, talvez só a minha roda de amigos. Enfim. Eu utilizo a autopiedade como passatempo. É super adequada para aquelas horas em que vc está tipo esperando o ônibus sem nenhum livro e não quer fazer um balanço da sua vida, ou um orçamento doméstico ou um plano de carreira ou qualquer coisa que o valha, só deixar o pensamento vagar.
Dependendo do meu humor, meu pensamento pode escolher uma entre duas rotas invariavelmente. Quando estou feliz, gosto de imaginar o que faria se ganhasse na Mega Sena. Consigo passar ho-ras imaginando casas, viagens e orgias regadas a champanhes cujos nomes eu nem sei pronunciar. Consigo fazer a lista de quantos gatos e cachorros eu teria, quais seriam seus nomes e se eles viajariam ou não no meu barco, que também teria um nome espirituoso. Consigo me imaginar diante das atendentes da imobiliária de Curitiba jogando um bolo de dinheiro em suas caras e apagando meu nome de seu sistema. Ou então pagando o advogado mais caro do Brasil para foder com a vida delas. É um mundo de deliciosas possibilidades.
Porém, se eu estiver triste, gosto de pensar em opções de suicídio. Antes que se crie um alarde desnecessário ou se que organize uma intervenção, deixo claro que o simples fato de eu verbalizar esse tipo de coisa significa que eu jamais me matarei. Continue lendo e descubra por que eu viverei plenamente todos o tempo que me resta antes que o cancêr, a (ou o?) efisema, o AVC, o infarto ou qualquer outra dessa pragas que vocês, não fumantes, rogam efetivamente me alcance e me leve lenta e dolorosamente para o descanso eterno.
Pensar em métodos suicidas funciona mais ou menos como um quebra-cabeças em busca da morte perfeita. Faz anos que penso nisso e ainda não achei uma solução que preencha a todos os meus requisitos de boa morte. Como toda capricorniana, sou pau no cu e exigente, cheia de requisitos, então esse é um exercício difícil e que toma muito do meu tempo. Ainda não montei uma planilha excel de prós e contras, mas cogito a possibilidade. Eu acho que tem que ser uma coisa discreta, possivelmente indolor e que pareça um acidente, para não chocar as pessoas que ficam. Mentira, é principalmente para que eu não fique conhecida pelas próximas gerações da família como "aquela que se matou". Tem três casos na minha família e eu nem sei os nomes das pessoas, são só o tio que se matou, a tia que se matou e o marido da tia que se matou. Triste. Vamos, então, às opções do cardápio:
Tiro: Questão 1: suja. Não gosto de imaginar que alguém vai ter que limpar e provavelmente ficará me amaldiçoando e gerando mais karma ruim para minha alma, que já estará bem fodida, se de fato existir. Questão 2: pode dar errado. É bem improvável, já que este método está entre os mais eficazes, mas eu já ouvi histórias de gente que atirou 1 mm pro lado errado e ficou vegetando. Vegetando e cheio de cicatrizes. Vegetandop, cheio de cicatrizes e sem poder terminar o que começou, mundialmente conhecidos como os maiores losers da história. Questão 3: não conheço o submundo do crime, nunca vi uma loja de armas e ficaria muito paranóica se precisasse comprar uma. Reprovado.
Queda: Leia meus lábios: n-e-m-f-o-d-e-n-d-o. Tenho horror de altura, tenho horror da bundgee jumping, tenho horror daquele brinquedo do Hopi Hari que despenca de 20 metros de altura e da sensação do estômago literalmente andar até a boca. Se eu escolhesse esse, ia ficar a queda toda me chamando de idiota e não é assim que quero passar os últimos segundos em minha doce companhia.
Veneno: Nip Tuck me fez desistir, mostrando que não é sereno nem pacífico, que você se vomita todo e sente dores excruciantes. Além disso, sou glamourosa demais para tomar algo indicado para ratos.
Remédios: envolve intensa pesquisa até descobrir o tipo e a dosagem certos. Depois, mais suor para conseguir a receita (se bem que eu sempre recebo spams me oferecendo toda a farmacologia disponível a um clique). Mas nesse caso, Ruy Castro me fez desistir, demonstrando a possibilidade de coisas darem errado e eu morrer afogada na privada (em "Carmem" ele conta um causo de uma atriz que armou todo um esquema luxo e glamour para suicidar-se, encheu a casa de velas e perfumes, fez o cenário da diva e se entupiu de barbituricos. Daí começou a passar mal e decidiu ir vomitar no banheiro pra não estragar a cena. Grogue dos remédios, tropeçou, bateu a cabeça na privada e morreu afogada. Or something like that. Deus me livre).
Metrô, trem, viadutos e afins: Odeio suicida performático que atrapalha o trânsito ou o nosso direito de ir e vir. Jamais.
Cabeça no forno: confesso que gosto muito desse. Acho romântico, limpo e indolor. Mas como não provocar uma explosão? Nunca entendi como as divas faziam.
Carburador do carro: Idem acima. Mas quem tem garagem hoje em dia no Brasil? Na garagem do prédio levaria umas três semanas e daí eu já teria mudado de idéia.
Forca: Não é indolor, mas é quase limpo e tem um certo charme vintage. Três coisas me incomodam: deve demorar e isso deve ser um pouco chato, não tenho onde pendurar a corda e a pessoa que me achar vai levar um puta susto. Deve ser uma visão do inferno achar alguém roxo, de língua de fora e todo cagado, balançando na cordinha. Não gostaria de criar esse trauma na vida da minha faxineira.
Afogamento: eu nado bem e simplesmente não consigo não nadar, estando na água.
Fora isso tem toda a logística relacionada: deletar os blogs, orkuts e twitter (e se eu mudar de idéia na hora H, depois de ter apagado todos eles???), escrever as cartas de despedida tentando convencer as pessoas que você não é um completo egoísta, terminar de ler todos os livros que estão na fila, não saber como vai ser o final de Lost... Dá MUITO trabalho e eu jamais teria saco para organizar tudo isso.
O que me atrai nessa história toda é o quebra cabeças mesmo, tentar achar um jeito que não tenha um "mas" envolvido. Aparentemente, não existe e morrer é sempre uma merda. Mas que pensar nisso tudo faz o ônibus chegar rapidinho, isso faz.
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