Esqueci de contar que eu voltei sozinha de Paris porque o salafrário do meu namorado tinha mais dias de folga do que eu e foi bem rodar a luz vermelha de Amsterdam sozinho. Recalques à parte, segue uma história que merece ser compartilhada. Antes, explico que, quando no estrangeiro, adotamos a tática Consuela de comunicação pois, do contrário, eu dou esmolas mais caras que nosso almoço, ou todo o meu maço de cigarros ou compro água amarela porque sou uma idiota com peninha. Daí que Paulo saiu apenas duas vezes do hostel e, em uma delas, foi abordado por um malaco em Amsterdam. Deu-se o seguinte:
- do you speak english?
- no no no no no
- how do you not speak english? even indians speak english here!
- no no no no, sorry, no no no no
- cock sucker
Amo tanto os castigos do universo que nem sei explicar
quarta-feira, setembro 29, 2010
Embasbacada
Essa é a única palavra que eu tenho pra descrever os seis últimos dias, passados lá na cidade luz. Pela primeira vez na vida, não senti nenhuma saudade de casa nem alegriazinha de voltar, pelo contrário, chorei quase o voo inteiro e o taxista teve que me arrastar pra dentro do taxi, porque eu não queria entrar, não queria ir embora nunca mais.
Engraçado isso, porque eu nunca pirei em Paris. Queria conhecer, achava que devia ser bonita e tals, mas não era o grande o sonho da minha vida. Todo mundo dizia que era sujo, perigoso, que os parisienses eram grosseiros. E daí eu descobri que é tudo mentira de brasileiro invejoso - ou talvez eu seja a turista mais sortuda do mundo. Ninguém foi grosseiro comigo em nenhum momento, nem sequer mais ou menos mal educado. E olha que eu falei com um monte de gente e eu não falo nada de francês além de bonjour. Me deram sempre informações com a maior paciência do mundo, me atenderam sempre sorrindo, me perguntaram como se dizia um monte de coisas em português. No final, achei o povo bem parecido com os paulistanos: não ficam mostrando os dentes por qualquer coisa, mas são uma doçura se vc precisa deles.
Quase não fui a museus, pois passamos a maior parte do tempo esquecendo o guia e nos perdendo pelas ruazinhas e cafés e foi daí que surgiu meu encantamento e meu desejo de ficar ali para sempre. É claro que a cidade é linda, toda meio amarelada, com aqueles monumentos e prédios históricos de tirar o fôlego e a Torre é uma coisa embasbacante e etc. Mas não foi isso que me conquistou. Foram as pessoas sentadas nos cafés por hoooooooooras a fio jogando conversa fora. Foi olhar pra cima e ver a moça de cabelos curtinhos na janela tomando seu vinho e fumando seu cigarro. Foi o fato de todo mundo fumar e de todos os lugares terem um reservadinho pra nós. Foi tomar vinho no almoço e no jantar. Foi essa coisa deles com gatos. Foram as senhorinhas judias passeando com seus cachorrinhos. Foi não ver NENHUM cocô de cachorro na rua (em compensação, tinha um cocô de gente no metrô). Foi o vento gelado na cara, que chegava a arrancar lágrimas de tão gelado, debaixo do sol. Foi a falta de ladeiras e arranha-céus e o excesso de flores e livrarias. Foram os queijos e mais queijos a 1,4 euros no supermercado e o cheiro bom da rua das lojas de departamentos...
Acho que voltei meio diferente dessa vez, mais do que das outras - e a melhor coisa de viajar é poder trazer sua bagagem interior, que é o que te deixa diferente, não é? Com vontade de ter menos pressa, de admirar mais a qualidade do que a quantidade das experiências e com algumas certezas para os planos futuros. Mas essas serão outra história.
Engraçado isso, porque eu nunca pirei em Paris. Queria conhecer, achava que devia ser bonita e tals, mas não era o grande o sonho da minha vida. Todo mundo dizia que era sujo, perigoso, que os parisienses eram grosseiros. E daí eu descobri que é tudo mentira de brasileiro invejoso - ou talvez eu seja a turista mais sortuda do mundo. Ninguém foi grosseiro comigo em nenhum momento, nem sequer mais ou menos mal educado. E olha que eu falei com um monte de gente e eu não falo nada de francês além de bonjour. Me deram sempre informações com a maior paciência do mundo, me atenderam sempre sorrindo, me perguntaram como se dizia um monte de coisas em português. No final, achei o povo bem parecido com os paulistanos: não ficam mostrando os dentes por qualquer coisa, mas são uma doçura se vc precisa deles.
Quase não fui a museus, pois passamos a maior parte do tempo esquecendo o guia e nos perdendo pelas ruazinhas e cafés e foi daí que surgiu meu encantamento e meu desejo de ficar ali para sempre. É claro que a cidade é linda, toda meio amarelada, com aqueles monumentos e prédios históricos de tirar o fôlego e a Torre é uma coisa embasbacante e etc. Mas não foi isso que me conquistou. Foram as pessoas sentadas nos cafés por hoooooooooras a fio jogando conversa fora. Foi olhar pra cima e ver a moça de cabelos curtinhos na janela tomando seu vinho e fumando seu cigarro. Foi o fato de todo mundo fumar e de todos os lugares terem um reservadinho pra nós. Foi tomar vinho no almoço e no jantar. Foi essa coisa deles com gatos. Foram as senhorinhas judias passeando com seus cachorrinhos. Foi não ver NENHUM cocô de cachorro na rua (em compensação, tinha um cocô de gente no metrô). Foi o vento gelado na cara, que chegava a arrancar lágrimas de tão gelado, debaixo do sol. Foi a falta de ladeiras e arranha-céus e o excesso de flores e livrarias. Foram os queijos e mais queijos a 1,4 euros no supermercado e o cheiro bom da rua das lojas de departamentos...
Acho que voltei meio diferente dessa vez, mais do que das outras - e a melhor coisa de viajar é poder trazer sua bagagem interior, que é o que te deixa diferente, não é? Com vontade de ter menos pressa, de admirar mais a qualidade do que a quantidade das experiências e com algumas certezas para os planos futuros. Mas essas serão outra história.
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terça-feira, setembro 14, 2010
Minhas visitas
Melancolia, angustia e solidão. Três palavrinhas que podem parecer assustadoras, mas que, para mim, são mais familiares e confortáveis do que euforia, sucesso e tranqüilidade, por exemplo. Convivo com elas desde sempre. Provavelmente eu devia ser um bebê chorão, que sofria de transtorno de ansiedade quando chegava perto da hora da mamada.
Estou lá quieta no meu canto achando a vida linda, tudo caminhando como meu plano diz que devia caminhar quando de repente... “Toc, toc”/ “Quem é?”/ “É seu monstrinho interior, queriiiiiiiiiida”. Ele fala assim, com essa vozinha irritante, forçando intimidades. E nem adianta eu bater a porta na cara dele, dizer que não tem pão velho, dizer que tô cheia de roupa pra lavar. Ele entra assim mesmo, senta ali no meio da sala, acende um cigarro e começa a falar sem parar.
Depois de tantos anos, já desisti de brigar com ele e mandá-lo embora. Deixo-o ficar, dizer a que veio e esperar que acabe seu serviço pra que eu possa voltar a viver. Mesmo que eu não saiba por que ele veio nem quando vai embora.
Antes eu achava que quando conseguisse fazer as coisas do jeito que eu achava que elas deviam ser, ele sumiria. Pffffffffffffff. Ele me explicou que não adianta nada eu:
- ter o relacionamento dos meus sonhos
- estar feliz por ter a minha casa tão linda
- gostar muito, muito, muito do meu trabalho
- estar segura da minha capacidade
- ter bons amigos
- fazer todas as viagens que sempre quis
- aprender a baixar seriados
E tudo o mais que eu possa enquadrar na moldura da “vida como deve ser”. Eu continuarei acordando, às vezes, com aquela opressão sem motivo em algum lugar entre o peito e a garganta. Haverá dias em que será muito difícil sair da cama, por melhores que sejam as promessas. Em outros, eu acordarei com a certeza de que morrerei absolutamente solitária, sem amigos, amores ou familiares pra tocar “Deixe-me ir” em meu funeral ou acreditando que toda a humanidade é ruim e que viver é um purgatório.
Isso pode durar semanas ou algumas horinhas apenas. Será ruim e amargo e eu ficarei sentada diante da TV fumando muitos cigarros e suspirando sem vontade de viver. E então... “Toc, toc”/“Ai, saco, quem é?”/ “É a esperança, sua linda”. E ela vai entrar toda de vestido florido amarelo, ao som de “Walking on Sunshine”, abanando a fumaça da sala e levando todo mundo pra dançar.
Não me apavoro mais. Aproveito essas visitas, quando elas vêm, ouço o que elas tem a dizer. Nenhuma delas é tão monstruosa quanto parece, nem tão radiante quando você imagina. São só visitas e o que me resta é lhes oferecer cafezinhos.
Estou lá quieta no meu canto achando a vida linda, tudo caminhando como meu plano diz que devia caminhar quando de repente... “Toc, toc”/ “Quem é?”/ “É seu monstrinho interior, queriiiiiiiiiida”. Ele fala assim, com essa vozinha irritante, forçando intimidades. E nem adianta eu bater a porta na cara dele, dizer que não tem pão velho, dizer que tô cheia de roupa pra lavar. Ele entra assim mesmo, senta ali no meio da sala, acende um cigarro e começa a falar sem parar.
Depois de tantos anos, já desisti de brigar com ele e mandá-lo embora. Deixo-o ficar, dizer a que veio e esperar que acabe seu serviço pra que eu possa voltar a viver. Mesmo que eu não saiba por que ele veio nem quando vai embora.
Antes eu achava que quando conseguisse fazer as coisas do jeito que eu achava que elas deviam ser, ele sumiria. Pffffffffffffff. Ele me explicou que não adianta nada eu:
- ter o relacionamento dos meus sonhos
- estar feliz por ter a minha casa tão linda
- gostar muito, muito, muito do meu trabalho
- estar segura da minha capacidade
- ter bons amigos
- fazer todas as viagens que sempre quis
- aprender a baixar seriados
E tudo o mais que eu possa enquadrar na moldura da “vida como deve ser”. Eu continuarei acordando, às vezes, com aquela opressão sem motivo em algum lugar entre o peito e a garganta. Haverá dias em que será muito difícil sair da cama, por melhores que sejam as promessas. Em outros, eu acordarei com a certeza de que morrerei absolutamente solitária, sem amigos, amores ou familiares pra tocar “Deixe-me ir” em meu funeral ou acreditando que toda a humanidade é ruim e que viver é um purgatório.
Isso pode durar semanas ou algumas horinhas apenas. Será ruim e amargo e eu ficarei sentada diante da TV fumando muitos cigarros e suspirando sem vontade de viver. E então... “Toc, toc”/“Ai, saco, quem é?”/ “É a esperança, sua linda”. E ela vai entrar toda de vestido florido amarelo, ao som de “Walking on Sunshine”, abanando a fumaça da sala e levando todo mundo pra dançar.
Não me apavoro mais. Aproveito essas visitas, quando elas vêm, ouço o que elas tem a dizer. Nenhuma delas é tão monstruosa quanto parece, nem tão radiante quando você imagina. São só visitas e o que me resta é lhes oferecer cafezinhos.
quinta-feira, setembro 09, 2010
VDM
Coisas que eu não fiz hoje, mas gostaria de ter feito:
Xixi
Escovar os dentes
Respirar normalmente, sem hiperventilar
Chorar no banheiro
Comer tufos de cabelos
Comer uma barra de 500g de chocolate
Mandar umas oito pessoas à casa do caralho
Beber água
Beber àgua com açúcar
Mais um dia, mais uma vitória.
Xixi
Escovar os dentes
Respirar normalmente, sem hiperventilar
Chorar no banheiro
Comer tufos de cabelos
Comer uma barra de 500g de chocolate
Mandar umas oito pessoas à casa do caralho
Beber água
Beber àgua com açúcar
Mais um dia, mais uma vitória.
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