sexta-feira, outubro 22, 2004

Recebi esse texto por e-mail, de um amigo meu, antes do primeiro turno e acabei não arrumando tempo para blogar. Acontece que gostei do que ele escreveu, concordo e me redimo da omissão, blogando agora:

Caro(a) paulistano(a),

Você já fez alguma vez na vida uma reflexão séria sobre o porquê de elegermos um prefeito para a nossa cidade?

Há pessoas que acreditam que precisamos de um prefeito para os carros paulistanos (e não para os cidadãos). Esses provavelmente contribuirão para a eleição de um candidato específico e eu não me incluo entre eles. Há outros que acham que o prefeito deve simplesmente fazer "a cidade funcionar", ser um "administrador técnico", pretensamente acreditando que esse "técnico imparcial" exista. Esses, entre os quais eu também não me encontro, não se perguntam "funcionar para quem?". É claro que não existe administração política técnica e imparcial (simplesmente pelo fato de ser uma administração política), mas essas pessoas escolherão um outro determinado candidato.

Em que cidade, afinal, merecemos viver? O que Marta fez, em quatro anos de administração municipal, para contribuir para a construção dessa cidade que desejamos?

Marta fez CEUs, fez alguns passa-rápido, reestruturou o transporte coletivo municipal, contribuiu decisivamente para a revitalização do centro da cidade, repavimentou ruas e avenidas, tapou buracos no asfalto, criou o leva-e-traz, implantou uma merenda escolar decente nas escolas municipais... Mas e daí?! Uma cidade não vive apenas disso.

Não sei se todos vocês repararam, mas a cidade anda mais bonita. Os tais "coqueiros", alvo de uma das mais nefastas campanhas políticas da História dessa cidade, são apenas parte do que a prefeitura conseguiu fazer nesse sentido. Hoje em dia eu vou trabalhar a aproximadamente 13 quilômetros da minha casa, passando por vias arborizadas (há, aliás, muitas espécies de árvores diferentes - e de plantas rasteiras também). Passo todos os dias por uma avenida importante da cidade, em que os postes de luz estão prateados (e não pretos, encardidos, como há muito tempo). Vejo com orgulho pontos de ônibus bonitos, com letreiros eletrônicos que passam, em vermelho, informações sobre as linhas daquele passa-rápido específico. Vejo obras em uma outra importante avenida da cidade para passar a fiação dos postes (símbolo máximo da deterioração da cidade, depois do minhocão) por baixo das calçadas. Depois ouço a campanha do candidato do PSDB (que, segundo José Simão, quer se eleger administrador de hospital), e respondo quase revoltado: me desculpe, senhor Serra, mas eu quero viver em uma cidade bonita.

Vamos mais além. O que representam os passa-rápido e os CEUs como lugares simbólicos (mais do que como obras reais)? Há candidatos que definem os CEUs como "obras faraônicas". Há uma série de problemas nos CEUs - principalmente pedagógicos -, mas este certamente não o é. Que político deste país já investiu R$ 20.000.000,00 de reais em um bairro da periferia para fazer alguma coisa que atendesse, primordialmente, as necessidades da população daquele lugar? Que prefeito desta cidade usou o mapa de exclusão social do Município de São Paulo para definir, de acordo com as áreas de maior pobreza e exclusão social, onde seriam construídas estas escolas?

E os passa-rápido? Há alguns candidatos que teimam em chamar essa nova estrutura de organização do transporte coletivo municipal de "corredores de ônibus". São pessoas que, ou de má fé, ou por ingenuidade, não repararam que eles são substancialmente diferentes dos corredores de ônibus tradicionais, também pelo fato de serem bonitos. Vamos ver o passa-rápido da Rebouças, por exemplo. A Rebouças tinha três - e em alguns trechos quatro - faixas na prática abertas aos carros. Hoje tem apenas duas em toda a sua extensão. Eu passo na Rebouças todos os dias de carro. E o meu depoimento é o seguinte: além de estar mais agradável, passo menos tempo hoje, no trânsito na Rebouças (de carro) do que passava há dois anos. Para quem vai de ônibus, então, nem se fale! Pessoas que demoravam ali cerca de uma hora demoram hoje 30 minutos. Muitas pessoas, aliás, têm deixado seus carros em casa e usado os ônibus por que o transporte coletivo nesta cidade finalmente ganhou prioridade sobre o automóvel particular e o serviço está melhor.

Os ônibus dos passa-rápidos, que o cidadão toma usando o seu bilhete único, têm na placa que mostra o itinerário não apenas avenidas, mas também os CEUs por onde eles passam. Isso é uma mudança magnífica nesta cidade: as escolas (que funcionam também como centros comunitários e culturais e que aquelas pessoas que não entenderam nada chamam de "escolões") se transformaram em pontos de referência importantes para uma imensa parte da população da cidade.

Votarei em Marta não por que ela criou o leva-e-traz, não porque construiu túneis ou construirá CEUs Saúde, mas principalmente porque ela conseguiu dar o ponta-pé inicial para que essa cidade se transforme verdadeiramente em uma cidade mais humana, mais habitável, uma cidade em que queremos morar. Isso se consegue quando a população como um todo se sente valorizada pelo poder público. E é isso o que essa administração municipal conseguiu fazer. Os cidadãos paulistanos hoje vêem a administração municipal funcionando para que as coletividades se desloquem com maior eficiência. Vêem a sua cidade poluída e congestionada ganhar tons de verde inimagináveis há alguns anos. Observam, quando conseguem reparar para fora das janelas de seus carros, pessoas mais satisfeitas nos pontos de ônibus. Enfim... gostam mais, hoje, de morar em São Paulo do que há pouco tempo.

Como disse meu barbeiro outro dia, "se houver justiça, Marta tem que ganhar essas eleições".

Um abraço,

Daniel Vieira Helene
historiador e professor

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