sábado, dezembro 31, 2011

2011 em cinco cenas


Não preciso nem de palavras, preciso? And the Oscar goes to 2011, seu lindo.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

I do!


Há pouco mais de um ano, discorri sobre todo meu horror quanto a ser uma esposaE daí eu casei. De verdade, no cartório, com festa, com vestido branco (na verdade Off White com Pink), com buquê, com votos, lágrimas, dia da noiva e tudo o mais que manda a tradição. Não teve padre e eu entrei ao som de Flaming Lips, mas ainda assim foi um casamento, não resta dúvida.


Durante toda a vida, defendi que apenas o amor bastava para que duas pessoas ficassem juntas e que elas só devem permanecer juntas enquanto estiverem felizes. Se um dia isso acabar, basta cada um seguir seu rumo. Eu ainda acredito nisso tudo. Mas hoje eu acredito também que o mundo mudou pra melhor no que diz respeito a relacionamentos.


As mulheres da geração anterior à minha precisaram brigar muito pelo direito de ser vistas como pessoas inteiras, independente de ter ou não um homem ao seu lado, de poder fazer sexo quando e quanto quisesse, com ou sem compromisso, com ou sem satisfações, de ser reconhecida profissionalmente. Eu não acho que a briga está ganha, a gente ainda precisa muitas vezes lembrar ao mundo que temos valor, sim. Só que hoje a gente não tem mais medo de lembrá-lo disso sempre que precisamos.


E essa geração anterior à minha, além de toda a revolução sensacional que proporcionou a nós, mulheres, criou filhos. Homens bem melhores do que aqueles pelos quais foram criadas e até com os quais se casaram. Eu sou uma fã incondicional dos homens de hoje, acho-os tão fantásticos que sempre me sinto meio esquisita quando vejo as amigas reclamando deles. Tudo bem, eles são meio confusos, meio deslumbrados com o excesso de possibilidades do mundo, meio infantis, mas, ainda assim, são todos tão extremamente cheios de sentimentos, cheios de consideração, respeito e humor! Amigos, companheiros, confidentes, parceiros de verdade.


Para as nossas mães, avós e bisavós, o casamento nem sempre era uma escolha e muitas vezes não tinha final feliz. O divórcio é quase uma novidade para as brasileiras, lembram? E a coragem pra assumir a vida, o trabalho e os filhos sozinha, para quem foi criada para cuidar da família e do lar? Hoje pega até mal quando alguma menina diz que quer “casar bem” pra poder ficar em casa cuidando das crianças. 


A gente vai pra rua cedo, faz a vida, constrói a independência emocional e financeira. Descobrimos que os caras legais existem, aos montes, nos apaixonamos, mas não temos mais nenhuma pressa. Vamos construindo juntos e o casamento é só um jeito delicioso de comemorar isso. Que acontece cada vez mais tarde, quando já temos maturidade e muito mais segurança em nossas certezas. E, ao contrário de antigamente, não é mais obrigação, essa é a beleza da coisa toda. Se não der certo, vocês dois sabem como seguir seus caminhos por conta própria. 


Por isso eu adorei casar. Porque hoje é possível ser “nós” sem precisar jamais abrir mão do “eu”.

terça-feira, dezembro 20, 2011

Incontrolável


Há alguns meses eu venho sentindo uma certa inquietação, que eu não sei bem de onde vem. Um comichão por dentro, me pedindo: “escreve, escreve, escreve”. E eu pergunto: “mas escrever o que?” “Sei lá, só escreve”. Então eu sento pra escrever e você pode ouvir o farfalhar das bolas de feno rolando dentro do meu cérebro. Nem um bilhete. Nem sequer um post pro blog, coitado.

Ando com três diferentes cadernetas na bolsa, todas bem lindas, com papel de gramatura 120. As três contém apenas contas e listas de supermercado. E olha que eu tenho pensado bastante, mas o caminho da ideia pro papel tem parecido mais longo do que de costume, a vida parece andar barulhenta demais e a minha autocrítica mais cricri que mãe judia.

Ainda assim, esse comichão persiste me aborrecendo. Eu o espanto feito uma abelha chata, e tal qual o persistente inseto, ele volta zumbindo cada vez mais alto. E vem de mãos dadas com o outro comichão, que repete “odeio meu trabalho, odeio meu trabalho, odeio meu trabalho”. As vozes na minha cabeça são assim, preguiçosas e metidas a literatas.

E fazem com que eu me ponha a sonhar com uma outra vida, uma vida em que eu conseguiria escrever e me tornar de fato uma escritora, vivendo em um país onde seria possível me sustentar dignamente sendo apenas escritora e calar a boca dessas duas vozinhas extremamente chatas – e da mais chata de todas, aquela que fica repetindo: “mas você nem tentou”.

E não acho que um dia eu vá chegar a tentar realmente. Me parece um pouco absurdo demais sequer imaginar uma coisa dessas. Não tenho essa pretensão, mesmo.

Só que não consigo mais não fazer nada a respeito dessas malditas vozes. Então criei uma pasta super secreta e protegida por senha no computador, onde salvo algumas crônicas bem vergonhosas, as quais nunca mais abro depois de terminar. E ando com uma certa vontadezinha de leve de me matricular em um curso de escrita criativa, desde que ninguém exija ler nada meu em público, desde que eu possa ficar bem quietinha ali no fundo da classe. Não sei se tem algum em SP, isso parece tão coisa de filme de nova iorquinos tentando se encontrar na vida. Será?

Talvez tenha alguma coisa a ver com meu signo saindo de sua fase de eclipses, talvez seja só o peso da idade jogando meus sonhos frustrados em minha cara. Talvez eu deva tentar ser um pouco menos dramática e simplesmente encarar isso como um hobby, como corte e costura ou jardinagem. Que é a única coisa que a escrita pode ser para mim hoje. E tudo bem, não tem problema que ela seja só isso. Ela só precisa ser. 

sexta-feira, setembro 23, 2011

Não aprendi a dizer adeus

Segunda que vem mudo de casa de novo, vou morar com o quase marido, que já vai ser marido com ou sem assinatura de contrato. E é claro que estou felicíssima e cheia de planos e vontades de ficar muito tempo juntinho e passear bastante pelo bairro delícia, e encher os bichos de presentes de cada um dos 700 pet shops da vizinhança, e decorar o ape novo com a nossa cara e tudo o mais.

No entanto, ainda não empacotei uma só caixa. Sou só suspiros a cada vez que saio de casa e penso que vou deixar o meu apartamentinho de bonecas pra trás. E você deve estar pensando: "mas que idiotice, é só um apartamento alugado".

Só que esse cantinho tem um significado muito maior do que um simples teto sobre a minha cabeça. Ele representa o meu grito de independência. Foi nele que eu deixei de ser a filha ou a mulher de alguém e fui apenas eu, com todos os ônus e bônus. Meu canto. Os móveis feios e velhos são meus, eu que providenciei. Os quadros tortos e desparelhados, fui eu que escolhi. A bagunça fui eu quem fiz. Comi só quando tive fome, deixei de dormir mesmo tendo sono e ninguém me deu bronca por nada disso. Só eu.

Foi ali que eu aprendi a ficar só e gostar. Muito. Foi ali que eu aprendi a conversar comigo e a me entender. Que eu achei conforto aprendendo a cozinhar por prazer, e não porque tinha alguém com fome esperando. A cuidar dos bichos e das plantas e de mim. Meu país das maravilhas.

Às vezes eu quase sentia que o apartamento me dava abraços e cafunés. Igual ao hotel de "O Iluminado", só que ao contrário. Toda vez que eu entrava lá era como se ele dissesse "ai que saudades". E eu sentia falta, uma dor física mesmo, quando passava muito tempo longe dele e de tudo que ele representou na minha vida.

Então, ir embora está sendo como terminar um namoro com alguém que vc ainda ama. Você sabe que precisa ir em frente, mas não sabe o que fazer com os caquinhos do seu coração espalhados no chão, te pedindo pra ficar. Mais ou menos como a Mônica e a Rachel se despedindo.

Por melhor que sejam meus dias daqui pra frente, e tenho certeza que de serão, eu vou sempre ficar com o coração quentinho ao me lembrar que foi aqui que eu me reconstruí e finalmente aprendi a ser feliz de novo.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Ain, corror*

Foram anos me preparando para a chegada desse dia, mas ainda assim não foi suficiente. Fiz matrícula e avaliação física na academia. Meu deus, que coisa brutal. Não sei se o pior era a roupa ressaltando tudo aquilo que eu evito olhar no espelho, o tênis com amortecimento que me fazia perder o equilíbrio, o vestiário sem cabines individuais e dezenas de periquitas voando à minha volta ou o instrutor me ordenando "segurar o quanto eu conseguir" nas mais constrangedoras posições. Isso sem falar na música. Aparentemente academias só tem CDs do Black Eyed Peas. Extremamente desgastante. Devo ter emagrecido uns cinco quilos só de constrangimento.

Penso que minha vida seria muito melhor se eu fosse o tipo de pessoa que corre, anda de bicicleta, dança ou ama suas curvas. Mas infelizmente eu não sou dessas. Eu sou daquelas que quer perder peso assistindo Friends.

Enquanto isso na sala de justiça eu fui convidada para o programa de apoio aos fumantes da firma. E aceitei. Isso significa que devo começar a frequentar grupos de apoio e chamar todos os outros fumantes de fedidos e fracos (é sério mesmo, frequentar o grupo de apoio é pré-requisito para ter direito às consultas e eteceteras gratuitos do programa). Me sinto meio Marla Singer. Eu digo: "Olá, meu nome é Suzana, hoje faz 43 horas e sete segundos que não fumo e estou muito feliz". Eu penso: "Olá, meu nome é Suzana e essas foram as piores 43 horas e sete segundo da minha vida, volta pra miiiiim cigarrito, mi amor". E não posso nem comer um bacon pra me consolar, porque senão vou ter de ouvir o instrutor falando sobre minha "circunferência abdominal" no megafone.

Por isso o sumiço do blog. Uma vida saudável é uma vida que não vale a pena ser contada.

*Por favor leiam The Alan Prost, a melhor coisa que apareceu esse ano.

quarta-feira, julho 06, 2011

Era uma vez



Todo mundo tinha certeza que aquela história não ia dar certo. Uma coisa é divertir-se bastante com as idas e vindas, discussões acaloradas e reconciliações meio sem-vergonha. Mas ninguém jamais apostaria uma ficha sequer que duas pessoas tão imaturas e neuróticas pudessem se suportar por mais de seis meses. Começamos com o pé esquerdo, motivados simplesmente pelo fato de que era impossível ficar longe.

Eu não podia nem imaginar qualquer outra coisa, porque não via possibilidade de começar um novo relacionamento enquanto não decidisse se desligava os aparelhos do relacionamento anterior ou se continuava pateticamente tentando reanimá-lo, como vinha fazendo nos últimos dois anos. Depois que eu resolvesse isso, talvez até pudesse começar um novo relacionamento, mas jamais com ele. Porque ele trabalhava demais, ria de menos e não fumava. E porque ele era um canalha sem coração. Era o que todo mundo dizia.

Ele também não podia nem imaginar qualquer coisa comigo, primeiro porque as coisas no trabalho estavam começando a dar certo e ele não queria nenhuma distração. Além disso, ele tinha um pequeno séquito de mulheres apaixonadas para administrar. E não tinha endereço fixo. E eu era porra-louca demais pra ele, bebia demais e fumava demais.

Era dor de cabeça na certa. Inicialmente havia uma vontade irresistível de beijar, abraçar e apertar pelo máximo de tempo disponível. E também de conversar e conversar e conversar ainda mais. E descobrir todas as idiossincrasias. Rir, dividir pastas de música e pedir conselhos. Mas a gente não queria nada sério um com o outro, magina.

Decidi desligar os aparelhos. Ele decidiu que podia trabalhar só no horário comercial. A gente decidiu não esquentar a cabeça com a seriedade daquilo. Eu descobri que o coração do canalha sem coração era mais mole que gelatina e que ele achava um saco aquela fama. Ele descobriu que a bêbada-porra-louca-modernosa gostava de passar o fim de semana cozinhando e assistindo seriados, mas não contava para ninguém.

A gente brigou, deu vexame, abusou dos amigos. Depois a gente ficou de bem, se isolou do mundo e levou bronca dos amigos – que a essa altura já eram amigos de ambos. Fomos aprendendo a ser gente grande juntos.

Hoje faz quatro anos que a gente foi expulso do Viana depois de trocar o nosso primeiro beijo. E quer saber? No fundo a gente sempre soube que ia ficar junto para sempre.

segunda-feira, junho 27, 2011

Feito cão e gato




Se tem uma habilidade que eu definitivamente não tenho é aquele sexto sentido de sacar se uma pessoa presta ou não depois de 2 minutos de conversa. Se a pessoa sabe fazer piadas, não critica o fato de eu gostar de Harry Potter e não usa crocs, pronto, eu gosto dela e a considero apta pra ser minha amiga, contar toda a minha vida e ouvir toda a dela. Todo mundo é meu amigo até que prove que não é assim que a banda toca.

Não é raro eu acabar a história com cara de bolinha, pensando que preciso ser mais cuidadosa e seletiva com quem eu chamo de amigo. Que é preciso tempo pra se conhecer alguém, que é preciso saber se preservar e não sair mostrando todas as cartas do baralho já logo na primeira rodada. Enfim, é preciso ser mais gato e menos cão com quem não se conhece muito bem.

Whisky, o cão, mal chegou em casa e já dormia de conchinha comigo, lambia tudo e todos na maior alegria e vivia de barriga pra cima pra gente coçar. Tinha gente que não gostava e enxotava ele, que ficava profundamente magoado e sem entender por que se recusavam a aceitar todo aquele amor que ele tem pra dar.

Alexandre e Clotilde, os gatos, vieram pra casa já grandinhos e levaram quase seis meses para me dar a honra de deitarem espontâneamente no meu colo. Eram fofos e dóceis, mas não davam muita trela para aquelas três criaturas (eu, o Paulo e o Whisky) que eles mal conheciam. Hoje são umas malas véias, querem colo até quando estamos na privada, mas continuam se escondendo das visitas e fingindo que elas não existem. Eles não desperdiçam nem uma gotinha de amor com quem eles não conhecem e não sabem se irá retribuir.

Apesar da já discutida cara de cu, eu sou igualzinha ao Whisky, sempre bestalhona e querendo fazer amigos. E depois indo pra debaixo da cama chorar quando alguém me mostra os dentes. A diferença é que o Whisky esquece tudo em meia hora, eu não esqueço nunca mais. Fico com mágoa de caboclo eterna de quem não sabe ser amigo. É uma tremenda lambança.

Então, estou sendo muito mais Clotilde. Deixando a confiança chegar aos poucos (se é que chega), segurando a língua para não falar demais. E olha só que surpresa: os poucos relacionamentos que construí nos últimos meses parecem ser de muito maior qualidade. Tenho conseguido separar Amigo de amigo e estes de colega e de conhecido. Tenho me divertido mais e me preocupado menos.

Whisky, Alexandre e Clotilde se odiavam quando se conheceram. Eram tapas, rosnados e miados de ódio o dia inteiro. Tenho quase certeza que, em duas ocasiões, vi os gatos cochichando um plano para destruir aquele peludo nojento, enquanto o Whisky delatava os dois sempre que eles cometiam qualquer delito, como derrubar porta-retratos. Essa noite os três fizeram um bolinho e dormiram juntinhos. De manhã, trocaram lambidas de bom dia, sem distinção de espécie. Por essas e outras é que eu tenho acreditado que o tempo é realmente nosso melhor amigo.

terça-feira, junho 21, 2011

O que importa na vida

Eu: Finalmente achei uma academia boa aqui perto, começo depois do feriado.
Amiga: Boa mesmo? O que tem lá?
Eu: Tem esteiras e bicicletas com televisão!
Amiga: Tá, mas que aulas que tem?
Eu: Ah, sei lá né? Nem sei se tem aulas. Mas sei que dá pra assistir dois Friends e o Vídeo Show na hora do almoço.

Porque a gente tem que focar no que realmente importa nessa vida.

segunda-feira, junho 06, 2011

Po po po poker face

Então é assim. Eu me considero uma pessoa relativamente simpática e educada. Dou uma cota considerável de sorrisinhos por dia e trato bem mesmo quem eu não vou muito com as fuças, porque sei que é o que pede a boa educação. Porém, não sou a mais expansiva das pessoas. Nem a mais ou menos. Não sou nada expansiva, pronto. Sou tímida e reservada. Prefiro ouvir do que falar. Não puxo assunto no elevador, mas respondo se puxarem. Eu nasci assim, eu cresci assim, Gabrieeela.

Mas acontece que eu tenho a maior cara de cu. A maior de todas. Quando não estou me esforçando no modo "interação social", que me faz dar sorrisinhos, a minha cara é de cu, porque eu passo 80% do meu tempo no trabalho, que não é onde eu queria estar. Se eu passasse 80% do meu tempo debaixo das cobertas comendo chocolate e vendo seriados, talvez tivesse uma cara um pouco mais amigável. E quando estou no trabalho, passo algum tempo vadiando em blogs diarinhos e redes sociais, então eu redobro o que eu chamo de "cara de trabalho", que imagino ser uma expressão ubber concentrada: testa franzida, olhos fixos na tela e mãos no queixo. De vez em quando praguejo qualquer coisa para dar mais credibilidade. Assim as pessoas pensam que estou super ocupada numa tarefa difícil e não me aborrecem.

Só que, aparentemente, eles não interpretam isso como "cara de trabalho", mas sim como "cara de psicopata homicida de quem eu não vou me aproximar nem que minha vida dependa disso". Descobri recentemente que um monte de gente no trabalho morre de medo de mim. Fiquei chocada e fui contar pro Paulo. "Mas eu sou tão fofa e besta, por que as pessoas teriam medo de mim?". E ele fez a confissão mais chocante de todas: ele também tinha medo de mim quando éramos só coleguinhas de trabalho.

Um parênteses sobre o Paulo: ele é o melhor namorado do mundo, mas é também o seu pior pesadelo enquanto colega de trabalho. Sabe aqueles pesadelos que vc tem às vezes em que vc está pelado e seu chefe está dizendo que seu trabalho é uma merda? Tirando a nudez, o resto ele faz. É pragmático, direto, patologicamente honesto, mal-humorado e sem papas na lingua. Eu adorava trabalhar com ele porque pensava na fortuna que estava economizando em pós-graduação, mas muita gente tinha pavor. E essa pessoa tinha medo de mim.

Passado o choque inicial de ser percebida de uma forma tão destoante daquilo que eu imagino ser, comecei a me perguntar se isso é realmente tão ruim. Ok, eu não vou ser eleita pra Cipa, nem chamada pras gincanas nas festas de confraternização. As pessoas vão continuar me entregando as coisas em dia e enchendo pouco o meu saco. Ninguém vai se passar além da conta. É estranho (bem estranho), mas acho que me agrada. E daí à noite eu encho a cara com os amigos e imito o dom Lázaro, mas só pra quem realmente merece esse espetáculo.

Acho que pode funcionar muito bem.

quinta-feira, abril 21, 2011

A kiss with a fist is better than none

Eu tinha me esquecido por completo o quão reconfortante é simplesmente ficar largada diante do computador descobrindo músicas. Deixar uma coisa levar à outra, deixar o ouvido decidir se quer aquele carinho, dar uma dançadinha e cantar gritando (desculpem, vizinhos) as músicas aprovadas.

Tem gente que precisa correr, se exercitar, pra ficar bem. Tem gente que precisa meditar. Eu preciso disso. Descobrir novos amores auditivos de vez em quando, pra me lembrar que enquanto existirem ruivas esquisitonas com voz de paraíso, não há tormento que me derrube. Minha mais nova paixão é Florence and the Machine, que ficou famosa por ter conquistado até bebezinhos. Eu, particularmente, a amo por esfregar verdades em minha cara de maneira tão linda.

Gone all the days of begging
The days of theft
No more gasping for a breath
The air has filled me head-to-toe
And I can see the ground far below
I have this breath
And I hold it tight
And I keep it in my chest
With all my might
I pray to God this breath will last
As it pushes past my lips
As I gasp! Breathe!


Sim, eu amo a Florence. Mas esse post devia ter ido por outro caminho, pelo caminho aberto pelo título dele (que é trecho de outra música dela). Perdi a coragem no meio da madrugada. Vamos falar apenas de música e está muito bom.

sábado, abril 09, 2011

quarta-feira, março 30, 2011

Novelão

Minha terapeuta vive constantemente me lembrando que a vida não é feita de extremos. Que entre o "amo" e o "odeio", existe o gosto, o tolero, o convivo, o ignoro... Que eu preciso deixar o termometro mais no morno se quiser viver em paz. Constantemente, porque toda semana eu chego amando ou odiando algo ou alguém. É muito, muito, muito difícil pra mim conviver com o ok. Parece que falta tanto quando algo é apenas na média, como diz o amado Eric (e eu bem sei que quando ele diz que algo foi "na média", foi porque ele detestou).

Eu não sei viver longe dos extremos, eu gosto demais dos extremos. Se é pra amar, é pra amar inteiro, se é pra ser amigo, é ser amigo até quando o outro está bebado, chorando, cuspindo e ameaçando tirar a calcinha na boate, e se é pra odiar, é pra ficar louca de ódio e não medir esforços até acabar com a sua vida e reputação. Eu amo e odeio feito louca, e isso não é bom pra quem convive comigo e muito menos pra mim.

Amor desmedido é um prato cheio pra decepção. A gente espera uma reciprocidade que nem sempre vem, fantasia, fica viciado em tanto sentimento. Não dura, expõe a alma a todos os ferimentos mais feios. Dói além da conta. Ódio demais faz a gente agir feito criança - e ser tratada como tal. A gente age achando que está fazendo a Nazaré Tedesco, mas quando a loucura passa, percebemos que pagamos de Tonho da Lua e todo o povo agora nos olha com pena. Ressaca moral nervosa.

É difícil tentar domar esse cavalo doido, porque eu gosto dele assim, livre. Mas ele vive me derrubando e não é assim que deve ser a nossa convivência. Aprecio demais sentir todas as coisas com tanta intensidade, as boas e as ruins, não quero ser diferente. Não posso.

Me falta talvez a malandragem de prever onde estou me enfiando, para que, a cada vez que a dor e a delícia de ser assim chegarem, eu não me sinta ultrajada, enganada e decepcionada comigo. Para lidar com as consequências. Mas é como ela diz, um passinho de cada vez. Uma hora, quem sabe, eu consigo migrar para o núcleo dos mocinhos centrados, equilibrados e maduros das novelas.

terça-feira, março 29, 2011

Eu tinha uma ideia para este post, mas me perdi

Esta semana eu decidi parar de fumar.

Resolvi colocar desta forma porque é muito mais impactante, mas na verdade eu decidi consultar um médico para avaliar as opções que tenho para me ajudar a parar de fumar. O que não quer dizer absolutamente nada de concreto. Não significa que eu vou mesmo parar, nem mesmo que eu vá continuar com vontade de parar de fumar. Vou só avaliar se o sofrimento vai ser muito ou pouco. Eu já tinha tomado essa decisão desde o começo do ano, na verdade, por um monte de motivos, nenhum deles relacionado a viver mais.

Esta semana teve a boa e velha semana da segurança na firma, quando sempre rolam aquelas palestras manjadas que ensinam que se você quiser viver bastante, não deve fumar, beber, trepar, comer carne ou passar perto de doces. Qualquer uma dessas coisas diminuirá sua expectativa de vida em milhares de anos, destruirá a vida de todos que você ama e provavelmente foi responsável pela extinção dos dinossauros.

A palestra não teve nada a ver com a história de parar de fumar. Na verdade, ela quase me demoveu da ideia, dizendo que não fumantes são tres vezes mais afetados pelo cigarro do que fumantes, e que o cigarro continua fazendo mal ao ex-fumante, mesmo depois de 20 anos sem ele. So, what's the point?

A palestra só me fez pensar na inocência do ser humano em se apegar com tanta força a esse mito de que temos algum controle sobre o viver e o morrer. A gente come verduras, come ração humana, dorme 8 horas religiosamente, faz exercícios, faz sexo seguro, olha para os dois lados antes de atravessar, porque nós precisamos acreditar que quem determina nosso tempo de vida somos nós. Que somos capazes de barganhar com a dona morte. Ou até enganá-la. Que se fizermos tudo certinho, ela vai nos deixar curtir a festa mais um pouco.

Eu não acredito nisso, apesar do José Alencar estar aí me desmentindo. Acho bem mais fácil simplesmente aceitar que ela vem pra todo mundo, e não está nem aí para seus erros ou acertos. Mais cedo ou mais tarde, tanto faz.

Então por que parar de fumar? Por causa dos meus perfumes. Eu tenho uma pequena fortuna em perfumes, minha memória que funciona melhor é a olfativa e o cigarro está se metendo neste delicado relacionamento. Ninguém nunca vai me chamar de linga, ou magrela, ou gostosa, ou genial. Então que pelo menos me chamem de cheirosa.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Pelo direito de ser esquisitinha

Hoje fui almoçar com meu livro. Passei a manhã com cara de poucos amigos e desviando dos planos de almoço dos colegas, porque estava ansiosa para ficar a sós com as 784 páginas do dito cujo. Tocou a sirene da paulista anunciando a hora do bóia e eu continuei sentadinha em minha cadeira, esperando o frenesi dos esfomeados desocuparem os elevadores.

Quando sentei na minha mesinha perto da janela do Franz Café da Fnac e abri meu livro, quase chorei de felicidade. Tudo que eu queria era aquela uma hora e meia de entretenimento puro e compromisso exclusivo com a minha pessoa.

Voltei pra labuta muito mais serena. E daí as pessoas começaram a se penalizar por mim e perguntar por que eu não tinha ido encontrá-las ou pedido para elas me esperarem porque MEU DEUS DO CÉU, QUE CRIME É ESSE DE ALMOÇAR SÓ. Olhares de pena, comentários de reprovação.

Me senti o mais esquisito dos seres, e olha que eu nem comentei que na verdade eu QUERIA ficar só. Quando comentei no twitter que não queria me sentir esquisita por isso, me mandaram me mudar pra Islândia.

Talvez eu já tenha mesmo perdido o parâmetro. É realmente tão abominável assim preferir, às vezes, a companhia do meu escritor favorito à de outras pessoas? É mesmo fundamental que eu tenha sempre que confraternizar, falar, ouvir, sorrir, tirar comentários perspicazes da cartola? A única opção pra quem não está a fim de calor humano O TEMPO TODO é se mudar pra um país distante cheio de Bjorks e gelo?

Quanto mais eu penso nisso tudo, mais vontade me dá de ampliar minha biblioteca até o infinito. J.D. Sallinger, te entendo.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

I’m a loser baby and I’m proud of it

Ser loser anda bem na moda. Acho que muito por causa de Glee, mas o movimento começou bem antes, quando concordamos que The Big Bang Theory era realmente engraçado e viciamos na série. Fato é que todo mundo hoje em dia se diz loser, inadequado para a sociedade, desajustado ou incompreendido.

Eu gosto mais dos inadequados para a sociedade do que dos adequados. Mas é facílimo ser um loser do tipo Glee, convenhamos. Popular na impopularidade. Divertido na inadequação ( ou vai dizer que você nunca riu do Bazinga do Sheldon?). Não dói tanto assim, vai. Tem seu charme, é um loser cool. Todo mundo quer ser a Rachel Barry ou o Sheldon.

Mas quem quer ser a Sue Heck? A menina realmente feia, sem charme nenhum, sem talento pra nada, cujo nome ninguém se lembra. E que, ainda assim, é feliz e nem se liga que é loser. Portanto, não consegue ser cínica, amarga ou irônica. É simplesmente uma tonta que você adoraria, se conseguisse notá-la em uma sala com duas pessoas. Ninguém quer ser a Sue Heck.

Porque tudo que ela causa é vergonha e desconforto extremo. Ela é verdadeiramente inadequada para a sociedade. E por isso eu a amo. Cada vez que alguém me chama de Solange ou Silvana eu a amo mais.

Porque ser loser por ter menos de 200 seguidores no twitter é fácil. Difícil é ser a Sue.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Uma carta de aniversário

Hoje é meu aniversário, mas é óbvio que vc sabe disso. Foi nesta data que, há 32 anos, vc ganhou sua primeira cicatriz, aquela grande e feia da minha cesariana. Eu jamais gostei de ter te marcado assim, mas você dizia que gostava dela, porque te fazia lembrar de mim. Quem mais além de uma mãe poderia dizer uma mentira dessas com a cara tão lavada, não é?

Vou confessar que, depois de seis anos sem ouvir o seu "Parabéns, minha caçulinha", sem o beijo babado e o abraço apertado nas primeiras horas da manhã, estou quase me acostumando. Quase aprendi a blindar o coração contra a saudade de você. Quase. Mas hoje, não consegui. Precisei te escrever. Não sei se é porque tenho pensado tanto em ser mãe ou se é porque o aniversário de hoje foi o melhor que eu tive desde que você foi embora, mas o fato é que, no meio de uma reunião chata e interminável, bobeei com a blindagem e a vontade de ter você do meu lado bateu com toda a força que nem mil anos vão apagar.

Eu queria te contar tantas coisas. Saber o que você acha do meu cabelo, da minha casa nova. Ouvir você reclamando do jeito que eu cozinho. Te apresentar o meu namorado, dizer que você estava absolutamente certa quanto ao ex, te aporrinhar fingindo não acreditar em nada só pra deixar você me convencer que ter fé é importante. Fazer cara feia quando vc me mandasse encolher a barriga.

Queria que você visse que vestido mais lindo eu estava usando hoje. Certeza que você ia ressucitar só pra morrer de novo de orgulho. Você, que sempre costurou tão bem e sempre inventou um modelito mais fabuloso que o outro, tão poucas vezes me viu usar algo que não fosse calça jeans e camiseta de banda. Que jamais saía de casa (nem pra ir à padaria) sem um batonzinho, não ia acreditar que eu comprei três cílios postiços. Seu queixo ia cair de ver o tamanho do meu salto!

Queria que você visse a mulher segura e briguenta que eu me tornei. Que soubesse que estou segurando a onda de verdade, sozinha. Queria poder te dizer para não se preocupar com nada, que eu estou tão, tão feliz. E que eu entendo tudo, todas as suas decisões. Não precisa justificar nada, não. Mas será que você entende as minhas? Será que vc está muito decepcionada por eu ter priorizado os meus sentimentos dessa vez? Só posso supor, e prefiro supor que não. Que vc está revirando os olhos e me dizendo que é tudo uma grande bobagem.

Queria ter ido pra sua casa hoje, em vez da minha, comer aquele bolo de chocolate com cereja e soprar a vela comum, daquelas que a gente usa quando acaba a luz, porque vc nunca jamais na vida se lembrou de comprar velinhas de aniversário. Depois a gente ia fofocar sobre a família inteirinha, um por um até o último parente de quinto grau, depois ia fazer suposições sobre o final de passione (eu acho que foi a Laura), tomar 6 xícaras de café, reclamar da falta de educação das crianças e do preço do cigarro, fazer planos de caminharmos juntas e eu só iria embora perto da meia-noite, no fundo querendo ficar ainda um pouco mais. Você ia me dar beijos, abraços, me abençoar e pedir pra eu ligar quando chegasse em casa. Talvez enfiasse um daqueles seus bilhetinhos melosos na minha bolsa pra eu só achar dois dias depois e me acabar de chorar.

Eu não estou triste. Vou comemorar bastante com uma porção de gente que eu amo eu que vc tbm amava. Recebi um tantão de demonstrações de carinho verdadeiro. Sei que isso também te deixaria feliz. Desculpe desabafar assim. Mas é que eu agora tenho uma cicatriz igualzinha à sua, enorme e feia. Só que a minha não é na barriga, é um pouquinho mais para cima, bem no meio do coração. E às vezes ela ainda dói bem forte.

Um beijo, com todo o meu amor.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Análise subliminar de frases de BBB:

Sou trissexual = sou baranga e pego qquer um que tope me beijar pra provar que posso beijar mooooooooointo mesmo assim.
Sou competitivo = nunca ouvi falar em ética.
Sou muito sincera = Ofendo todo mundo e digo que foi em nome da honestidade, mas faço xixi escondido nas provas em que é proibido fazer xixi.
Sou tímida = Prego o espiritismo no almoço e libero o brioco nas festas depois de duas ice.
Sou pobre = gastei a aposentadoria da minha mãe botando silicone.
Sou seletiva = to esperando um otário rico me pedir em casamento.
Ai gente, o que meu pai vai pensar? = Só ele ainda não sabe...
Sou divertido, bem humorado, de bem com a vida = eu grito bastante
Aprendi com a escola da vida = sou analfabeto funcional
Sou guerreira = passar 18 horas em pé em uma prova de resistência será a coisa mais relevante que farei na vida.
Sou polêmico = vou reclamar do brócoli no almoço
*Ou alguém achou realmente que eu não ia tocar no meu assunto favorito esse ano?

segunda-feira, janeiro 10, 2011

A louca do batão

Às vésperas do meu aniversário sempre me pego pensando em onde eu estava há dez anos em comparação com o agora. Daí eu estava lá pensando nessas coisas todas e baixando as fotos de todas as festas de final de ano e foi então que eu percebi: em todas eu estava de bocão vermelho. Vermelhão mesmo.

Fiquei meio "Q" e corri para o armarinho do banheiro fazer o balanço das maquiagens. Nada menos que SETE vermelhos, de marcas e tonalidades variadas. Tem pra todo gosto: tomate, vinho, cereja, rosado, alaranjado.

E vc deve estar pensando: o que isso tem a ver com aniversário e envelhecer e etc? Tem porque o batão vermelhão é o símbolo da minha balzaquice.

Eu sempre odiei chamar a atenção mais do que tudo na vida. Desde que comecei a usar batom, lá pelos 22 anos, sempre preferi os cor de boca, transparente. E só pra festa. Morria de pavor do que as pessoas podiam pensar, morria de pavor de imaginar que alguém fosse olhar pra mim e me avaliar. Me esconder era confortável, quentinho e natural.

Não houve nenhuma grande revelação, nenhum grande momento de virada em relação a isso. As coisas foram acontecendo beeem aos poucos. Um lentezinha no lugar dos oculos aqui, uma unhinha pintada de vermelho ali, uma melissa azul em vez de preta acolá.

Comprei o primeiro batom vermelho há três anos, olhei no espelho, me senti poderosa por 30 segundos e depois só faltei chorar de vergonha. Usei-o para escrever uma faixa de feliz aniversário para o meu namorado. Quando criei coragem para sair com o bocão na rua, imaginei o mundo inteiro olhando pra mim com lupa e pensando todo o tipo de impropérios. Mas insisti, com as tripas dando nó. A ex-caléga monstra do pântano me chamou de "ousada". Quase fui no banheiro tirar, mas não tirei, senão ela ganhava.

E agora é isso. Sete vermelhões no armarinho do banheiro. Eu quis falar deles porque eles representam a carta de alforria da minha personalidade, que foi proibida de mostrar a cara até os meus 30 anos. E agora, como todo recém-liberto, ela está com uma pressa danada de fazer tudo que tem direito. Só pra explicar esse azul cigarrete nas unhas, o russian red nas beiças e aquelas coisas que acontecem em Vegas e ficam no Vegas mesmo.