terça-feira, junho 30, 2009

O problema em ser CDF

é que a gente não se contenta em simplesmente ir lá e fazer a coisa. Tem que cuidar de todo o entorno e é ISSO que dá trabalho. E nem estou falando de tarefas, de trabalho. É de tudo. Se eu gosto de uma música, por exemplo. Eu tenho que saber de que banda é. Daí eu baixo o álbum e gosto. Daí eu tenho que baixar todos. E saber a biografia de todos os integrantes e as letras das músicas e em que comerciais ela toca e que modelos eles namoram e etc. Filme então, nem se fala. Imagina a logística de decorar a filmografia de todos os atores e diretores, saber se são republicanos ou democratas e fazer o top 5 de cada um. Se for inspirado em livro, tem que ler o livro, e as vezes o livro é bom e então eu quero ler todos do autor e a coisa nunca tem fim. Não é à toa que eu nunca fiz uma pós-graduação.

Agora eu inventei de ir pra academia, porque outro dia me deram o lugar de gestante no ônibus. Eu aceitei, é claro, mas chorei em silêncio e sem lágrimas diante da dignidade perdida. Mas não basta ir à academia, preencher as fichas todas, fazer a merda da avaliação física que já quase te mata ali mesmo e ir bela e faceira se dobrar em cima da bola (no pun intended) na aula de Pilates. Ah se fosse tão fácil.

Tem de comprar roupa de ginástica. Mas não pode ser coladinha que eu não to indo pra academia pra ficar de sem-vergonhice não senhor. Mas roupa muito folgada enrosca nos aparelhos e você sua feito uma camela no cio. E não pode ter estampas de nenhum tipo e tem que custar menos de R$ 100,00 porque eu prefiro gastar meu salário em Melissas. Faz duas semanas que estou procurando e ainda não achei nada que não me fizesse vomitar.

E tem que comprar tênis, porque as acadêmias e o meu joelho não aceitam que eu me exercite de All Star. Tênis de ginástica são obrigatoriamente horrorosos e fazem com que eu me sinta pobre. Não tem glamour, não tem cheirinho bom e tem sempre algum detalhe prateado. Odeio. Quero fazer ginástica de Melissas.

E tem a comida de academia. Eu não consigo me imaginar indo pra academia depois de jantar bife a milanesa com purê de batatas. Academia combina com barrinha de cereais, cereais matinais, frutas e alface. Então eu preciso montar um cardápio composto exclusivamente disso. E comprar uma mochila pra carregar isso comigo o dia todo.

Vocês conseguem perceber a imensa dificuldade da coisa? Quanto dinheiro será aplicado em algo do qual eu provavelmente vou enjoar em dois meses (a quem estou querendo enganar, eu vou enjoar em duas semanas).

Acho que vou desistir. Pensando bem, não é tão ruim ter lugar garantido no bumba, mesmo que às custas da minha dignidade. Eu já não tinha muita mesmo antes disso.

terça-feira, junho 23, 2009

Vida congelada

Nego critica os pobres eminhos que enchem seus fotologs (ainda existe flogão??) e orkut de autofotos e bota a culpa nas câmeras e na inclusão digitais. Claro que minha cara derrete de vergonha também, mas eu amo as cameras e a inclusão digitais e as autofotos. Eu tiro milhares de autofotos que fariam sua cara derreter de vergonha também.

Eu gosto de congelar os momentos todos. Tiro foto de tudo, da roupa nova, da maquiagem bonita, da maquiagem cagada, da casa arrumada ou desarrumada, das flores, do cocô de cachorro que parece uma arroba. A diferença de mim pros eminhos é que eu não tenho flogão e guardo a maioria dessas imagens só comigo.

Antes, a gente não podia fazer isso. Porque câmera custava caro, filme custava caro, revelar o filme custava caro. Eu tenho tipo 3 fotos da minha infância. Não sei se meus filhos serão belos porque não sei se fui um bebê bonitinho. E isso me dói. Eu tenho lua em câncer e me agarro ao passado com um desespero fora do comum. Gosto de ver, pegar, cheirar, chorar em cima do que não volta nunca mais. Por isso congelo tudo em milhares de fotos.

Pra ver cada ruga nova, pra lembrar de um olhar azul que me encantava, pra saber qual cor vai bem com qual, para rir de novo do que aconteceu ha tanto tempo. Mas principalmente porque tudo isso me faz ter vontade de tirar fotos novas. E para isso é preciso viver.

Confort food


Sempre me agradou brincar de fazer comidinhas, mas rolava uma puta preguiça de aprender de fato. Preguiça e minha intolerância à críticas fizeram com que eu passasse 26 anos afastada do fogão. Quando eu casei, rolou um certo desespero na família, que achou que eu ia viver de cheetos. Mas o marido da vez cozinhava bem, não permitia que eu chegasse a mais de 3 metros da cozinha, todo mundo se acalmou e eu me fiz de morta. Depois eu separei e novo desespero da família, que mandou quilos de congelados e recomendações sobre como operar o microondas.

Enquanto tudo isso acontecia, eu fazia minhas experiências e vou te contar, era frustrante. Num dia o arroz saia sopa. No outro, pedra. No outro, com gosto de vômito. Queimei sopa Campbells, queimei miojo, queimei nuggets e botei fogo na cozinha duas vezes. Cada vez que alguém cuspia o que eu cozinhava, eu jurava que ia desistir. E eu acho que se minha mãe não tivesse morrido, eu teria mesmo desistido.

Mas né. Quando as pessoas perdem alguém de quem gostam muitíssimo, criam uns mecanismos bizarros para prolongar a permanência dos sentimentos e sentidos ou para tentar ignorar a ausência ou só para confortar o coração. E foi mais ou menos isso que aconteceu. Quando fomos separar as coisas depois do enterro, achamos uma tonelada de cadernos de receitas escritos por ela. Eu nem disse nada, todos acharam simplesmente óbvio que essa herança fosse minha.

Comecei a folhear por curiosidade, para abrandar saudades só. Um dia animei e fiz uma das receitas e a sensação foi ótima. Era como se fosse uma homenagem, uma forma de manter vivo o “legado”, de passar adiante o que ela havia construído. Era também o mais próximo de conexão com ela que eu poderia ter. E o melhor: a comida ficou bem boa – panquecas – e virou minha especialidade. Hoje, a minha é melhor do que a dela.

Mas a partir daí, comecei a tomar gosto pelas horas picando, moendo, amassando, medindo, temperando, mexendo. Acho incrivelmente terapêutico e fico num bom humor inacreditável quando invento algum prato. Poucas coisas me deixam mais feliz do que oferecer jantares bem gordos para dúzias de pessoas ou descobrir um livro realmente bom de receitas. E é uma das poucas – talvez a única – coisas em que eu me aprovo pra valer.

Apesar do início torto, valeu a pena ter insistido. Hoje ninguém mais cospe minhas comidinhas e eu sonho com o dia em que ganharei uma bolada na megasena e poderei dedicar todos os meus dias a cozinhar para os amigos enchendo a cara de vinho durante o processo. É um bom vislumbre de aposentadoria.


*Pra quem também gosta do tema comidinhas e está começando a se arriscar na área, recomendo o livro da Nigella, a gordinha bonita do programa de TV: Nigella Express. Dezenas de receitas ridículas de tão fáceis e muito, muito rápidas. Fiz um macarrão com queijo espetacular em 30 minutos ontem - o da foto lá de cima. E tem um capítulo inteirinho sobre confort food. Nham.

terça-feira, junho 09, 2009

I hate myself and I want to die

Taí uma frase que 9 entre 10 adolescentes escreve em seu diário. Quem verbalizou foi o Nirvana, mas acho que é versão de uma outra música. Ou não, minha memória do grunge se apaga um pouco mais a cada dia. Mas fato é que todo mundo sofre de autopiedade vez por outra. Ou não, talvez só a minha roda de amigos. Enfim. Eu utilizo a autopiedade como passatempo. É super adequada para aquelas horas em que vc está tipo esperando o ônibus sem nenhum livro e não quer fazer um balanço da sua vida, ou um orçamento doméstico ou um plano de carreira ou qualquer coisa que o valha, só deixar o pensamento vagar.

Dependendo do meu humor, meu pensamento pode escolher uma entre duas rotas invariavelmente. Quando estou feliz, gosto de imaginar o que faria se ganhasse na Mega Sena. Consigo passar ho-ras imaginando casas, viagens e orgias regadas a champanhes cujos nomes eu nem sei pronunciar. Consigo fazer a lista de quantos gatos e cachorros eu teria, quais seriam seus nomes e se eles viajariam ou não no meu barco, que também teria um nome espirituoso. Consigo me imaginar diante das atendentes da imobiliária de Curitiba jogando um bolo de dinheiro em suas caras e apagando meu nome de seu sistema. Ou então pagando o advogado mais caro do Brasil para foder com a vida delas. É um mundo de deliciosas possibilidades.

Porém, se eu estiver triste, gosto de pensar em opções de suicídio. Antes que se crie um alarde desnecessário ou se que organize uma intervenção, deixo claro que o simples fato de eu verbalizar esse tipo de coisa significa que eu jamais me matarei. Continue lendo e descubra por que eu viverei plenamente todos o tempo que me resta antes que o cancêr, a (ou o?) efisema, o AVC, o infarto ou qualquer outra dessa pragas que vocês, não fumantes, rogam efetivamente me alcance e me leve lenta e dolorosamente para o descanso eterno.

Pensar em métodos suicidas funciona mais ou menos como um quebra-cabeças em busca da morte perfeita. Faz anos que penso nisso e ainda não achei uma solução que preencha a todos os meus requisitos de boa morte. Como toda capricorniana, sou pau no cu e exigente, cheia de requisitos, então esse é um exercício difícil e que toma muito do meu tempo. Ainda não montei uma planilha excel de prós e contras, mas cogito a possibilidade. Eu acho que tem que ser uma coisa discreta, possivelmente indolor e que pareça um acidente, para não chocar as pessoas que ficam. Mentira, é principalmente para que eu não fique conhecida pelas próximas gerações da família como "aquela que se matou". Tem três casos na minha família e eu nem sei os nomes das pessoas, são só o tio que se matou, a tia que se matou e o marido da tia que se matou. Triste. Vamos, então, às opções do cardápio:

Tiro: Questão 1: suja. Não gosto de imaginar que alguém vai ter que limpar e provavelmente ficará me amaldiçoando e gerando mais karma ruim para minha alma, que já estará bem fodida, se de fato existir. Questão 2: pode dar errado. É bem improvável, já que este método está entre os mais eficazes, mas eu já ouvi histórias de gente que atirou 1 mm pro lado errado e ficou vegetando. Vegetando e cheio de cicatrizes. Vegetandop, cheio de cicatrizes e sem poder terminar o que começou, mundialmente conhecidos como os maiores losers da história. Questão 3: não conheço o submundo do crime, nunca vi uma loja de armas e ficaria muito paranóica se precisasse comprar uma. Reprovado.

Queda: Leia meus lábios: n-e-m-f-o-d-e-n-d-o. Tenho horror de altura, tenho horror da bundgee jumping, tenho horror daquele brinquedo do Hopi Hari que despenca de 20 metros de altura e da sensação do estômago literalmente andar até a boca. Se eu escolhesse esse, ia ficar a queda toda me chamando de idiota e não é assim que quero passar os últimos segundos em minha doce companhia.

Veneno: Nip Tuck me fez desistir, mostrando que não é sereno nem pacífico, que você se vomita todo e sente dores excruciantes. Além disso, sou glamourosa demais para tomar algo indicado para ratos.

Remédios: envolve intensa pesquisa até descobrir o tipo e a dosagem certos. Depois, mais suor para conseguir a receita (se bem que eu sempre recebo spams me oferecendo toda a farmacologia disponível a um clique). Mas nesse caso, Ruy Castro me fez desistir, demonstrando a possibilidade de coisas darem errado e eu morrer afogada na privada (em "Carmem" ele conta um causo de uma atriz que armou todo um esquema luxo e glamour para suicidar-se, encheu a casa de velas e perfumes, fez o cenário da diva e se entupiu de barbituricos. Daí começou a passar mal e decidiu ir vomitar no banheiro pra não estragar a cena. Grogue dos remédios, tropeçou, bateu a cabeça na privada e morreu afogada. Or something like that. Deus me livre).

Metrô, trem, viadutos e afins: Odeio suicida performático que atrapalha o trânsito ou o nosso direito de ir e vir. Jamais.

Cabeça no forno: confesso que gosto muito desse. Acho romântico, limpo e indolor. Mas como não provocar uma explosão? Nunca entendi como as divas faziam.

Carburador do carro: Idem acima. Mas quem tem garagem hoje em dia no Brasil? Na garagem do prédio levaria umas três semanas e daí eu já teria mudado de idéia.

Forca: Não é indolor, mas é quase limpo e tem um certo charme vintage. Três coisas me incomodam: deve demorar e isso deve ser um pouco chato, não tenho onde pendurar a corda e a pessoa que me achar vai levar um puta susto. Deve ser uma visão do inferno achar alguém roxo, de língua de fora e todo cagado, balançando na cordinha. Não gostaria de criar esse trauma na vida da minha faxineira.

Afogamento: eu nado bem e simplesmente não consigo não nadar, estando na água.

Fora isso tem toda a logística relacionada: deletar os blogs, orkuts e twitter (e se eu mudar de idéia na hora H, depois de ter apagado todos eles???), escrever as cartas de despedida tentando convencer as pessoas que você não é um completo egoísta, terminar de ler todos os livros que estão na fila, não saber como vai ser o final de Lost... Dá MUITO trabalho e eu jamais teria saco para organizar tudo isso.

O que me atrai nessa história toda é o quebra cabeças mesmo, tentar achar um jeito que não tenha um "mas" envolvido. Aparentemente, não existe e morrer é sempre uma merda. Mas que pensar nisso tudo faz o ônibus chegar rapidinho, isso faz.

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