terça-feira, fevereiro 25, 2003

Idéias malucas que chegam durante uma noite insone
Eu simplesmente não suporto mais gente rasa. Não quero mais gente rasa na minha vida, perto de mim, na mesma calçada que eu, na minha agenda telefônica. Gente rasa, gente que só vê a vida por um ângulo estreito, que tem valores trocados, que não tem caráter, ética, educação. Gente rasa não consegue ver nada além da ponta do próprio nariz, nunca tentou olhar para os lados, nem mesmo para a frente. Só para o alto. Gente rasa não sabe que olhar apenas para o alto pode dar torcicolo (além do risco de tomar uma cagada de pomba na testa). Gente rasa arrota acusações sem olhar o próprio rabo, repete frases feitas, encarna estereótipos, desfila mediocridade – sempre com orgulho, arrasando, em uma ignorância sem fim. Gente rasa gosta de criticar a vida alheia por não conseguir ter objetivos para a própria vida. Gente rasa tem estudo, fez cursos, é poliglota, viajou o mundo. E tudo isso não lhe serve para nada, já que essa gente não consegue olhar para dentro de si, talvez com medo do que vai achar lá, talvez porque simplesmente não se importa com o que há lá. Não cresce, não atrai, não apaixona, não produz, não deixa nada, nada, nada para os outros, nem saudades. Gente rasa projeta seus sonhos em dinheiro, em um apartamento montado por decorador, em roupas assinadas. Quer exibir seus dentes de propaganda de creme dental para a “high society” e é tão rasa que acredita que o sorriso que vem em retribuição é sincero. Gente rasa sente pena dos pobres. Sempre separa uma roupinha usada para dar para aquela prima ignorante – coitada, não fez faculdade. Gente rasa sente a alegria de representar Madre Teresa de Calcutá ao dar um dinheirinho pro menino no farol. “Mas para aquele velho eu não dou dinheiro não, tá pensando que eu sou trouxa, vai é beber todo meu dinheiro”, diz a gente rasa. Gente rasa me dá nojo, sua falta de idéias me cansa.
Mas um dia essa gente senta no seu sofá caríssimo, enrolada num robe caríssimo, comendo uma trufa francesa, que vai virar merda do mesmo modo que o pão de ontem que sua recepcionista comeu também vai virar merda, e pensa que, apesar dos anos de terapia – com o melhor terapeuta do país, claro – tem alguma coisa a incomodando ali e ela – a gente rasa - não sabe muito bem o que é. É tudo que ela poderia ter sido e não foi, querendo sair, junto com a trufa francesa.

Um comentário:

Anônimo disse...

há muita gente rasa no mundo.