Fazia tempo que eu não lia o blog dela (e o de ninguém, porque está tudo tão atribulado). Fiquei pensando nessa coisa toda do luto. Porque eu tinha exatamente os mesmos sonhos que ela descreve lá, e fiquei sonhando assim por um bom tempo, mais de um ano. E sentia e pensava as mesmas coisas. E fiquei meio mística por algum tempo, achando que ela podia estar me dizendo coisas, mesmo não acreditando que pessoas mortas se comuniquem com pessoas vivas. Não tem muita lógica na cabeça de uma pessoa profundamente deprimida.
O fato é que eu também passei a vida inteira acreditando que morreria se minha mãe morresse. Eu abanava esse pensamento, porque doía tantotanto. Daí ela morreu e eu não. E eu fiquei me sentindo extremamente culpada por não ter sequer desmaiado, sequer caído no chão. Eu estava no trabalho quando recebi a notícia. Eu não chorei. Só avisei que precisava ir para casa, que já nem era a minha casa mais (e eu me senti culpada por isso também, porque talvez se eu não tivesse saído de casa ela não tivesse achado que sua missão no mundo tinha acabado e não tivesse morrido). Meu chefe me levou, mas eu não lembro direito do que aconteceu à tarde nem no mês seguinte.
Mas a gente não morre quando perde a pessoa que mais ama, né? Se assim fosse, a humanidade já teria se extinguido. Mas um monte de coisa nossa morre, sim. Ou nasce, eu não sei. Eu tenho rugas hoje que não tinha um mês antes daquele dia. Eu tenho um jeito de olhar que eu nunca tive. Eu tenho mais preguiça das pessoas do que jamais tive. E acontecem coisas estranhas. Tipo sábado, que eu me diverti tantotantotantotanto. Daí cheguei em casa e, na hora de dormir, comecei a me achar um monstro por ter me divertido tão absurdamente. Afinal fazem SÓ dois anos e como eu posso simplesmente esquecer o assunto?
E eu já não tenho mais aqueles sonhos. Raramente sonho com ela. Raramente tenho insônia. Nunca perco a fome. E acho que estou sempre devendo esse sofrimento a ela, que era o mínimo que eu devia fazer - sofrer eternamente, para demonstrar o quanto eu sinto falta dela. Ou pelo menos falar mais sobre isso. Não para vocês, digitais, mas para pessoas de verdade. Eu nunca falo. Me sinto desconfortável com o sofrimento, meu e dos outros. Acabei achando um jeito de processar essas coisas cá comigo, e que funciona. Mas daí, quando eu leio ou ouço ou assisto esses sentimentos todos tão em comum com os meus, fico verborrágica. Não sei se é bom ou ruim, dividir essas coisas, porque tem horas que a gente QUER ser única e mais atormentada que os outros. Mas hoje eu acho que falar pode ser bom, nem que seja para eu ver or progressos que fiz de lá para cá.
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