quinta-feira, novembro 17, 2005

O caso dos dez negrinhos

Voltei da terra onde é proibido salivar no ônibus, mas há espaço para fumadores em TODOS os lugares. E já peço perdão pela verborragia e deslumbramento, mas foi minha primeira viagem
internacional e foi tão linda que eu não consigo ser blasé diante disso (na verdade eu já tinha ido pro Paraguai, mas não conta porque eu tinha 11 anos e fui de ônibus e não vi nada de típico, só muambas e mais muambas). Dividi em três partes, para não assustar tanto...

Bom, BsAs é legal bra-ga-rai, a viagem foi divertidíssima e que meu coração está doendo por ter vindo embora. Apesar do começo confuso e dramático, tudo transcorreu às mil maravilhas.
Cheguei lá na sexta de noitão e vi pouca coisa, mas já achei tudo lindo no caminho do aeroporto ao hostel. Totalmente turistinha, só faltou a camisa florida.
Sábado, conheci o centro e Puerto Madero, tirei foto até das pichações na rua e caminhei até ficar com as pernas bambas. Aproveito para agradecer, em nome de todos os fumantes e de
todas as mulheres fãs de salto alto, à geografia da cidade. Em quatro dias, só subi duas ladeiras (leves), o que torna qualquer caminhada muito agradável. O centro é muito bonito, cheio dos prédios de arquitetura antiga e algumas coisas meio rococó demais. É como se o bairro todo fosse uma Avenida São Luís sem fim. Nos muros, no chão, nos portões (nos monumentos, não) muitas pichações, quase todas políticas. Lencinhos das mães da praça de maio, "fora Bush" e mais uma infinidade de protestos são os temas. Adorei o ativismo deles, qualquer coisinha os caras saem na rua pra reclamar. Eu vi duas manifestações (e até
participei de uma delas, maior emoção!). No centro fica também o Café Tortoni, liiiindo, tem shows de jazz e de tango e é considerado patrimônio cultural da cidade. Eu, enquanto pessoa
velha, adorei demais. Até o garçom lerdo e simpático e as estátuas mórbidas de Borges e Gardel eu adorei. Do centro fomos para Puerto Madero, um bairro meio novo-rico, esquisitinho. É bonito, mas meio sem-graça. Mas foi lá que tomei sorvete no Freddo e tive orgasmos múltiplos por isso. Almoçamos num restaurante que cria suas próprias vacas, e a carne das referidas vacas é realmente ducaralho. Dá vontade de comer uma vaca inteira e o
preço dá vontade de devolver a vaca.
No domingo, Recoleta e San Telmo. O primeiro é chique no úrtimo, os prédios mais lindos, as flores mais perfumadas, as lojas mais finas (e inacessíveis), o cemitério da Evita, uma praça linda de chorar, a embaixada do Brasil e carpetes nas calçadas. Parece até Paris. Mas do que eu gostei mesmo foi da feira de artesanato em frente ao cemitério, onde comi o maior sanduíche de copa de toda minha vida. Depois, claro, almocei. E daí San Telmo. Imagine um
lugar delicioso, de onde vc não tem vontade de ir embora, ruas de paralelepípedo, artistas de rua, todo tipo de coisas à venda, botecos, cores e amendoins grátis. O bairro é isso.
Lindo, gostoso, alegre. Me apaixonei loucamente.
Segunda foi o dia mais besta. Fizemos um passeio caro e sem graça até Tigre, onde íamos pegar o barco até o Delta de não sei o que, mas depois que chegamos lá, descobrimos que o
rio fedia demais e o passeio de barco era mais caro do que queríamos gastar por um passeio de barco num rio fétido. Então tomamos um café em Tigre e pegamos o trem de volta, meio
frustrados. Passamos a tarde na calle Florida, vendo vitrines, comprando livros e descobrindo que a livraria O Ateneu nada tem a ver com a foto do guia de viagem. O grande evento do dia foram os alfajores de sonho do Café Havanna. Comprei 4 caixas e um pote de doce de leite. Goooooorda. Nham.
Terça foi "o" dia. Uma menina ótima do hostel nos levou ao Caminito, no Boca. Foi uma delícia, porque ela foi explicando toooooda a história do bairro, das casas coloridas, do
nome, do tango, dos italianos, dos cortiços e da febre amarela. Dizem que o Boca é o bairro mais perigoso de lá, mas eu gostei tanto quanto de San Telmo. Não que os bairros chiques não
sejam bonitos - eles são muito lindos, pra valer. Mas esses dois me pareceram mais vivos, mais "roots". Ou é só a minha alma de proletária mesmo.
E de tarde visitamos a Bombonera, bem emocionante. O estádio nem é lá essas coisas, parece mesmo uma imensa caixa de bombons e eu imagino que ficar lá nas arquibancadas mais altas -
muito, muito altas - deve dar um medão da porra, e é pequeno. Mas é muito bacana passear por ali e até mesmo assistir o vídeo cafonão no cineminha 180º do museu. Até pagar pau pra
cadeira vitalícia do Maradona eu paguei. Fora que é sempre bom poder gritar "pentacampeão" no meio do estádio deles! No mais, passei carão quando o dançarino de tango me tirou pra dançar e eu travei na cadeira e não levantava e nem falava e nem olhava pra cima, tipo uma retardada, de tanta vergonha. A argentina-guia ficou besta com a timidez dos brasileiros, pois estava crente que a gente ia rasgar as roupas e subir na mesa. Tsc, tsc, tsc.
Outras coisas que eu achei geniais foram os kioscos e os locutórios espalhados pela cidade inteira. Kioscos são portinhas que vendem cigarro, água e guloseimas. Muitos funcionam 24 horas e são a salvação da lavoura nos momentos de fome e sede fora de hora. Locutórios são como lan houses, mas também tem telefones e tanto a internet quanto as ligações internacionais são ridiculamente baratas. O transporte na cidade também é quase gratuito - ônibus e metrô custam centavos e a corrida mais cara de taxi que paguei foi 7 pesos. E pra não dizer que estou deslumbrada, um problema: o cheiro de mijo está em toda a parte e 88,2% dos argentinos usam mulets.

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