sexta-feira, janeiro 19, 2001

Jornalista é mesmo uma raça MUITO estranha, que às vezes me enoja. Todo dia me pergunto se devo sentir orgulho de dizer que essa é a minha profissão. Percebo que ninguém mais é o Zé, a Ana, a Maria. Amigo de jornalista é sempre a Filomena das Candongas ou o José das Couves. Sempre tem que ter nome e sobrenome. coisa mais ridícula e americanóide e irritante. Já achava ridículo chamar só pelo sobrenome, imagine os dois. Chamar alguém só pelo sobrenome só é legal nas crônicas do Nelson Rodrigues, que sempre tem um "Almeida" ou um " Peixoto". É engraçado e suburbano. Se bem que na firma da Cleide isso também é engraçado. Mas é porque fica muito coisa da Neide e aí é legal. Mas imagine a seguinte frase, na seguinte situação:
Vernissage do novo livro de Fernanda Young, uma talentosíssima escritora em acenção (acho que tá escrito errado mas foda-se), que abusa de recursos subjetivos, sexo velado e uma certa violência poética. A jornalista Dorotéia Santana (o nome é fictício. todos os nomes são) encontra o designer Lúcio Costa. Dorotéia veste um quimono de seda, básico, e Lúcio calça de tecido com fibras de hemp laranja e uma camiseta amarelo-ovo, com apliques em plástico. Fora os óculos de lentes vermelhas, super -in, e as chinelas havaianas.
"Menino, não aguento mais aquele esquema insano da Folha. Ontem ficamos até 2h00 da manhã no fechamento e depois fomos comer uns crepes no Spot. Sabe como é o spot, está sempre cheio de gente famosa, que eu detesto, mas a comida é boa..."
"Entendo perfeitamente. eu não frequento muito o Spot, muito quadradinho pra mim, sabe, mas meu amigo Tuca Zazauera, da Veja, simplesmente A-MA!!!"
"Ah, eu vi o Tuca lá outro dia, quando saí de uma seção no Unibanco. Falando nisso vc já viu aquele filme do Cazaquistão, "Ervas e Sentidos"? Achei maravilhoso, fala sobre uma velha que sente dor e compaixão pela humanidade. Foram as melhores 3 horas e meia da minha vida".
Ele responde, com lágrimas no olhos:
"Claro que assisti!!! O Zukstradner (o tal diretor do Cazaquistão) é genial. Ele capta os recursos subjetivos e fragmentados da alma humana, expondo todas as fraquezas do homem. Sinto uma coisa aqui dentro que não sei se é angústia, amor ou melancolia".
"Vc ia se dar super bem com o Fred Azevedo".
"Desculpa, não lembro dele..."
"Aquele meu amigo da Bravo"
"Ah, claro, o Fred Azevedo, da Bravo"

E assim prossegue a conversa profunda e alternativa dos dois. Chamem a minha visão de preconceituosa, racista, machista, restrita, ignorante, pobre, o que for, mas ainda prefiro mil vezes os Almeidinhas do bom e velho Nelson...

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