sexta-feira, janeiro 20, 2006

Ciclope


Ontem fiquei sem carona pra voltar pra casa do trampo e peguei o metrô - às seis e meia da tarde e com aquela puta chuva animal, tinha gente saindo até pelo teto. Mas tudo bem, eu já estou acostumada a me sentir uma fatia de mortadela no transporte público, só queria achar um canto um pouco mais respirável para ler a entrevista do Jack Johnson que saiu na Bizz. Encostei ali num cantinho e quando abri a revista, meu olho coçou. Futuquei o olho e, quando tirei o dedo, vi que estava caolha. A lente direita saltou feito uma pulga. Nunca tinha me acontecido isso antes e resolve acontecer bem dentro do metrô crowdeado. Fiquei lá segurando a lente discretamente entre o polegar e o dedão e olhando, com o olho bom, em volta por bem uns 5 minutos (ah, é, o metrô parou no tunel por um tempão), pra ver se tinha alguém me encarando. Quando eu achei que ninguém estava me encarando, rapidamente coloquei a lente na língua - e antes que alguém de visão 20/20 vomite, foi exatamente isso que meu oftalmologista me mandou fazer em caso de uma emergência como essa. Mas daí um novo problema: não engolir a bichinha. Quando pensei nisso, meu lábio imediatamente começou a ressecar e comecei a juntar baba na boca, foi exatamente como quando vc vai tirar raio-x e o cara manda não se mexer. Sair da estação de metrô também não foi exatamente fácil, pois a minha perspectiva, enquanto caolha, estava bem prejudicada. Mas cheguei no terminal de ônibus. Aquela fila do tamanho do universo pra entrar na van (porque ônibus de verdade, nem sinal). Daí eu resolvi que eu merecia, que eu me permitiria o luxo de tomar um taxi. Logicamente, já que desgraça pouca é bobagem, não tinha nenhum tàxi parado no ponto. E eu lá, com aquele bico imenso (necessário para que eu não engolisse a lente), olhando de lado com o olho bom e esperando a caralha do táxi por uns 15 minutos. O ônibus saiu primeiro, mas tinha gente saindo pela janela, então eu nem me importei. Finalmente encostou um carro - e pra explicar pro motorista pra onde eu ia com a lente na ponta da língua? Porque eu fiquei com vergonha de tirar ela de lá na frente dele, né? Ele entendeu minha explicação, mas ficava TODA HORA perguntando se eu preferia ir por esse ou por aquele caminho, se virava aqui ou ali. Eu, já CHEIA de baba na boca, era obrigada a responder "ieita" ou "eiqueia", e ele, claro, teve certeza de que eu tinha algum problema psicomotor, já que falava assim e babava, porque parou de me perguntar coisas. Me senti tanto o Kramer.
Mas pelo menos a lente não foi prejudicada pelo trajeto insólito e já está devidamente acoplada em minha córnea. Ufs.

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