Eu assumo: tenho 31 anos e não dirijo. Digo que é porque não gosto, pelo meio ambiente, whiskas sache, mas a verdade é que é porque eu não sei. Não consigo aprender, entro em pânico sempre que o carro morre e as pessoas me xingam e concluí que vivo muito bem sem um carro. Moro a quatro quadras do metrô e gosto da liberdade de poder encher a cara e depois pegar um taxi.
O transporte público tampouco me tira do sério. Centenas de anos sacolejando em ônibus e trens lotados tornaram essa tortura algo normal pra mim. Não, não é bom. Quando vc pega um busão em São Paulo, vc não vai pra qualquer outro lugar que não seja o inferno, indepedente do que diga a plaquinha do itinerário. Serão sovacos na sua cara, cabelos melados de Kolene no seu nariz, pisões no seu pé, encoxadas, beliscões, bolsadas na cabeça, cotoveladas na boca do estômago. Isso se você tiver sorte. Se não tiver, ainda corre o risco de passar o trajeto inteiro ouvindo o pagodão que algum educadinho achou interessante dividir com todos os outros passageiros por meio do seu celular super moderno.
Mas, como eu disse, acostumei. Vou no máximo resmungar, mas não vou ficar com dor de cabeça por causa do inevitável. O que me dá dor de cabeça, mesmo, é a falta de educação do povão. No ônibus não tem privilegiados, tá todo mundo fodido. Quem senta fica olhando pros outros com ar de superioridade, porque aquilo é o máximo de vantagem que vc vai ter. Mas tem gente que parece acreditar que caga cheiroso, desculpem a expressão.
Dia desses tava eu lá no Largo da Pólvora às 8h da manhã. Não cabia mais uma brisa. Para dar passagem pro povo no corredor, eu já estava praticamente dando uma chave de coxa no rapaz sentado à minha frente, pensei até em oferecer um vinho e botar um jazz. Mas a civilidade pedia e todo mundo estava passando pelo corredor, com apenas um pouco de esforço.
Daí a gordinha passa a catraca e para. "Dá licença". Joguei a bunda pro outro lado, porque era o máximo de movimento permitido. O rapaz sentado até animou. A gordinha nem se mexeu. "Dá licença". Adotei a técnica "a-ham Cláudia, senta lá" e não me mexi mais. "Dá licença", "Dá licença", "Dá licença". O senhor que estava do outro lado do corredor só faltou baixar as calças e vestir a camisinha, porque era só o que faltava para consumar a felação com a velhinha sentada no banco à frente dele. Dava pra passar 3 gordinhas naquele espaço, mas ela continuava. "Dá licença".
O cara se irritou. "Dá licença pra onde, porra?" Daí ela falou as palavras mágicas, que despertaram a pomba-gira que vive em mim (e passa a maior parte do tempo dormindo, justiça seja feita): "Ih, logo cedo e já tá estressado". Mas é claro que ele tava. O busão inteiro estava. Por causa dela. Ela passou e meteu uma cotovelada no tiozinho. E foi aí que meu pezinho esquerdo simplesmente escorregou na frente dela. Foi de propósito e foi com gosto. Ela não caiu nem nada, nem tinha espaço pra cair. Mas catou um cavaco e passou vergonha. Saiu xingando e ainda teve que ouvir um "Tá vendo, Deus castiga" do tiozinho.
Foi Deus não, meu senhor. Fui só eu fazendo o upgrade da econômica pra primeira classe do inferno. Feliz da vida.
5 comentários:
gente do céu, suzana, só você mesmo pra me fazer rir assim hoje! queria tanto passar o pé em meia duzia hoje...
Aí no estrangeiro também tem pobres deseducados e cheios de Kolene???
Tenho 26 e também não dirijo (e parece que assim vai continuar por um bom tempo...) mas com certeza eu não conseguiria contar com tanto bom humor um estresse desses. Obrigada!
Como dizia meu amigo Bozo, sempre rir, né?
tenho carta, já tive carro (item necessário no exílio no cerrado), mas aqui em sp, não mesmo! pego um varginhaxbandeira de chorar todo os dias, mas a economia e a praticidade valem muito a pena. viva o coletivo e os táxis depois da birita. Fora que ficar num carro sozinha presa no trânsito não é engraçado...
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