sábado, setembro 22, 2007

Guarda-roupa de firma

Outro dia a Isa fez um post muito legal sobre o casual friday, esse fenômeno do mundo corporativo. A verdade é que o mundo corporativo é um universo paralelo para nós, mortais que não sabem fazer contas nem se expressar em apresentações do power point. Eu já borboleteio por ele há algum tempo e ainda não me acostumei com tudo. O lance das roupas é só o topo do iceberg.
Porque eu jamais botei reparo nas pessoas de terno. Tem um episódio do Scrubs em que o JD fala que simplesmente não enxerga as mulheres de aliança. Daí ele grita pra todas elas tirarem a aliança e - plop - um milhão de mulheres aparece. É mais ou menos assim comigo e as pessoas de terno. Eu não as vejo. Porque eu sou preconceituosa e avalio as pessoas pela roupa. É vergonhoso, mas é fato, é o que eu faço. Pelo menos a primeira análise. Da roupa, eu calculo o que a pessoa ouve, assiste, lê, pensa. Erro vergonhosamente em 80% dos casos, mas é uma atividade divertida tirar conclusões precipitadas e pensar a respeito do gosto dos outros. E com as pessoas de terno isso não é possível. Porque o terno não diz nada, diz? É um uniforme, uma roupa completamente inadequada para o nosso clima, que só indica que essas pessoas trabalham em algum lugar coxinha.
Mas para fazer parte desse mundinho corporativo, lá fui eu me munir de terninhos. Embora as mulheres ainda possam ousar mais nesse terreno - dá pra escolher estampas, cortes, camisas, sapatos e acessórios que tenham mais a ver com a sua personalidade e não te deixem tão pasteurizada - eu também me sinto uniformizada e desprovida da minha identidade. Como eu tenho de andar de mochila, não dá nem pra bolar um visual mais abusado jogando a responsabilidade na bolsa. Isso me deixou tão deprimida que preguei um bottom de uma pinup pelada na mochila. O cliente me olhou estranho e eu fiz cara de nem te ligo.
Todo esse rodeio, na verdade, foi pra dizer o quão idiota é ficar avaliando as pessoas pela roupa que elas usam, seja porque são obrigadas ou porque gostam. Entre os meus pares engravatados, há fãs de Clash, leitores de Pedro Juan Gutierrez, admiradores de David Lynch, guitarristas, baixistas, DJs, fechadores de bar, mochileiros, paraquedistas, gourmets, piadistas... Enfim. Um monte de gente absurdamente legal e de bom gosto, seja de terno ou de roupa de missa. E apesar de ser bem legal ficar classificando as pessoas em caixinhas antes mesmo de conhecê-las, surpreender-me com o que a minha intolerância me impede de imaginar tem sido bem mais interessante.

7 comentários:

A Jana e o Ti disse...

"..surpreender-me com o que a minha intolerância me impede de imaginar tem sido bem mais interessante."
Brilhante conclusão a que vc chegou. Que bom! Aproveite-a!
Bjos.

Anônimo disse...

George Michel diria "sometimes the clothes do not make the man", hahahahaha...

Renata disse...

ahhh, tb sempre julgo as pessoas pelas roupas... sempre fico "nossa, que roupa sem graça, essa pessoa deve ser sem graça..."

neutron disse...

Eu não me vendi ao capitalismo. Venho trabalhar de calça jeans + camiseta + all star. [pode me analisar agora. heh]

Sobre o pai ipod, após inúmeros problemas com o mp4 [não pergunte, ainda nem superei bem e tals], hoje eu testei. E o dia começou com musiquinha de elevador, tocando Enya. Só que, quando a música não é nossa, também vale? Enfins. Eu fiquei prestando atenção na letra. E até agora bateu tudo. Mas o dia tá no começo, né? Depois eu volto pra dar meu depoimento definitivo.

Beijo.

anyone but me disse...

ai su, que sorte a sua!
as minhas suspeitas de julgar pela aparência só têm se confirmado. ugh.

Olheiro da Desgraça disse...

Vc lembra quando eu trabalhava no banco e chegava na faculdade de camisa e calça social? Pois, é. Foi um período bem triste da minha vida. Odiava aquela roupa e o mundo corporativo dava vontade de cometer suicídio. Hoje, felizmente, posso trampar com minha calça surrada, cabelo despenteado e camiseta do Clash. Ou seja, no caso do jornal, dá sim pra julgar as pessoas pela roupa. Porque tem almofadinha que não precisa, mas vem de roupinha social.

Felipe Lobo disse...

É, eu julgo pela aparência tb. E tb acerto, normalmente (talvez por não ter a restrição do terno?)