Duas coisas que tem muito em comum. Amores e dentes. Parece loucura, mas faz todo o sentido. Quer ver? Tem gente que só cuida daqueles seis dentões da frente, que aparecem quando você sorri. E só da parte da frente. Um dia o dentista pega o espelhinho e mostra que lá atrás está tudo podre, tudo coberto de placa e manchado, bem nojento. No amor a mesma coisa. Pra muita gente, só importa o que aparece. Enquanto ninguém perceber a placa e as manchas, tudo bem, mesmo que VOCÊ se incomode quando olha pra elas. É mais fácil não olhar.
Daí você resolve que não vai olhar mais, então. Porque é feio e nojento e você sabe o que aquilo significa: dor. Na cadeira do dentista ou no coração partido, no caso do amor. O tempo passa e passa e a nojeira lá escondida até de você mesmo. Daí você sente aquela pontadinha e SABE: fodeu. Mas pontadinhas vêm e vão. Não são insuportáveis, não são urgentes e não aparecem. Um remedinho (Spidufen para dentes, Prozac e alcool para amor) e ela vai embora. Reaparece vez por outra, outro remedinho.
Esse ciclo de dor-remédio-dor-varrer pra baixo do tapete-dor pode durar anos, até que você é obrigada a fazer alguma coisa. O dente quebrou, você se apaixonou por outro. Mil variáveis aí no meio. O problema é que quando você só faz uma coisa porque é obrigado a fazer, é porque já não tem muito o que salvar. Você vai botar um jaquetão no dente e passar o resto da vida com medo dele cair ou então vai ter um baú de remorsos por ter traído alguém que já foi muito importante para você, um dia.
Eu estou no meio de um tratamento dentário, que eu só comecei a fazer porque um dia acordei achando que estava tendo um aneurisma, de tanta dor de cabeça. Não, era o canal que tinha finalmente acordado. Ele estava me avisando há uns 3 anos, pontadinhas esparças. E a minha fobia de dentista dizendo "não é nada, dá pra aguentar mais um pouco". Agora vai doer mais, vai demorar mais, vai ser muito mais caro e traumático. E eu sabia o tempo todo que isso ia acontecer, mas fiquei acreditando na força do pensamento positivo, só porque tenho paúra de motorzinho.
E no meio de uma consulta, entre um "ai" e outro, comecei a pensar no quanto a minha vida amorosa se parecia com aquilo. A diferença é que, na vida amorosa, não tem anestesia, não tem levantar o dedinho para dizer que está doendo e não se ganha escovas de dentes grátis. Quando estraga, só tem um tratamento: arrancar. E sem ponto.
Portanto, assim como nos dentes, o que vale mesmo é a prevenção: ficar de olho, prestar atenção, consultas periódicas ao especialista e tratamento pesado ao menor sinal de pontadinha. A menos que seja um dente do siso, daqueles que não servem para nada.
Agora bochecha e cospe.
5 comentários:
No caso do dente, tb demorei anos com paúra do motorzinho do dentista, e deu canal. Doeu mas foi suportável, compensa cuidar pq a dor é d+.
Em relação ao amor é difícil mesmo, mas se formos enrolando uma hora não tem mais jeito não, nem tratamento salva.
Bjão *)
e tem dado resultado o tratamento?
O dos dentes? Tá ótimo!
ótima metáfora, didática até.
vc eh um talento
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