quarta-feira, janeiro 09, 2008

Décima linha

Livros são como relacionamentos: vc sabe se vale a pena até a décima linha. Os livros que me fazem suspirar até hoje começaram com um "Uau", lá pela décima linha mesmo. Geralmente terminaram em lágrimas. Mudaram meu jeito de enxergar a vida, o universo e tudo o mais.

Na página 64 de "Tudo se ilumina", eu perdi o sono. Li e reli oito vezes, enxuguei as lágrimas, assoei o nariz e fui pro Google procurar o email de Jonathan Safran Foer. Eu precisava pedir a ele que parasse de me judiar e expor minha alma assim, e perguntar como ele podia saber disso tudo:

"Acordava toda manhã com o desejo de agir corretamente, de ser uma pessoa boa e significativa, de ser, por mais simples que isso pudesse parecer e impossível que fosse na realidade, feliz. E ao longo de cada dia o seu coração afundava, do peito para o estômago. No começo da tarde ele tinha a sensação de que nada estava certo e sentia o desejo de ficar sozinho. A noite, ele se realizava: sozinho, na magnitude de seu pesar, sozinho com sua culpa difusa, sozinho até na sua solidão. Não estou triste, repetia ele sem parar, Não estou triste. Como se um dia pudesse se convencer disso. Ou se se enganar. Ou convencer os outros - a única coisa pior do que ficar triste é deixar os outros saberem que você está triste."

Foi a primeira vez na minha vida que rabisquei um livro. Sublinhei esse trecho (mas bem de levinho, de lápis) e nunca mais parei de pensar nele. Ainda não sei como tudo vai se iluminar, pois ainda falta muito pro fim. Não quero que termine, porque não quero parar de ser desvendada e de sentir essa tristeza tão imensa e tão de verdade que ele me faz sentir.

Não é a tristeza de uma grande tragédia, nem de um romance irremediavelmente perdido, nem da morte. É a tristeza de todo dia, aquela que acumula dentro da gente que nem poeira nos cantinhos. Aquela que nos deixa com as "botas pesadíssimas". Aquela que você acha que só você sente, mas que na verdade é banalíssima.

Não achei o email dele. Mas se tivesse achado, a única coisa que teria dito seria "obrigada". Vou ali me deliciar com a tristeza e volto já.

4 comentários:

Joana disse...

Lê o extremamente alto e incrivelmente perto (ou é o contrário, não me lembro...) também me fez suspirar e perder noites de sono...
Vi o filme deste, ainda não li, estava curiosa, agora estou mais ainda!
beijos, bom 2008

Felipe Lobo disse...

As tristezas do dia-a-dia são as piores do mundo. São essas que nos destroem aos pouquinhos, enquanto vemos séries e filmes bonitinhos e achamos que a vida ainda está boa. E eu tento ávidamente acreditar nisso.

Anônimo disse...

Pois é. Quando acabei de ler A Vida Como Ela É tentei adicionar o Nelson Rodrigues no orkut, mas não achei. Acho que ele não deve ter entendido muito bem a mecânica dos scraps e acabou saindo.

Anônimo disse...

Agora sim o endereço do meu novo blog: http://www.banhodesaponaceo.blogspot.com/