domingo, novembro 18, 2007

Das coisas que dão errado

Existem as coisas que dão certo. Muito certo. Tão certo que ficam chatas. A gente já sabe tudo o que vai acontecer e sabe que nunca mais vai se surpreender. Isso não é de todo ruim, já que a vida está abarrotada de más surpresas. Mas existem pessoas que são dependentes daquela sensação de incerteza, do frio na barriga, da montanha-russa. Até conseguem abrir mão dessas coisas por algum tempo, em prol de uma conquista maior, por acreditar que aquilo que elas têm vale mais do que essas sensações efêmeras. De fato, vale. Sempre vale. Mas o alcoólatra também sabe que as coisas que ele conquistou sóbrio valem mais do a delícia de saciar a vontade de beber. E nem por isso ele não bebe. Porque é químico, é maior do que o "eu não quero e pronto". Se fosse fácil assim, ah, se fosse. Metade da poesia do mundo estaria morta, porque as melhores obras nascem do erro. Ninguém escreve letra, livro, filme falando sobre como é legal andar na linha e acertar sempre. ou até escrevem, mas devem ser chatos.

E existem as coisas que dão errado - e que dão origem a essas obras todas que a gente ama tanto que se esgoela de tão boas. As coisas que dão errado são boas porque geram coisas boas. Sejam obras de arte, seja crescimento. Mas o processo de perceber que as SUAS coisas estão dando errado não é nada divertido. Perceber que não vai dar certo por mais que você queira e faça força e pense e se agarre e tentetentetente de todos os jeitos que você conhece é, no mínimo, frustrante.

E dói pra caralho. Porque você acha tão bonito e perfeito, e acha que daria um roteiro de filme de amor daqueles (porque afinal a NOSSA história é sempre a mais bonita do mundo) e, mesmo assim, tem que dizer "não, obrigada". Porque se você disser sim, vai chegar um momento em que não vai saber porque caralhos você disse tanto sim. E vai se odiar por ter dito.

Porque vai ver as coisas com toda a clareza, sem o manto do encantamento e da novidade, e vai perceber que nada era perfeito, nunca foi. Porque não existe perfeição no um + um. Existe o ajuste constante, e isso sim é que é bonito. É querer se ajustar para dar certo, é dar um pouquinho do seu tão sagrado espaço para que alguém se instale. A receita de bolo não tem nada de bonita e inspiradora. Ela é só banal.

Eu me cansei de dizer sim e de calar. E foi bom, porque eu descobri que eu valorizo minhas convicções muito mais do que eu achava que era capaz. E descobri que eu posso demorar um pouco pra perceber que eu devo dizer "não, obrigada". Mas quando eu consigo dizer, é porque é de verdade. É porque acabou. E isso me deixa cheia de orgulho. Queria ter alguém pra quem contar essas coisas todas. Mas me dá preguiça de explicar tudo, sabe? Desde o começo.
Bonito e triste, orgulho e frustração. Acho que pode dar samba. Ou não. Está tarde e eu vou dormir.

8 comentários:

Anônimo disse...

Susana, p*rra! Vai escrever bem assim lá no inferno! Vc. escreveu a minha história. Por mim. Obrigada. Tudo que eu sinto e não sei dizer tá aí, explicadinho.
Bjs.

Felipe Lobo disse...

Duas coisas:
1. entendo vc. Mesmo. Pra caralho. Pq a única coisa que eu adoro e que fez tudo valer a pena no inferno que eu vivi foi ter conhecido pessoas como vc lá. Me senti um lixo, fui mega-desvalorizado e quando chutei o pau da barraca, consegui resgatar um pouco da minha dignidade, embora tenha perdido mil outras coisas. Dane-se. O importante é que eu ainda sou eu. Fudido e mal pago, sem um carreira como eu sonhei, mas e daí? Ainda sou eu.

2. Me sinto um idiota por me deixar levar por vícios, emoções, prazeres efêmeros e tudo que faz bem - ou mal, mas eu acho que faz bem -, enfim... Vc descreve tudo com tamanha precisão que me assusta. Acho que eu não tenho alma: deve ser uma cópia da sua. Caralho, que foda isso. Casa comigo? hehe

Precisamos conversar. Precisamos MUITO!

Alexal disse...

vc eh a unica blogueira do mundo que me faz ler textos grandes. Isso eh um elogio.

Sonia Sant'Anna disse...

Vim parar aqui por acaso. Li o post atual e alguns anteriores. Gostei, peço licença pra voltar.

Anônimo disse...

Nem tenho nada pra comentar sobre o assunto em si. Só pra dizer que este texto ta do caralho, um dos melhores que eu já li aqui (se não *O* melhor)

Juliana disse...

Simplesmente vc disse tudo! Amei! Temos mesmo que saber dizer não, mesmo que demore um pouco, a recompensa gratifica muito. Bjo ;)

Anônimo disse...

Tantas vezes me cansei tb de dizer sim... hj em dia exercito mais o não. Me sinto melhor comigo mesma assim. Beijo

Anônimo disse...

Obrigada, gentes! Muito mesmo. Não vou ser mentirosa de dizer que não gosto de elogios, porque adoro muito e me fazem bem. Ainda mais numa fase como essa em que fico me sentindo incompetente e burra e estúpida durante 23 horas do dia. Não que esse texto faça de mim menos incompetente, mas vcs se darem ao trabalho de dizer que gostaram faz eu me sentir um pouco menos besta.
E, sério. Eu não achava que tanta gente sofresse por suas decisões erradas. Que coisa!