Quando criancinha, eu não tinha muitas amigas. Achava todas as meninas umas chatas, chataas, chataaaaaaaaas sem fim. Já no jardim da infância eu só sentava com elas quando a professora mandava. E já naquela época elas queriam discutir a relação por qualquer coisinha. "Mas veja, a sua massinha É mais roxa do que a minha. Então você acha que a gente deve trocar ou simplesmente misturar todas as cores? Me diz, você não fala comigo, eu preciso saber para onde essa atividade está caminhando, entende?" Eu achava um porre essa discussão toda e cresci não vendo muito sentido em tanta falação, pensando se não dava pra elas serem um pouco mais práticas. "Mas meu cabelo não estáaaaaaaaa bom."; "Mas eu ESTOU uma baleia"; "Não tenho roupa". Os meninos, não, com eles era tudo tão mais simples. "Vamos jogar futebol." dizia um. "Hum, prefiro polícia e ladrão", dizia o outro. "Tudo bem". E lá íamos todos, felizes, brincar de polícia e ladrão sem ter de esmiuçar os por quês da divergência. Daí que eu cresci, me enchi de amigas ótimas, mas nunca que essa birra e essa mania de achar que mulher é chata passava. Até o dia em que me surpreendi aos berros com namorado, "mas por que você não fala comiiiiiiigooooooooo, por que você prefere sair com seus amigos do que ir à MINHA reunião de família, por que você não me aaaaaama, por que você não me assume?" e fiquei atônita. Eu tinha me tornado uma delas, estava em plena DR. E nunca mais parei de rir. A verdade é que eu não tinha me tornado nada, eu sempre fui. Porque quando ninguém estava olhando, quando não tinha ninguém com quem brincar de massinha ou polícia e ladrão por perto, eu pegava as Barbies e fazia uns enredos bem sacaninhas, cheios de sexo, discussões e tapas na cara.
Soletre comigo: f-r-a-u-d-e. Eu digo. Eu não estou enganando ninguém.
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