sexta-feira, maio 30, 2003

Cartilha básica de sobrevivência na selva, capítulo 1:

Trabalho na Paulista, avenida que eu adoro, acho linda e o escambau. Mas, quem já esteve aqui, sabe o quanto pode ser difícil caminhar na Paulista. A regra número 1 para se chegar de um ponto ao outro é não ter pressa. Quanto mais pressa você tiver, mais pessoas vão atravancar seu caminho. Não me pergunte por que, mas isso é um fato.
Além disso, a Paulista é o local onde mais existem pessoas disposta a falar com você por qualquer motivo, te entregar papéis, te apresentar uma nova religião, etc. Como já passo por aqui há muitos anos, desenvolvi algumas técnicas para me desvencilhar delas. Geralmente dão certo. A primeira regra básica, a regra de ouro, é nunca, JAMAIS, cruzar seu olhar com o deles. O olho no olho é a resposta positiva que eles precisam para se aproximar de você e se acharem íntimos. Caso isso aconteça, utilize algumas respostas padrão, de acordo com quem aborda:
Militantes de igrejas que convidam para ir ao culto
Resposta: "Obrigada, sou espírita" (Também vale substituir espírita por judeu ou macumbeiro). Como 90% das pessoas tende a se apegar a estereótipos, sempre funciona. Geralmente eles me olham de maneira gélida e vão embora. Pode ser que vez ou outra um deles se empolgue e te chame de filho do capeta, mas é mais difícil;
Trupes de teatro:
Pergunta:
- Oi, você gosta de teatro? (com um sorriso simpático, forçado e excessivamente empolgado)
Resposta:
- Não, na verdade eu odeio. Acho o teatro a expressão de arte mais desprezível que há e gostaria que todos os teatros e trupes de teatro simplesmente explodissem. Mas por que a pergunta? Você é militante de algum grupo terrorista anti-teatro? Se for, quero me inscrever.
Contra-resposta:
- Hã... Por nada. Tchau, hein.
Continue berrando enquanto ele se afasta correndo:
- Ei, peraí, quero me inscrever, pô!;
HAre-Krishna:
Esse é o grupo mais difícil de se livrar pois eles aceitam tudo e perdoam tudo. Se você der trela, ficam horas falando com você e te convencendo a comprar incensos fedorentos. Quando se der conta, vc já estará vestindo uma túnica laranja e terá apenas um rabinho de cavalo na cabeça. Até hoje, a única técnica que funcionou foi me fingir de louca:
Hare-hare:
- Oi, posso falar com vc um minutinho?
- Não, é que eu estou atrasada e...
- Não, mas é rapidinho, olha só: nós fazemos um trabalho incrível super transcendental junto às comunidades espirituais do alto vale da serra onde produzimos nosso próprio alimento, comida, roupa, casas e não ligamos para bens materiais mas precisamos de uma pequena contribuição para imprimir nossos folhetos, uma contribuição de coração, por um real vc nos ajuda e leva esse delicioso incenso. (Tudo sem pausa para respirar)
- Eu sou alérgica
- Então leva esse chaveirinho
- Eu sou alérgica (vá fazendo um olhar de peixe morto, vidrado em algum ponto distante)
- Tudo bem, então vou te dar nosso folheto e...
- Eu sou ALÉRGICAAAAAAAA. Comece a gritar repetindo muitas vezes a mesma palavra: ALÉRGICA, ALÉRGICA, ALÉRGICA.
Aproveite a estupefação deles para sair correndo.
Trombadinhas de dois metros de altura no ponto de ônibus:
- Mina, me dá esse passe
- Tó.
E corra.

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