terça-feira, julho 27, 2010

Porta dos desesperados do amor

Sergio Malandro costumava oferecer três portas. Em duas tinham monstros, em uma tinha um prêmio. Eu sempre torcia pra sair o monstro, porque era muito mais engraçado.

E essa é a minha vida amorosa: eu continuo preferindo o monstro. O prêmio é lindo, eu não vejo nenhum defeito nele. É cobiçado, caro, cheiroso, rikoh (no caso da minha vida amorosa, rikoh jamais existiu, mas vamos relevar). O prêmio era tudo que as crianças (ou as moçoilas) queriam. Daí elas ganhavam o prêmio, brincavam por uma semana e pimba! Na semana seguinte já estavam de saco cheio dele, de olho em um novo prêmio, que também era caro, lindo, cheiroso e rikoh. O prêmio sempre me entediou soberbamente.

Mas poxa, o monstro é MUITO mais engraçado, provoca sobressaltos, é marcante. Ok, vc fica pensando "porra, tirei o monstro, que diabos eu vou fazer com esse monstro?". Mas fazer o que? Você tirou o monstro e tem que conviver com ele. No começo é insuportável, ele fica grunhindo, te dando sustos, te fazendo chorar na frente das outras criancinhas. Não é certo, não é o que a sociedade espera de você. Simplesmente não era isso que você tinha sonhado pra sua porta dos desesperados!!!

Daí vc repara que o cabelo e a roupa do monstro são muito mais engraçados do que assustadores. Que o monstro tem um papo que não se encontra por aí em nenhum prêmio. Nenhuma bicicleta jamais tratou você daquele jeito antes! As criancinhas, que antes faziam escárnio de você e te apontavam na rua, querem usar seu monstro para assustar os irmãos menores. E, melhor de tudo, você pode ter um monstro diferente a cada dia, depende do humor com que ele acorda, enquanto o prêmio é sempre igual.

É claro que nem tudo são flores com o monstro. Enquanto a bicicleta é absolutamente pacata e previsível, o monstro ainda pula de trás de portas quando você menos espera e berra e grunhe. Você fica odiando o monstro. Mas sente saudade dele quando passa por uma porta e não tem nada atrás dela.

Desta metáfora concluo que amadurecer é assumir que você é uma pessoa de monstro, não de prêmio. E ser muito feliz justamente por causa dos sustos, não apesar deles.

terça-feira, julho 20, 2010

Pilotando o fogão

Eu vivo comentando das maravilhas que a culinária fez na minha vida, mas sempre morro de preguiça de compartilhar receitas. Agora, amigos me intimaram a colaborar com seu blog de culinária e eu vou ver se crio vergonha na cara.

Pra quem tiver interesse, estreei com minha receita mágica de sopa de ervilha, para aquecer a pança e o coração: http://domeufogao.blogspot.com/

quarta-feira, julho 14, 2010

Vida de pobre, vida de merda

O pior de ser pobre não é passar vontade, embora isso também seja muito ruim. Não é não ter um iate ou não passar férias em Ibiza ou não ter o cabelo da Gisele Bundchen. O pior de ser pobre é levar vida de pobre, mesmo. São as pobrezinhas do dia a dia. Duvida? Então vem comigo.

Ontem uma camisa que eu adoro voltou a me servir. Meu cabelo estava bom e meus olhos estavam só moderadamente inchados, então eu estava muitíssimo bem humorada o dia todo. A chuva nem me aborreceu. Daí chegou a hora de ir pra casa. Troquei meu lindo scarpin de verniz de bico finíssimo por uma melissa de prástico própria para chuva e à prova de leptospirose e fui. São 2 quadras do trabalho até o metrô. Na metade do caminho, o cabo do guarda-chuva quebrou e ficou só aquele cotoquinho pra segurar. Ficou parecendo que eu estava usando um chapéu de guarda-chuva. Mas tudo bem, minha camisa era linda e servia e eu sorri. O metrô estava lotado de pessoas segurando guarda-chuvas molhados nas minhas costas. A sacola com os sapatos finos começou a desbeiçar.

Chegando no Clínicas, tomei fôlego para a longa caminhada até em casa. A chuva, que só parecia uma garoa, estava fazendo poças de lama nojenta nos buracos da Teodoro. 500 mil pessoas se amontoavam nos pontos de ônibus na calçada, o que tornava impossível passar. A trilha sonora de Maria Antonieta, que tocava no Ipod, se misturava com o barulho da chuva batendo no guarda-chuva e acalmava meu coração, provocando uma experiência extra-sensorial. Início do ciclo menstrual rulez.

Com os pés encharcados, meu chapéu guarda-chuva, a barra das calças pesando 3 vezes mais de tão molhadas, o cabelo todo arrepiado, as sacolas pesadas e molhadas e o rímel borrado, atravessei a rua do último quarteirão rumo ao meu lar sequinho. Chutei algo que imaginei ser o lixo da Teodoro, que rola ladeira abaixo sempre que chove. Segui cantarolando, com o som bem alto.

Cheguei em casa, tirei o sapato nojento e corri atras do cachorro, que já havia roubado um pé de Melissa pra roer. Fui pôr as sacolas na mesa e tcharãn. Cadê os sapatos bonitos? A sacola havia se transformado em 2 pedaços de papelão encharcados e sem fundo. Sabe o lixo que eu chutei na Teodoro? Provavelmente eram meus lindos scarpins de verniz e bicos finíssimos. Sentei na cama pra chorar, o cão sentou ao meu lado e mijou no edredon.

Fim.

quarta-feira, julho 07, 2010

Semântica

Eu tenho um problema sério com a semântica. Algumas palavras me passam certas impressões e me causam birra e eu não uso nunca. Esposa é uma delas. Tenho ojeriza da palavra esposa. Esposa = mulher traída que não faz sexo, tem 8 dedos de raiz de cabelo branco e usa chinelo com meia. Não me pergunte por que, eu não sei, mas é isso que imagino. Daqui dez anos de análise eu explico.

Noiva é outra delas. A menina pode ser a mais linda do mundo, falou que é noiva eu já a imagino usando um vestido de mangas bufantes, paradinha em cima do altar, toda virgem. Acho cafona, tenho vergonha de gente que dá festa de noivado, que usa aliança de noivado e que se refere ao outro como "meu noivo". A pessoa parece ser tão normal, tão equilibrada e daí pãns, é noiva.

Por isso que eu nunca quis ser esposa nem noiva, prefiro ser sempre namorada. Ainda que uma namorada que mora na mesma casa, divide contas e compra cachorro junto. Namorada dá presente, sai pra jantar, se arruma, se perfuma, vai no cinema. Esposa bate bolo. Entendeu a paranóia?

Além da semântica, eu também tenho problemas com essa coisa de você ter que lavrar seus sentimentos em cartório, jurar na frente de um monte de gente, se vestir de merengue e assinar o livro do cartório pra provar que quer ficar com a outra pessoa. Se quer ficar, vai e fica e pronto. As suas promessas são apenas pra vcs dois. Nem Deus, nem o padre e nem o juiz tem nada a ver com isso. Sim, eu fugi da fila do romantismo e não entendo o sentido dessas celebrações bizarras.

Daí ontem fui comemorar o terceiro aniversário de namoro, comer lagosta e encher a cara de vinho, bem pobres de espírito que somos. E daí ele me deu um anel de noivado e eu fiquei com aquela cara de pastel, completamente embevecida e dando gritinhos, comédia romãntica style. Mas daí eu lembrei da semântica e falei: "mas quer dizer que agora eu sou uma noiva?". E a resposta dele explica por que eu estou com ele: "Não, vc é uma namorada que usa um anel bem bonito".

Em tempo: o anel não tem nada cafona e eu sou uma romântica hipócrita.

quinta-feira, julho 01, 2010

Orgulho e preconceito

Tipos de gentes que me agradam (nunca pensei que eu fosse conseguir fazer uma lista tão extensa):

Gente que faz piada até da mãe mortinha
Gente que sabe a hora de ir embora
Gente que usa desodorante
Gente que entende piadas
Gente que bebe gim tônica
Gente que gosta de bicho
Gente que prefere as vilãs de novela
Gente ruim
Gente que não sabe o que é impedimento, mas sabe que amarelo não combina com verde.
Gente que não desiste de mim e me liga de vez em quando
Gente que sabe que 2+2 nem sempre é 4
Gente que me conta os podres de gente que eu não gosto
Gente que gasta 3 dígitos num sapato, mas fica regulando R$ 20 para a vaquinha de aniversário do colega porque "tá sem dinheiro" (que é gente que sabe onde investir)
Gente que admite que ser mãe não é só alegria
Gente que vai na minha casa
Gente segura
Gente que se arrepende
Gente que imita sotaques


Tipos de gentes que, seu pudesse, eu matarra mil
Gente egocêntrica
Gente mimizenta
Gente adulta
Gente politizada
Gente cheia de razão
Gente que pega homem de amig@
Gente sem graça
Gente que não acha graça de nada
Gente que acha graça do Casseta e Planeta
Gente que só fala de carro e futebol
Gente que pega balada
Gente cujo maior sonho na vida é ter 48 de bíceps
Gente que para na frente da porta e atrapalha seu direito de ir e vir
Gente que grita
Gente com cabelo liso, comprido, reto e na cor natural - sendo que a cor natural é cor de burro quando foge
Gente que nunca ficou de pilequinho
Gente que acha foi assim porque deus quis
Gente que não toma decisão nenhuma por medo de se arrepender
Gente que diz que "isso dá câncer" (e é sempre alguma coisa muito gostosa, tipo carne, cigarro ou açúcar)
Gente que fala por mais de 15 minutos sem parar pra tomar fôlego
Gente que não lê o manual
Gente que finge estar conversando com você, mas não presta atenção ao que vc diz
Gente que não respeita os outros
Gente que trata mal os empregados
Gente que me cutuca ou pega em mim sem prévia autorização
Gente que só fala de dieta
Gente que não olha no espelho
Gente que nunca me liga e depois diz que eu tô sumida
Gente que vai na minha casa sem avisar
Gente que não acha meu cachorro lindo
Gente que não faz cosquinha na barriga do meu cachorro
Gente que reclama que uma lista não é um post