sexta-feira, agosto 25, 2006

Lendas da paixão

Daí eu tava lá vendo um filmeco desses no Telecine. O adolescente estava todo fodido porque o irmão tinha se matado e a mãe tinha uma doença horrível e o pai bebia. E na hora do recreio os amiguinhos batiam muito nele. Daí ele estava realmente fodido e tristonho e foi conversar com a irmã descolada e prafrentex sobre a vida, o universo e tudo o mais. Ele ia se formar e não sabia o que seria de seu futuro. Então a irmã prafrentex pergunta: "Você sente paixão por alguma coisa?" Ele pensou e pensou e disse que sim, sentia paixão. Então ela mandou que ele fosse aprender a fazer essa coisa aí pela qual ele sentia paixão e a fizesse pelo resto da vida. Assim, tão simples.

Eu não acabei de ver o filme e não descobri qual era a paixão dele. Fui pensar na vida. Eu tenho algumas paixões, mas estou aqui, me sujeitando ao estupro sistemático do capitalismo. Em vez de me entregar às paixões. Então resolvi seguir o conselho da irmã prafrentex e ir organizar minhas paixões para descobrir um modo de viver delas. Já complicou aí, porque são várias, sou uma mulher muito passional, sabe? Então eu poderia viver de muitas coisas e ser feliz. Televisão, por exemplo. Ou sexo. Ou cinema. Ou livros, ui.

Ok, fiz a lista e vamos para o segundo problema: como ganhar dinheiro com elas? Televisão, cinema e livros podem ficar na mesma categoria, vamos supor. O que é que eu faço com toda essa minha adoração por eles? Porque eu gosto de ver e de ler e só. Eu jamais trabalharia com o povo do cinema, porque não existe povo mais chato que esse. Eu jamais trabalharia na TV porque os horários são horríveis e as pessoas estão sempre sendo demitidas. Eu jamais escreveria livros, porque não tenho competência mesmo - porque se eu tivesse, seria o trabalho dos meus sonhos em todas as encarnações.

A outra alternativa seria escrever sobre essas coisas todas, mas daí eu me tornaria crítica. E eu menti acima, quando falei que o povo do cinema era o mais chato, porque os mais chatos mesmo são os críticos. E se eu ficasse dizendo às pessoas do que elas deviam gostar, eu ia me sentir muito arrogante e não ia ficar feliz. Eu falo sobre televisão, livros e filmes com as pessoas o tempo todo. Outro dia minha amiga da mega corporation me deixou escrever um nigucim pra ela e eu até achei que ficou bonitinho. Mas o desgaste emocional foi imenso, tive úlcera e tudo de pensar nas pessoas lendo todaquela merda. Só saiu quando eu fiz de conta que escrevia pra vocês, com quem já tenho intimidades, mas demorou um tempão pra sair. Mas então, quando as pessoas não gostam de alguma coisa que eu gostei eu fico achando que elas não entenderam ou não tem humor e etc, mas geralmente respeito. A menos que a pessoa não tenha gostado de Brilho Eterno, daí eu me irrito toda e chamo a pessoa de burra na cara dela mesmo. Mas, enfim. Eu não poderia nunca ser crítica, isso não é uma paixão.

Daí sobrou o sexo e enfim uma profissão viável e prontinha, na qual eu já pensei seriamente várias vezes, especialmente depois de saber quanto essas moças que ficaram famosas ganham. Os olhinhos brilham só de pensar. Só que também não daria certo pra mim. Embora eu acredite no sexo just for fun e ache tudo muito ótimo, tenho meus mimimis. E acabaria sendo uma prostituta muito seletiva que ia morrer de fome porque fica escolhendo os clientes. E se é pra morrer de fome, fico onde estou mesmo, que pelo menos não preciso trocar os lençóis.

Donde concluo que a irmã prafrentex era uma idiota e não sabia nada da vida e das paixões e o irmão emo deve ter se fodido ainda mais por seguir os conselhos dela. E eu vou continuar deixando o capitalismo me estuprar. E até vou passar água de colônia pra ficar bem cheirosinha pra ele, porque paixão não enche barriga.

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